
O sobrinho de Jorge Avalo, de 60 anos, caseiro que foi morto por uma onça-pintada na segunda-feira (21) em um pesqueiro de Touro Morto, no Pantanal mato-grossense, contou em um áudio que o animal aprendeu a rotina do tio e se acostumou com o convívio na área.
Segundo o homem, o tio “se descuidou”, e achava que a onça só ia até o pesqueiro durante à noite, quando estava dentro da casa. Para o sobrinho, o animal monitorava Jorge, e aprendeu a rotina dele (leia a transcrição completa do áudio abaixo).
Os restos mortais de “Jorginho”, como o caseiro era conhecido, foram encontrados na manhã de terça-feira (22) por um grupo de resgate. Segundo autoridades, as buscas contaram com o apoio de moradores, pescadores, equipes da Polícia Militar Ambiental e da Polícia Civil.
A equipe chegou a ser atacada pela mesma onça, que guardava o corpo do homem. Durante as buscas, o animal retornou ao local onde os restos mortais da vítima foram encontrados e tentou esconder o corpo novamente.
“Ela que amansou meu tio”

O sobrinho da vítima revelou que a onça “já monitorava ele, ela vivia rondando o pesqueiro e ele facilitava”. Ele conta que Jorge acabou ficando tranquilo com a presença do animal e, no final, “ela que amansou ele”.
A onça responsável pelo ataque foi capturada na madrugada de quinta-feira (24). O macho, de 94 kg, foi levado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) de Campo Grande (MS), onde passará por exames. A Polícia Militar Ambiental (PMA) investiga se a escassez de alimentos na região pantaneira e um possível comportamento defensivo motivaram o ataque.
De acordo com informações registradas em um vídeo gravado durante as buscas, os restos mortais de Jorginho foram localizados com o auxílio de trilhas deixadas pela onça ao longo da mata. O corpo da vítima havia sido arrastado pela onça por mais de 50 metros quando os agentes chegaram ao local.
Campanha de orientação no Pantanal
O governo do estado do Mato Grosso do Sul prepara uma campanha de orientação no Pantanal para alertar moradores e visitantes sobre atitudes que podem colocar vidas em risco. O anúncio foi feito pelo governador Eduardo Riedel (PSDB) em uma coletiva na quinta-feira (24), na capital Campo Grande.
O líder do Executivo no estado lamentou o ocorrido e reforçou que é preciso ter responsabilidade no convívio com animais selvagens. “A gente trabalha para prevenir esse tipo de episódio, com conscientização, porque os animais são responsabilidade do Estado”, disse.
Ele ainda chamou a atenção para práticas perigosas que vêm sendo observadas, principalmente entre turistas. “As cenas que a gente vê de turistas jogando comida para onças, chegando perto da margem… A gente tem que conscientizar as pessoas dos riscos em determinadas situações”, alertou.
A campanha vai focar nas regiões do Pantanal que atraem mais visitantes interessados em turismo de natureza, como pesca e safáris fotográficos. Riedel destacou que esse movimento ainda é recente e precisa ser acompanhado de orientações claras.
“Era um ambiente onde as pessoas não iam, e hoje estão indo para o turismo selvagem, de pescaria. A gente tem que entender qual é o protocolo adequado para isso”, afirmou o governador.
Leia a transcrição do áudio
“Ela já monitorava ele, ela vivia rondando o pesqueiro e ele facilitava. No fim, o que aconteceu? Ela que amansou ele. Na verdade, a onça que amansou meu tio. Ele descuidou, não deu muita atenção. Achava que ela só ia andar ali à noite, na hora que ele estava dentro da casa. Ele acabou ficando tranquilo sobre isso, mas, o que acontece: ela foi esperta. Ela acompanhava a rotina dele. Ela ficava por ali, as câmeras do pesqueiro às vezes filmavam ela de dia, andando na beira da água, deitada, perto dos barcos… e ela começou a acompanhar a rotina dele. E qual era rotina dele: ele levantava por volta das 5:30 da manhã, ia para cozinha, fazia o café dele, deixava clarear mais um pouco e lá pelas dez para às 6h ele ia até os barcos ver como estavam e, nesse dia, acabou acontecendo a fatalidade: ela ficou escondida e atacou ele”