Por que as chuvas diminuíram mesmo com o oceano mais quente?

Há pelo menos 45 anos a temperatura dos oceanos tem aumentado e, durante a maior parte desse período, a evaporação cresceu em conjunto e trouxe mais chuvas. Porém, climatologistas notaram uma dissociação dessas duas medições desde 2008, fenômeno que pode estar relacionado com a diminuição da força de um importante fator: o vento.

Quando uma roupa é pendurada para secar, três componentes aceleram o processo: o calor, a luz solar direta e o vento. O mesmo grupo atua quando se trata de retirar água dos mares ou lagos e colocá-la na atmosfera, de onde posteriormente cai em forma de chuva.

Modelos climáticos previram que um mundo mais quente significa um aumento da evaporação, portanto, mais precipitação. Até recentemente, as evidências mostravam que eles estavam certos, mas o Dr. Ma Ning, da Academia Chinesa de Ciências, estuda uma mudança nesse sistema ocorrida em 2008.

Ilustração do aquecimento global. (Imagem: NASA’s Goddard Space Flight Center: Kathryn Mersmann, Kate Ramsayer, Gavin A. Schmidt; / Wikimedia Commons)

“Desde então, dois terços dos oceanos do mundo sofreram uma redução na evaporação, resultando num ligeiro declínio nas taxas de evaporação globais entre 2008 e 2017. Isto contradiz o que normalmente esperaríamos num clima mais quente”, disse Ma em comunicado.

O doutor e seu grupo usaram dados que vão até 2017. Por isso, seu artigo não discute se o fenômeno continua a se intensificar.

Ventos mais fracos podemos ser a resposta

Desde o início da década de 2000, cientistas climáticos debatem sobre a ocorrência de um “escurecimento global”. Esse é um processo em que o aumento de nuvens e da neblina, devido à poluição, significa a diminuição da luz direta sobre a superfície da Terra e, portanto, reduzir a evaporação, mesmo com o aumento da temperatura do ar.

Sendo esse o responsável ou não, Ma e co-autores não pensam que o escurecimento seja o responsável pelo fenômeno que estão pesquisando. Em vez disso, apontam para a “tranquilização do vento”, um processo resultante das mudanças na circulação atmosférica. 

“As mudanças na velocidade do vento podem estar associadas a variações decenais no sistema climático da Terra”, disse o doutor. “O recente declínio na evaporação dos oceanos não deve necessariamente ser interpretado como evidência de um ciclo hidrológico enfraquecido, pois pode, em vez disso, refletir oscilações climáticas naturais”.

(Imagem: CatEyePerspective / iStock)
Biruta, instrumento utilizado para indicar a direção do vento. (Imagem: CatEyePerspective / iStock)

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A tendência não é global, segundo os pesquisadores. Utilizando dados de satélite, o grupo descobriu que a evaporação caiu dos terços nos oceanos na faixa de latitude entre 60°N e 60°S. As regiões polares não estão incluídas no estudo.

Contudo, a partir de 1988, por duas décadas a evaporação aumentou em quase todo o mundo. A tendência decrescente entre 2008 e 2017 foi mais lenta do que a elevação anterior, então, houve um aumento substancial de 1988 até 2017. No entanto, esses nove anos de diminuição podem ter consequências notáveis e majoritariamente negativas.

Chuvas podem se intensificar

Há grupos que argumentam que o aumento das taxas de evaporação e um mundo mais quente é melhor para a humanidade, pois ocorre um aumento das chuvas. Embora isso possa parecer verdade para alguns locais, provavelmente nunca será o caso em geral.

O padrão mais comum de precipitação à medida que as temperaturas se elevam é o de chuvas caóticas. A longo prazo, poderá haver mais temporais, com rajadas maiores, levando a inundações, contrastando com períodos de seca mais longos. No geral, essa não é uma fórmula boa para a agricultura.

Porém, se o doutor Ma e seu grupo estiverem certos sobre o que vem acontecendo, a situação será pior. Nesse caso, mesmo os poucos locais que teriam sido beneficiados com chuvas mais fortes poderão sofrer a ação das mudanças climáticas de forma intensa.

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