O corpo de Victoria Roshchyna, jornalista ucraniana de 27 anos, foi finalmente identificado meses após ter sido entregue, sem nome e com sinais de graves torturas, em uma troca de prisioneiros em fevereiro. A confirmação, que vem após investigação conduzida pelo jornal The Guardian e parceiros de mídia, encerra uma angustiante busca por respostas, iniciada quando seus restos mortais foram registrados apenas como “NM SPAS 757”, sigla para “homem não identificado” e “danos extensivos nas artérias coronárias”.
Capturada em 2023, nas proximidades da usina nuclear de Zaporizhzhya, Roshchyna se destacou por desafiar o bloqueio de informações imposto pela Rússia durante a guerra da Ucrânia. Sem acusações formais e isolada do contato com advogados, ela conseguiu fazer apenas uma ligação de quatro minutos aos pais durante todo o período de detenção.
Exames preliminares apontaram “numerosos sinais de tortura”, incluindo queimaduras nos pés por choques elétricos, escoriações no quadril e na cabeça, uma costela quebrada e o rompimento do osso hióide, típico de casos de estrangulamento. Partes do corpo, como cérebro, olhos e laringe, estavam ausentes quando os restos mortais foram devolvidos, dificultando a determinação oficial da causa da morte.

Testemunhos colhidos junto a mais de 50 sobreviventes e fontes próximas à investigação traçaram o calvário de Roshchyna. Depois de ser detida em agosto de 2023, a jornalista foi levada para centros de tortura em Melitopol e posteriormente para o presídio Sizo 2, em Taganrog. Lá, sofreu abusos constantes, recusou alimentação e teve seu peso reduzido a 30 quilos. “Ela chegou já cheia de drogas desconhecidas”, relatou um ex-prisioneiro.
Em setembro de 2024, quando a jornalista deveria ter sido libertada em uma troca de prisioneiros, ela desapareceu. Segundo um agente de segurança, foi por “culpa dela”. Pouco depois, a família foi notificada de sua morte, ocorrida em 19 de setembro. O corpo, extremamente deteriorado, só pôde ser identificado por um exame de DNA e uma etiqueta presa à perna com a inscrição “V.V. Roshchyna”.
Embora as evidências apontassem que o corpo era mesmo da jornalista, uma identificação precisa não era possível. Questionado, o diretor da prisão de Taganrog, Aleksandr Shtoda, afirmou que a jornalista “não está e nunca esteve listada nos bancos de dados”, conforme o pai dela, inconformado, continuava a exigir novos exames e respostas oficiais sobre as circunstâncias da morte da filha.
Antes de ser capturada, Roshchyna havia enviado uma mensagem à cerimônia de entrega do prêmio da International Women’s Media Foundation, recusando-se a interromper seu trabalho para comparecer ao evento.
“Nós permanecemos fiéis à nossa missão, de transmitir a verdade ao mundo, enfrentando a propaganda russa. Infelizmente, muitos jornalistas morreram. Quero dedicar este prêmio a eles. Afinal, eles morreram na luta pela verdade, tentando registrar os crimes russos. Agradeço a eles”, disse Roshchyna em seu pronunciamento enviado ao prêmio.
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