Por que escola para cientistas no interior de SP vai na contramão do Brasil e forma 9 em cada 10 alunos


Escola de Ciência Ilum, em Campinas (SP), já registrou concorrência maior que do curso de medicina na USP. Graduandos recebem vale-alimentação, transporte e moradia. Na contramão do Brasil, graduação gratuita para cientistas forma 9 em cada 10 alunos
Na contramão do Brasil, que possui uma taxa de desistência acumulada de 59% na graduação, segundo o último Censo da Educação Superior divulgado pelo Inep, o curso de ciência e tecnologia da Escola de Ciência Ilum, em Campinas (SP), forma 9 em cada 10 inscritos.
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🎓 Dos 40 alunos que ingressaram na primeira turma da faculdade, 34 permaneceram durante os três anos de curso e conquistaram o diploma de bacharel em ciência e tecnologia. Outros dois estudantes, que estão atrasados, se formam nos próximos meses – levando à taxa de evasão de 10%.
Para o diretor da escola e o corpo docente, isso se deve a alguns fatores. Em primeiro lugar, às políticas de permanência adotadas pela instituição; à integração feita com o estudantes; e também à grade curricular interdisciplinar que estimula o pensamento crítico.
Aqui a gente tem uma política de permanência. Os alunos aqui têm todas as condições, vale-alimentação, vale-refeição, moradia. Eles recebem um computador. Isso é uma parte socioeconômica. Tem outra parte, que às vezes é desprezada, que é o pertencimento. O aluno, quando ele vai fazer alguma coisa, ele é mais inteligente que a gente. Ele quer ser parte daquele lugar.
Esse pertencimento é trabalhado por meio de professores que permanecem na escola durante todo o dia, em contato direto com os alunos. Além disso, grande parte das atividades propostas no curso são feitas em grupo, incentivando os estudantes a colocarem a “mão na massa”.
“Aqui nós temos atividades de laboratório. Então aquele aluno que pensa em fazer ciência, ou física, biologia, química, etc., ele olha aqui, ele vê o [laboratório de luz síncrotron] Sirius, ele vê a infraestrutura de laboratórios. A aluno, como eu já disse, é mais inteligente que a gente para escolher a profissão”, diz Fazzio.
Estudante no pátio da Escola de Ciência Ilum, em Campinas (SP), para futuros cientistas
Estevão Mamédio/g1
Mentes questionadoras
Idealizado pelo engenheiro e físico Rogério Cerqueira Leite, um dos cientistas mais importantes do país, o curso também difere de outras graduações na área de ciências exatas por frisar a importância de trabalhar, concomitantemente, questões das ciências humanas.
Desde o momento em que se pensou e se começou a elaborar o projeto pedagógico da Ilum, a humanidade faz parte do horizonte de preocupação na formação dos nossos futuros cientistas. Isso é uma proposta que veio do próprio professor Rogério Cerqueira Leite, muito conhecedor e preocupado com essa dinâmica de consolidar cientistas também preocupados e conhecedores da sociedade e as suas problemáticas, que é o que a gente chama de um cientista cidadão.
Na prática, o estudo de humanidades dentro das salas de aula da Ilum ocorre de diversas formas, incluindo até mesmo dança e teatro. “Tudo isso dá um respaldo importante para o aluno, que ele pode ser ele mesmo, ele pode ser diverso, ele pode ser plural”, afirma Minelli.
“Na hora que a gente entra no tema, por exemplo, da crise climática, que é uma aula da área de humanidades, sobre as questões do antropoceno, os alunos compreendem o seu lugar no mundo. Eles falam ‘ah, é por isso que eu tenho que entender que eu sou um sujeito atuante, responsável, porque a minha pergunta científica impacta o meio ambiente'”, conta a professora.
Estudantes em laboratório da Escola de Ciência Ilum, em Campinas (SP)
Estevão Mamédio/g1
De Aracaju para Campinas
Júlia Amâncio Ferreira ingressou na Ilum em 2023 e, sem nunca ter pisado em Campinas, decidiu sair de Aracaju (SE) e desbravar a nova cidade para se tornar cientista, mesmo diante do receio da família. “Outros amigos meus também passaram junto comigo, então foi isso que acalmou um pouco eles”.
“E não somente isso, foi uma união mesmo de todos os fatores que apoiam a gente. No caso, a gente tem a moradia, a gente tem a questão do transporte e alimentação. Então isso favoreceu para que eu tivesse essa decisão de vir pra cá”, conta a estudante.
Outro ponto importante para a estudante foi a interdisciplinaridade. Apaixonada por várias disciplinas desde o ensino médio, a jovem conta que teve dificuldade para escolher uma profissão e gostou da proposta de aprender “um pouco de tudo”.
“Me encantou essa estrutura que eles dão para a gente, e também toda a oportunidade em relação aos estudos mesmo. A grade curricular eu achei fantástica, e eu já gostava de muita coisa ao mesmo tempo e eu me encantei de fato, porque é uma interdisciplinaridade muito interessante de ser integrada a uma graduação”, afirma.
Para o futuro, o sonho da aluna é fazer mestrado e doutorado na área de farmacologia e, quem sabe, unir essa paixão pela área da saúde a um novo interesse descoberto durante a graduação: a computação.
Júlia Amâncio Ferreira, estudante da Ilum, quer fazer mestrado e doutorado na área de farmacologia
Estevão Mamédio/g1
O que é?
A graduação em ciência e tecnologia oferecida pela Ilum é gratuita e chegou a ter concorrência maior do que o curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP). Os estudantes recebem vale-alimentação, transporte e moradia, além de um notebook para acompanhamento das aulas.
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1ª colocada em curso de ciência em centro nacional que abriga Sirius relata inspiração do pai e sonho de trabalhar com pesquisa
🧪 Criado por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que abriga o laboratório de luz síncrotron Sirius, o curso tem três anos de duração e, desde o primeiro período, os alunos têm acesso a laboratórios de ponta e desenvolvem os próprios projetos.
Quem é aprovado na Ilum pode atuar no futuro como pesquisador em instituições públicas e privadas ou alcançar alto nível para trabalhar em diferentes segmentos relacionados à tecnologia. Saiba mais sobre o processo seletivo aqui.
Escola em Campinas (SP) oferece moradia, alimentação e transporte para quem quiser ser um cientista
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