Fé e folia: 1° bloco gospel de SP aposta em samba, zero álcool nem pegação para divulgar Evangelho


Bloco Ide vai desfilar no pós-carnaval, em 8 de março, a partir das 13h na Zona Oeste da capital. Fé e folia: 1° bloco evangélico de SP aposta em samba para divulgar evangelho
“O Bloco Ide chegou, chegou e vem para te abençoar. Vem cá, vem cá. Essa mensagem vem do trono para você. Tudo é possível naquele que crê.” Misturando fé e folia, é assim que começa o samba-enredo do Bloco Ide, o primeiro bloco de rua gospel da cidade de São Paulo.
Antes do desfile oficial no pós-carnaval, o g1 acompanhou o último ensaio do bloco, que aconteceu dentro de um bar no Jardim Esmeralda, próximo à comunidade do Sapé, na Zona Oeste da capital, na noite de 21 de fevereiro.
A banda do bloco é formada por ex-integrantes de escolas de samba tradicionais de São Paulo, como a Império de Casa Verde, que se converteram para igrejas evangélicas. Durante a apresentação, eles cantaram clássicos como “Faz Um Milagre Em Mim” do Regis Danese, que estourou nas rádios nos anos 2000 (veja o vídeo acima.)
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Ensaio do Bloco Ide, o primeiro bloco de rua evangélico de São Paulo
Fábio Tito/g1
Fundação
Na contramão da comunidade evangélica mais tradicional, que costuma se refugiar em acampamentos e retiros durante o carnaval, o Bloco Ide foi fundado em 2018 pela consultora em inovação e tecnologia Silvia Fagá, com a missão de espalhar a mensagem do Evangelho de uma forma diferente.
O primeiro desfile aconteceu em 2019 pelas ruas do bairro Ipiranga, na Zona Sul da capital. Com um pequeno carro de som e músicos de bandas cristãs acompanhando pelo chão, o grupo atraiu um público diverso — de crianças a idosos.
Silvia Fagá é a fundadora do primeiro bloco evangélico de São Paulo
Fábio Tito/g1
Apesar de usarem abadá e glitter no rosto, o clima do Bloco Ide é diferente dos demais blocos de rua, que costumam ter pegação e bebida. O consumo de álcool não é proibido, tanto que os ambulantes podem vendê-lo. Contudo, como Silvia disse ao g1, “acho que eles têm prejuízo porque a maioria do público não bebe”.
Ao longo do trajeto, o cortejo também alternava músicas de samba gospel com momentos de evangelização — com pastores compartilhando seus testemunhos sobre o processo de conversão ou com orações direcionadas a pessoas que estavam passando pelo bloco.
“A gente parava na frente dos bares. As pessoas viam que a gente estava falando de Deus. A gente perguntava se podia orar, e eles falavam que podia continuar. Às vezes, pastores davam testemunho, falando: um dia eu estive aí também, não se preocupe, continue aí celebrando e fazendo o que você está fazendo. Foi muito bacana, porque nesse dia a gente conseguiu levar duas pessoas para a casa de recuperação”, relembra Silvia.
Após 2019, o grupo fez uma pausa no bloco e optou por organizar somente rodas de samba na época do carnaval , mas neste ano ele voltará às ruas. Em 2025, o Bloco Ide vai desfilar no Rio Pequeno, na Zona Oeste, em 8 de março.
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União entre Evangelho e o carnaval
Para a fundadora do Bloco Ide, a união entre o carnaval e o Evangelho não interfere na transmissão da mensagem cristã. Isto é, a adoração a Deus pode ser manifestada também por meio da música e da cultura popular.
Segundo Silvia, não há motivo para rejeitar expressões artísticas como o samba ou o pagode por estarem historicamente ligadas a religiões de matriz africana. É possível misturar esses estilos musicais, ligados ao carnaval, com o gospel por meio do sincretismo, explica.
“Você vai adorar a Deus nos 360 dias por ano, menos os cinco dias de carnaval? Então assim, a todo o tempo, em todo lugar. A Bíblia nos diz assim: tudo o que tem fôlego, louve ao Senhor. Então, eu não tenho problema em manifestar oração ao meu Deus nesse período, de maneira alguma. E talvez isso possa incomodar outras pessoas.”
“Quando a gente começou com esse trabalho, eu também sofri preconceito de outras esferas. Pessoas que já eram do carnaval falavam: ‘Agora esses evangélicos querem tomar conta de tudo, agora eles querem tomar conta do carnaval’. Tem espaço para todo mundo, e o nosso interesse também é levar a nossa mensagem de alegria e de esperança. Então tem uma missão e um propósito com tudo isso.”
Desfile do Bloco Ide no bairro Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, no carnaval de 2019
Alfredo Guerra/Bloco Ide
Ao g1, Silvia contou que, quando fundou o bloco de rua sete anos atrás, não tinha nenhuma experiência, já que não frequentava esse tipo de espaço. Mas hoje já sonha até em montar uma escola de samba.
“Neste ano a gente quer iniciar a nossa escola de percussão de ritmistas. Então vamos começar um projeto com as crianças e os adolescentes e quem sabe no futuro a gente vire uma escola de samba.”
Serviço
Onde? Praça Wilson Moreira da Costa, no Rio de Pequeno, Zona Oeste
Quando? 8 de março (sábado), a partir das 13h
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