Governo está perdendo a guerra da segurança digital no Brasil

Piratas digitais conseguem burlar segurança do site gov.br, e assombram usuários

Brasília – Os brasileiros estão cada vez mais vulneráveis a golpes de piratas digitais, e o governo enfrenta dificuldades na proteção dos dados de milhões de usuários de internet no país. O crescimento alarmante dos crimes digitais no Brasil destaca a urgência de ações coordenadas para mitigar seus efeitos devastadores.

Em 2024, o Brasil registrou cerca de 5 milhões de fraudes cibernéticas, refletindo um aumento de 45% comparado ao ano anterior. Atualmente, há um golpe cibernético a cada 16 segundos no país, evidenciando a crescente sofisticação desses ataques. No cenário latino-americano, o Brasil está atrás apenas do México em número de tentativas de ataques cibernéticos. Em 2022, foram registradas 103,16 bilhões de tentativas, um crescimento de 16% em relação a 2021.

A maioria da população não sabe como se proteger. Contas de e-mail, aplicativos de serviços e até o site gov.br, principal plataforma de serviços do governo federal, foi invadida por hackers que conseguiram burlar o sistema de segurança de autenticação facial, expondo falhas graves nos sistemas de autenticação.

Especialistas como Francisco Gomes Júnior, presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP), destacam que a migração dos crimes para o meio digital ocorre devido aos menores riscos e maiores lucros envolvidos. Marcos Simplício, professor da USP, ressalta que ataques à cadeia de suprimentos têm se tornado mais frequentes, comprometendo não apenas produtos finais, mas também sistemas que atualizam outros sistemas.

Para desalento e assombro da população, escandalizada com a “bomba” que revelou o continuado e bilionário roubo de parte das aposentadorias dos velhinhos aposentados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a ofensiva de ataques aos cidadãos, sabe-se agora, foi reforçada pelo crime organizado, de olho nos lucrativos golpes digitais, resultando na disparada dos golpes.

Silêncio dos congressistas

Nenhum congressista acionado pela reportagem retornou as ligações. A pergunta é: Algum deles vai propor um Projeto de Lei que obrigue o ressarcimento dos lesados no INSS desde o início da comprovação do crime?

A indagação procede porque autoridades do governo disseram nesta terça-feira, que serão ressarcidos apenas os lesados até março de 2020, uma vez que os crimes antes dessa data (cinco anos) já prescreveram.

Casos emblemáticos

Dentre os casos mais marcantes, destaca-se o ataque ao Superior Tribunal de Justiça em 2020, onde hackers criptografaram processos inteiros, exigindo resgate. Outro caso notório foi o uso da plataforma Discord para crimes como pornografia infantil, resultando na prisão de oito indivíduos em 2023. Esses incidentes evidenciam a vulnerabilidade das instituições brasileiras e a gravidade das consequências.

Nesta terça-feira (13), algo ainda mais grave, que não se pode prever a dimensão de suas consequências, veio a tona. Criminosos estão usando ferramentas para criar identidades falsas e burlar sistemas de reconhecimento facial em instituições financeiras, e já há registros de invasão de contas no site gov.br. Os piratas digitais desenvolvem técnicas cada vez mais sofisticadas que derrubam paradigmas de proteção de dados considerados, até então seguros.

Polícia Federal deflagra operação de prisões e buscas e apreensões

Ao deflagrar uma operação contra um grupo suspeito de fraudar contas digitais vinculadas à plataforma gov.br na manhã desta terça-feira (13), a Polícia Federal esboça uma reação.

Os agentes cumprem cinco mandados de prisão temporária e 16 mandados de busca e apreensão em nove estados:

  • São Paulo;
  • Minas Gerais;
  • Ceará;
  • Paraíba;
  • Mato Grosso;
  • Santa Catarina;
  • Paraná;
  • Rio de Janeiro;
  • Tocantins.

Conforme apurado pela TV Globo, os suspeitos conseguiram fraudar a ferramenta “liveness”, usado em sistemas de biometria facial para verificar se a imagem capturada pertence a uma pessoa real e viva, e não a uma tentativa de fraude por meio de fotos, vídeos ou máscaras.

Foi descoberto também que o grupo atuava em duas frentes:

  • violação de contas de pessoas falecidas para acessar valores a receber do Banco Central;
  • fraude de contas de pessoas vivas para acessar valores a receber do Banco Central e autorizar consignações no aplicativo “Meu INSS“.

Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático qualificada e associação criminosa.

Medidas de prevenção

Para mitigar os riscos, empresas investem em tecnologias avançadas, como firewalls, criptografia e treinamentos especializados. Usuários são incentivados a usar senhas robustas, autenticação em dois fatores, e a manter seus sistemas sempre atualizados para evitar brechas de segurança.

Legislação e propostas de melhoria

O Brasil possui legislações importantes como a Lei Carolina Dieckmann e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), mas ainda enfrenta desafios para acompanhar a rápida evolução dos crimes virtuais. Propostas em tramitação no Senado buscam endurecer penas e tipificar novos crimes, com o objetivo de coibir ações criminosas. Especialistas alertam para a necessidade de melhorias contínuas na legislação para fechar lacunas que facilitam a atuação dos criminosos.

Impacto no cotidiano

A proliferação de crimes digitais tem gerado insegurança e prejuízos financeiros para a população, afetando a confiança nas transações online e na utilização de serviços digitais. Esta realidade reforça a importância de uma abordagem coletiva e coordenada, envolvendo governo, empresas e cidadãos para garantir um ambiente digital mais seguro.

Não há solução única, mas um conjunto delas. O crescente número de crimes digitais no Brasil sublinha a urgência de se adotar uma postura proativa na defesa cibernética. Somente através da colaboração e da conscientização coletiva será possível construir um futuro digital seguro para todos os brasileiros.

Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.

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