Uma onda de vídeos publicitários nas redes sociais chinesas tem revelado como empresas estão tentando burlar as tarifas impostas pelos EUA a produtos vindos da China. Com promessas de soluções logísticas completas, intermediários oferecem serviços de reexportação por países do Sudeste Asiático, como Vietnã e Tailândia, rotulando falsamente a origem dos produtos. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Plataformas como Xiaohongshu e Douyin (a versão chinesa do TikTok) têm sido usadas para divulgar vídeos com ofertas de “serviços de reexportação e transporte com mudança de origem”. Esses anúncios apresentam rotas alternativas e promessas de entrega facilitada nos Estados Unidos, contornando as tarifas de até 145% impostas por Washington sobre importações chinesas.
“Fabricantes chineses cujo principal mercado é os EUA precisam encontrar uma forma de sobreviver”, afirmou o empresário taiwanês Lee Meng-chu. Ele destacou que há uma “grande demanda” por serviços de trânsito que permitam a entrada de produtos no mercado norte-americano sem as pesadas taxas.

Corretores de frete, também chamados de despachantes aduaneiros, têm desempenhado papel central nesse esquema. Eles cuidam de toda a documentação e certificações, e, segundo Lee, seus serviços estão ficando mais caros com o aumento da procura. “Alguns até trocam os contêineres ou recarregam os produtos para mascarar a origem”, contou.
Em um vídeo no Douyin, um usuário identificado como “Despachante Lao Wang” afirma ter criado um canal de transbordo reconhecido pelos EUA. Segundo ele, “80% dos produtos estão plenamente em conformidade por meio de rastreabilidade da origem”. Seu serviço anunciado inclui desde a declaração aduaneira até o desembaraço nos EUA.
Apesar das promessas, o uso da reexportação — prática de exportar mercadorias que foram importadas sem modificação — tem sido alvo de investigações. Isso porque países como Vietnã e Tailândia começaram a intensificar o controle de origem dos produtos.
“Toda a cadeia de suprimentos precisa ser claramente declarada, até mesmo a origem dos botões”, alerta um usuário do Douyin. Ele acrescenta que fraudes tarifárias podem resultar em penas de até 20 anos de prisão, multas de 300% sobre o valor do tributo sonegado e rastreamento dos lucros por dez anos.
De acordo com a legislação norte-americana, mercadorias só podem ser declaradas com uma nova origem nacional se forem substancialmente transformadas. Muitos fabricantes chineses cogitaram transferir sua produção para outros países, segundo o professor Sun Kuo-Hsiang, da Universidade do Sul da China. Mas foram obrigados a recorrer à “lavagem de origem” por conta de atrasos nas obras das fábricas ou falta de capacidade produtiva.
Ainda que autoridades americanas e europeias tenham aumentado a fiscalização sobre certificados de origem, Sun observa que “a capacidade de inspeção não consegue acompanhar o número de empresas promovendo abertamente os serviços de ‘lavagem de origem’ nas redes sociais”.
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