Discurso fajuto

No governo que se jacta de defender minorias, empilham-se denúncias de assédio a mulheres. Leia no editorial do Estadão desta terça-feira, 28

” Mal passou o desgaste das suspeitas de assédio sexual contra o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, demitido por isso em setembro do ano passado, o governo Lula da Silva enfrenta agora outra crise em um Ministério ligado às causas mais caras à esquerda. Desta vez, surgiram denúncias de assédio moral, xenofobia e racismo contra o primeiro escalão do Ministério das Mulheres, comandado por Cida Gonçalves.

O Estadão revelou que ex-servidoras fizeram denúncias formais que foram encaminhadas à Controladoria-Geral da União (CGU) e à Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A reportagem teve acesso a cinco queixas e três gravações de reuniões internas feitas pelas denunciantes. Além de Cida, são alvo a secretária executiva, Maria Helena Guarezi, a corregedora interna, Dyleny Teixeira Alves da Silva, e a ex-diretora de Articulação Institucional Carla Ramos.

Segundo as denunciantes, a tensão começou após um desentendimento entre a ministra e a então secretária de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Carmem Foro. Militante do PT no Pará, Carmem foi uma indicação do partido, e não da cota pessoal de Cida, que é indicada pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.

Carmem foi exonerada em 9 de agosto do ano passado e, três dias depois, Cida comandou uma reunião, que foi gravada por servidoras, na qual deixou claro que o Ministério “tem hierarquia” e que sabe “o que acontece nos corredores”. E ainda fez uma declaração que foi interpretada como ultimato: “Pode ser que boa parte de vocês também pode sair ou não”. Pelas gravações, Cida insistiu em dizer que é ela quem manda, porque, afinal, “enquanto estiver” na pasta, tem “autoridade de ministra”. Além disso, segundo as denúncias, havia cobrança de trabalho em prazo exíguo, tratamento hostil, manifestações de preconceito e gritos.

Se essas atitudes da ministra e de algumas de suas auxiliares configuram assédio, somente as investigações e eventualmente a Justiça poderão determinar. O caso, porém, é relevante porque mostra a distância colossal entre o discurso petista em defesa de mulheres e outras minorias e a prática de uma administração sob cujas barbas se empilham denúncias de assédio contra mulheres.

A rigor, nada disso deveria surpreender. Embora faça praça de sua advocacia em favor das minorias, sobretudo das mulheres, o governo de Lula da Silva, na prática, jamais as colocou em primeiro lugar. Até aqui, neste terceiro mandato, Lula só nomeou homens para o Supremo Tribunal Federal. Seus ministros mais próximos são todos homens. A formação inicial de seu Ministério tinha mulheres como titulares em apenas um terço das pastas. Uma dessas poucas ministras, a ex-atleta Ana Moser, logo foi trocada por um homem, André Fufuca, para satisfazer acordos políticos.

Ou seja, o governo Lula, a começar pelo presidente, capricha na retórica de defesa das minorias, explorando estridentemente essa causa para fins políticos, enquanto demonstra inaceitável desleixo quando se trata de garantir que essas mesmas minorias não sejam vítimas de assédio em seus próprios gabinetes.” Com informações do editorial do Estadão

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