Acordo de Paris: Trump oficializa saída dos EUA; o que isso significa?

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomou posse nesta segunda-feira (20) e já assinou cerca de 80 decretos. Entre eles, um que confirma a saída do país do Acordo de Paris, marco global de combate às mudanças climáticas.

A decisão reflete postura já adotada em seu primeiro mandato, quando Trump retirou os EUA do pacto, alegando que ele prejudicava a economia estadunidense e favorecia outros países às custas dos Estados Unidos. Mais cedo, a Casa Branca já havia confirmado que o presidente faria isso.

A saída, no entanto, só será oficializada após a confirmação da Organização das Nações Unidas (ONU). Caso se concretize, os EUA se juntarão a países, como Irã, Líbia e Iêmen, atualmente os únicos fora do tratado firmado em 2015.

Sol forte no horizonte com a cidade abaixo, na sombra
Acordo de Paris é um dos balizadores para reverter mudanças do clima (Imagem: Bangprikphoto/Shutterstock)

O que é o Acordo de Paris?

Assinado durante a COP21, a 21ª cúpula do clima da ONU em Paris (França), o Acordo de Paris tem como principal objetivo manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para limitá-lo a 1,5 °C. No entanto, em 2022, a temperatura média global já subiu 1,6 °C, evidenciando a urgência de ações climáticas.

Impactos da saída dos EUA

Os Estados Unidos, a maior economia mundial e o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, desempenham papel crucial na luta contra as mudanças climáticas. Especialistas temem que a retirada estadunidense prejudique os esforços globais e inspire outros países a abandonar o acordo.

“Os riscos são claros: além de dificultar negociações, isso pode desencadear reação em cadeia, enfraquecendo o esforço multilateral”, avalia Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, ao g1.

Histórico ambiental de Trump

Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump revogou mais de 100 regulamentações ambientais, promovendo a expansão da indústria de combustíveis fósseis e reduzindo proteções a áreas naturais e espécies ameaçadas. Entre as ações mais significativas, destacam-se:

  • Redução das metas de eficiência energética para automóveis, anteriormente estipuladas pelo governo de Barack Obama;
  • Ampliação da exploração de petróleo e gás em áreas protegidas, incluindo parques nacionais e reservas no Alasca;
  • Alterações nas metas de extração de madeira em florestas públicas, justificadas como forma de reduzir incêndios florestais, o que foi contestado por ambientalistas;
  • Retirada dos EUA do Acordo de Paris em 2017, revertida em 2021 pelo democrata Joe Biden e, agora, retomada.

Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM, lembra que David Bernhardt, ex-lobista da indústria petrolífera, liderou ações para desmontar proteções ambientais durante a gestão Trump.

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Perspectivas para o futuro após decisão de Trump

Trump já sinalizou que seu governo seguirá priorizando combustíveis fósseis e flexibilizando regulações ambientais. Ele anunciou:

  • A revogação de políticas pró-veículos elétricos adotadas por Biden;
  • O incentivo à construção de usinas nucleares e infraestrutura de combustíveis fósseis;
  • O cancelamento de projetos de energia eólica no mar.

Trump vai intensificar a exploração de petróleo e gás, contribuindo para o aumento das emissões de gases de efeito estufa”, alerta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Lula olhando para baixo, com a mão no queixo, em estado pensativo
Lula espera que Trump mantenha parceria dos EUA com Brasil (Imagem: Focus Pix/Shutterstock)

Efeitos internacionais e no Brasil

A postura dos EUA pode enfraquecer negociações climáticas globais, como a COP30, prevista para ser realizada em Belém (PA) neste ano. Além disso, o Fundo Amazônia, que conta com promessa de US$ 500 milhões (R$ 3,02 bilhões, na conversão direta) dos EUA, poderá sofrer cortes.

Nessa linha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou as preocupações mundiais de como a administração Trump vai afetar as demais nações, além de enfatizar que espera que os EUA sigam como parceiros do Brasil.

Tem gente que fala que a eleição do Trump pode causar problema na democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua para que o povo americano melhore e para que os EUA continuem a ser o parceiro histórico que é do Brasil.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente do Brasil

Por sua vez, Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), avalia que o novo governo de Trump representa retrocesso significativo: “A eleição de um negacionista climático nos Estados Unidos ameaça os esforços globais em momento crítico para o planeta.”

Já Claudio Angelo ressalta que a saída dos EUA pode, paradoxalmente, impulsionar outros países a avançarem sem os obstáculos criados pelos estadunidenses: “A ausência deles, embora preocupante, pode abrir espaço para cooperação mais fluida entre outros países.”

Com os EUA fora do Acordo de Paris, os desafios globais para conter as mudanças climáticas tornam-se ainda maiores. A comunidade internacional segue dividida sobre como avançar sem o apoio da maior potência econômica mundial.

Combustíveis fósseis e veículos elétricos

Quanto ao incentivo aos combustíveis fósseis e a revogação das políticas em favor dos veículos elétricos, é uma questão, no mínimo, curiosa, visto que o empresário e novo chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), Elon Musk, é dono da Tesla, a maior fabricante de elétricos dos EUA.

Fachada da Tesla, com o logo da empresa
Tesla, de Elon Musk, que está no governo Trump, será afetada com corte de incentivos a veículos elétricos (Imagem: Trygve Finkelsen/Shutterstock)

A empresa já vem perdendo mercado para a concorrência, especialmente as montadoras locais, como Ford e General Motors (GM), e enxerga com certa preocupação o crescimento das chinesas, como BYD e GWM. Resta observarmos como Musk e a Tesla reagirão às medidas revogadas.

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