Jonathan é mais velho que eventos marcantes, como a invenção do telefone (1876), a construção da Torre Eiffel (1889) e até mesmo as duas guerras mundiais.
No coração do Atlântico Sul, na remota ilha de Santa Helena, vive uma verdadeira lenda da natureza: Jonathan, uma tartaruga-gigante-das-Seychelles (Aldabrachelys gigantea hololissa) que ostenta o título de animal terrestre mais velho do mundo. Com impressionantes 192 anos, Jonathan não é apenas um sobrevivente, mas uma testemunha viva de quase dois séculos de história, um símbolo de resiliência e longevidade que fascina cientistas, turistas e amantes da natureza.
Jonathan nasceu por volta de 1832, uma época em que o mundo era bem diferente. A Revolução Industrial estava em pleno vapor, o Brasil ainda era um império, e a eletricidade era apenas um sonho distante. Estima-se que ele tenha chegado a Santa Helena em 1882, aos 50 anos, como um presente para o então governador da ilha.
Desde então, fixou residência nos jardins de Plantation House, a residência oficial do governador, onde vive até hoje, cercado de cuidados e admiradores.
Registros históricos indicam que Jonathan é mais velho que eventos marcantes, como a invenção do telefone (1876), a construção da Torre Eiffel (1889) e até mesmo as duas guerras mundiais. Ele já conviveu, ainda que indiretamente, com figuras históricas como Charles Darwin e Napoleão Bonaparte, que passou seus últimos dias exilado em Santa Helena. Para Joe Hollins, veterinário responsável por seus cuidados, Jonathan é “um ícone, uma relíquia viva que conecta o presente ao passado”.
Gigante gentil com hábitos simples
Pesando cerca de 185 kg e medindo 1,2 metro de comprimento, Jonathan é uma figura imponente, mas sua personalidade é descrita como tranquila e afável. Sua rotina diária é pacata, como convém a um ancião de sua idade. Ele passa os dias vagando pelos gramados de Plantation House, tomando sol e desfrutando de uma dieta vegetariana cuidadosamente preparada.
Seu cardápio inclui frutas frescas, vegetais como cenoura e repolho, e, ocasionalmente, algumas guloseimas sazonais, como abóboras. “Ele adora comer e, mesmo com suas limitações, ainda mostra entusiasmo pela comida”, conta Teeny Lucy, uma das cuidadoras de Jonathan.
Apesar de sua vitalidade, os anos cobraram seu preço. Jonathan perdeu a visão e o olfato, o que o torna mais dependente de seus cuidadores. Ainda assim, sua audição permanece intacta, e ele responde a estímulos sonoros, como a voz de Hollins. Sua saúde é monitorada de perto, com exames regulares para garantir que ele continue confortável.
Surpreendentemente, Jonathan ainda demonstra energia em certas ocasiões, especialmente durante a temporada de acasalamento, quando tenta cortejar Frederika, uma de suas companheiras tartarugas.
Um símbolo de Santa Helena
Jonathan não é apenas um residente famoso, mas também uma atração turística e um embaixador de Santa Helena. Visitantes de todo o mundo viajam à ilha para conhecê-lo, e sua imagem estampa selos, moedas e souvenirs locais. Em 2022, quando completou 190 anos, a ilha celebrou com eventos especiais, incluindo uma exposição sobre sua vida e um bolo simbólico (que, claro, ele não comeu, já que prefere suas folhas verdes).
Sua longevidade também inspirou campanhas de conservação, destacando a importância de proteger espécies ameaçadas, como as tartarugas-gigantes, que enfrentaram séculos de exploração.
A tartaruga-gigante-das-Seychelles, espécie à qual Jonathan pertence, é nativa das ilhas Seychelles e Aldabra, no Oceano Índico. No passado, essas tartarugas foram caçadas por sua carne e óleo, o que dizimou suas populações. Hoje, esforços de conservação ajudaram a recuperar a espécie, mas Jonathan é um lembrete vivo dos desafios enfrentados por esses animais.
“Ele é um sobrevivente, mas também um alerta sobre como devemos cuidar do nosso planeta”, diz Lucy.
O segredo da longevidade
O que permite que Jonathan viva tanto? Especialistas apontam para uma combinação de fatores. Tartarugas-gigantes têm um metabolismo lento, o que reduz o desgaste celular. Sua dieta vegetariana, rica em nutrientes, também contribui para sua saúde. Além disso, o ambiente tranquilo de Santa Helena, livre de predadores e com clima ameno, proporciona condições ideais.
“Jonathan vive sem estresse, com comida farta e cuidados constantes. Isso é o mais próximo que um animal pode chegar de uma vida perfeita”, explica Hollins.
Curiosamente, Jonathan não é o único animal de longa vida. Outras tartarugas-gigantes já alcançaram idades avançadas, como Adwaita, uma tartaruga de Aldabra que viveu até 2006, com supostos 255 anos (embora a idade exata seja debatida). No entanto, Jonathan detém o recorde confirmado pelo Guinness World Records como o quelônio mais velho e o animal terrestre vivo mais idoso.
Um legado para o futuro
Enquanto Jonathan continua a desfrutar de seus dias ensolarados, sua história inspira reflexões sobre o tempo, a natureza e nossa responsabilidade com o meio ambiente. Ele é mais do que uma tartaruga; é um símbolo de resistência, paciência e harmonia com o mundo natural. Para os moradores de Santa Helena, ele é praticamente um membro da família.
“Jonathan faz parte de quem somos. Ele nos ensina a viver com calma e a valorizar cada dia”, diz Lucy.
Embora ninguém saiba quantos anos mais Jonathan viverá, seu legado já está garantido. Ele é uma ponte entre gerações, um embaixador da conservação e uma prova de que, com os cuidados certos, a vida pode ser extraordinariamente longa.
Enquanto ele mastiga suas folhas sob o sol de Santa Helena, o mundo celebra esse gigante gentil que, aos 192 anos, continua a encantar e ensinar.
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