Cametá celebra 200 anos de judaísmo na Amazônia e reinaugura Sinagoga dos Hebraicos

Na última quinta-feira, 1º de maio, a cidade de Mocajuba foi palco de uma celebração histórica: a reinauguração da Sinagoga dos Hebraicos de Cametá/Mocajuba, marco dos 200 anos de presença judaica organizada na região amazônica. O evento reuniu membros da comunidade judaica de Belém, descendentes da antiga comunidade cametaense, convidados vindos de Portugal e de diversas partes do Brasil, além da marcante presença do Rabino Elmescany, conhecido como o Rabino da Amazônia.

A reinauguração da sinagoga, uma das mais antigas do país, representa o renascimento de uma herança quase esquecida. Fundada entre 1824 e 1825, sob o nome original de Beit HaShalom (Casa da Paz), a sinagoga nasceu poucos meses após a promulgação da Constituição Imperial de 1824, que garantiu a liberdade de culto no Brasil.

Estabelecida inicialmente nos fundos do prédio comercial da família Cohen, na primeira rua da cidade, a sinagoga tornou-se símbolo da fé e da resistência dos judeus marroquinos que chegaram à região.

Ao longo do século XIX, Cametá e Mocajuba tornaram-se lar de uma expressiva comunidade judaica, estimada em mais de 7.000 pessoas, segundo o rabino Abraham Hamu. Famílias como Bensiman, Sabbá, Benassuly, Bemuyal, Azancot, Elarrat e Cohen destacaram-se no comércio e na vida política local, fundando vilas e deixando um legado cultural e religioso que se estendeu a cidades vizinhas, como Baião, e às ilhas do rio Tocantins.

A sinagoga passou por diferentes fases. Em 1888, já em sua segunda sede, abrigou uma Yeshivá que ensinava Torá, Talmude, hebraico e francês, sob a liderança de Isaac Melul. Na virada do século, em 1903, a comunidade adquiriu um prédio próprio, consolidando o espaço que ficou conhecido como Sinagoga dos Hebraicos. Crônicas de escritores como Victor Tamer retrataram a vida judaica cametaense, especialmente os rituais de Shabat e os estudos promovidos no templo.

Restauração por “Filhos da Comunidade”

Com o tempo, as enchentes do rio Tocantins e o êxodo da população judaica contribuíram para o declínio da presença física da comunidade. No entanto, objetos sagrados foram preservados e encaminhados às sinagogas de Belém e Manaus. O cemitério judaico da cidade, com mais de 76 sepulturas registradas, ainda resiste como testemunha do passado.

A restauração atual é fruto de um longo trabalho conduzido pelos Bnei HaKehilah (Filhos da Comunidade), descendentes diretos dos pioneiros judeus. Desde 2010, esse grupo vem resgatando a memória local, promovendo estudos judaicos e incentivando o retorno à fé entre cametaenses espalhados pelo mundo.

Durante a cerimônia, o Rabino Elmescany destacou a importância do momento: “Esta reinauguração é uma ponte entre o passado e o futuro. Estamos honrando nossos antepassados e reavivando a chama do judaísmo em solo amazônico.”

A reinauguração da Sinagoga dos Hebraicos é um símbolo da vitalidade do judaísmo no Brasil e da força da memória. Em meio à floresta, renasce um templo, mas, acima de tudo, renasce uma história de fé, resistência e identidade. Que esse marco bicentenário seja apenas o início de uma nova etapa para os judeus da Amazônia.

Vídeo: Rabino da Amazônia

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