DJs residentes x residências de temporada: o que mudou na forma como os DJs se relacionam com os clubs?

O termo ‘’DJ residente’’ sempre foi comum na vida noturna, até mesmo nas primeiras discotecas e danceterias, além de ser um cargo de muito respeito e importância para os estabelecimentos. No início, os residentes eram os nomes de confiança, vamos por assim dizer. Eles abriam a casa, recepcionavam o público, já sabiam o que ali funcionava, quem eram os frequentadores e o mais importante: nas noites em que a estrela vinha de fora, era delegado aos residentes a missão de aquecer a pista para o grande momento. Isto, antes mesmo da cultura de club tal qual conhecemos hoje. 

Em ‘’Todo DJ Já Sambou’’, a bíblia da música eletrônica brasileira, Claudia Assef faz uma verdadeira cronologia do movimento por aqui e relembra diversos DJs e clubs que moldaram e pavimentaram nossa cena. Entre eles, podemos citar Dom Pepe na Dancin’ Days, Robertinho que fez história no Hippopotamus e Papagaio Disco Club, o eterno Ricardo Lamounier na New York City Discothèque e posteriormente no Hippopotamus. 

Alguns anos mais tarde, o sucesso do drum ‘n’ bass deu a Marky a pista da Toco Dance, Patife comandava o Arena Music Hall, enquanto Koloral comandava o Palácio Music Hall e Andy a Overnight. E como esquecer de Paula Chalup, Mau Mau e Renato Cohen no Love.e? 

Nessa época, anos 80, 90 e 00, os DJs fixos das casas de show eram muitas vezes as próprias estrelas da noite. Muitos se tornavam maiores até mesmo que o club. O público ia, se identificava com o estilo tocado pelo DJ e começavam a frequentar a casa para ouvi-lo, pois sabiam onde e quando encontrá-lo para ouvir um som. Outro diferencial eram as técnicas de mixagem que na época estavam começando a se popularizar. Os DJs que não deixavam a música terminar antes de começar outra conquistavam a pista.

Tivemos residências que inclusive mudaram a história da música eletrônica, como o pai da house music Frankie Knuckles no The Warehouse. Ali, com ele no som, o house foi criado, assim como seus primeiros fãs e o primeiro esboço de uma cena.

A Alemanha, especialmente os lendários clubs berlinenses, ainda mantém esta cultura do DJ residente. Watergate, Tresor, Berghain, Kater Blau, Panorama Bar entre outros são clubs com artistas de confiança da casa. Eles se conectam com o club a cada apresentação e o público sabe o que esperar. Especialmente os artistas locais e os veteranos que nutrem uma relação antiga com as casas conquistaram este importante porto em uma das capitais mundiais da dance music.

Há um tempo, este tipo de DJ residente mudou em Ibiza. O comum nos dias atuais não são DJs que atuam em todos os dias de abertura dos clubs, mas sim DJs que têm uma residência durante uma temporada, quase sempre no verão. Na Ilha Branca, essa tem sido a prática mais comum. No Brasil, ainda há alguns clubs com DJs residentes, entretanto não mais da forma antiga. São escalados em aberturas específicas.

Algo que pode explicar essa mudança na forma com que as residências são feitas hoje em dia é o tamanho e importância que os artistas têm. Antigamente, ia-se ao club para dançar mesmo sem saber quem iria estar no som, até que alguns residentes ficaram maior que as discotecas, hoje os DJs são os verdadeiros astros das noites. As pessoas podem escolher um club para ir porque querem conhecê-lo, mas vão escolher o dia em que um DJ que ela goste ou conheça esteja tocando.

Por Adriano Canestri

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