O mercado de Internet no Brasil está atravessando uma nova fase de consolidação. O movimento de fusões e aquisições (M&A) entre provedores regionais continua ativo, mas deixou para trás o ritmo frenético típico dos anos da pandemia e agora exige maturidade, estrutura e estratégia. A avaliação foi unânime entre os principais executivos que participaram de um painel sobre o tema durante o Abrint Global Congress 2025, realizado hoje, 9.
Segundo Célio Nunes, co-fundador da Brasa Capital, o processo de consolidação no setor é natural, principalmente em um ambiente intensivo em capital e marcado por uma concorrência altamente qualificada. “Esse é um setor que se beneficia das economias de escala, o que torna as fusões e aquisições uma evolução lógica, especialmente em um momento em que as tecnologias — como a inteligência artificial — exigem estruturas mais robustas para oferecer diferenciais competitivos”, afirmou.
O executivo ainda destacou que o movimento de M&A já passou por três estágios distintos: o acesso ao capital, o surgimento de consolidadores e, agora, a fase de consolidação efetiva. “A dúvida que paira entre os especialistas é em que ponto exatamente o setor se encontra neste ciclo. O que é certo, contudo, é que a dinâmica segue ativa, mas mais madura.”
Thales Almeida, diretor de novos negócios da Vero, também chamou atenção para a dificuldade de alinhar expectativas entre compradores e vendedores. “Do lado do comprador, a decisão é fria, baseada em retorno e risco. Já o vendedor, que não está vendendo um ativo financeiro, tem uma relação emocional com o negócio, o que dificulta a negociação de preço.”
Mais qualidade, menos euforia
Para Álvaro Menezes, diretor de M&A da Alares, o foco agora é qualidade. “A infraestrutura é relevante, mas não é tudo. Analisamos a rede, a gestão e a capacidade de crescimento futuro. Crescimento orgânico diminuiu e agora reter clientes é o novo desafio.”
O executivo acredita que o momento atual é menos sobre expansão desenfreada e mais sobre profissionalização e qualidade dos ativos. A Alares tem priorizado ativos que possam ser integrados de forma rápida e eficiente. “A infraestrutura ainda é relevante, mas a atenção está voltada para ativos mais completos e com boa capacidade de integração. Na Alares, 110 mil clientes já operam sob um único sistema de CRM, o que facilita a unificação pós-aquisição e antecipa o retorno do investimento.
IPO: uma janela ainda fechada
Enquanto o movimento de M&A não se esgota, a possibilidade de IPO continua distante para a maioria dos provedores. “Na Alares, não consideramos abrir capital no curto prazo. O cenário macroeconômico é desfavorável, os juros seguem altos e há pouca visibilidade para investidores”, explicou Menezes.
Já a Vero, segundo Thales Almeida, está pronta para um IPO, mas ainda aguarda melhores condições: “Temos governança, estrutura e caixa. A abertura de capital pode ser uma excelente forma de levantar recursos mais baratos, mas não vamos a mercado a qualquer custo. O Brasil precisa mostrar sinais claros de melhora econômica para isso fazer sentido.”
O IPO também está nos planos da Mhnet, segundo o CEO Patrick Canton. “Estamos preparando a empresa para esse movimento, com um plano de crescimento definido para os próximos três anos. No entanto, o cenário atual não favorece uma abertura de capital no curto prazo. O Brasil vive um jejum de IPOs, pressionado por juros altos e um ambiente econômico desfavorável. Por isso, seguimos focados no crescimento orgânico e na ampliação do ticket médio por meio de novos serviços, como soluções de segurança digital”, afirmou.
Formalização é critério decisivo
Outro ponto recorrente no painel que tratou de M&A entre provedores foi a importância crescente da formalização. Canton foi categórico sobre a importância da formalização dos provedores de Internet: “Desistimos de aquisições porque a empresa não tinha documentação da rede. A formalização fiscal e regulatória é essencial.”
Nunes, da Brasa Capital, tem a mesma visão. Para ele, sem a devida formalização o provedor sai do radar de um possível comprador. “Essa é uma questão que impacta muito no processo de fusão e aquisição.”
A reforma tributária também foi destacada como um fator que pode influenciar diretamente nas futuras fusões. Canton destacou os desafios do novo modelo tributário. “O impacto será grande, especialmente para pequenos provedores que hoje se sustentam no Simples. Com o novo regime, o ganho de escala será essencial para viabilidade.”
Reinvenção como prioridade
Com a saturação do crescimento via infraestrutura — antes motor do setor provedores de serviços de Internet precisam buscar novos caminhos. “Crescer apenas pela base física não é mais viável como antes. As empresas precisam se reinventar, oferecendo novos serviços, elevando a qualidade e criando diferenciais que realmente atraiam compradores”, disse Nunes.
O crescimento baseado unicamente em infraestrutura está perto do limite. Agora, a diferenciação virá de novos serviços. “Para ter valor, é preciso ter retorno, qualidade e inovação. O setor está se reinventando”, concluiu.
O post M&A: provedores enfrentam uma nova fase apareceu primeiro em TeleSíntese.