Em meio às sanções imposta pela União Europeia (UE) contra Moscou, uma empresa registrada na Letônia, país-membro do bloco e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), exportou equipamentos industriais no valor de US$ 1,3 milhão (R$ 7,4 milhões) para a Rússia entre 2022 e 2024, já com a guerra da Ucrânia em andamento. As informações são do site investigativo independente The Insider.
A carga incluía dispositivos de automação fabricados por gigantes ocidentais como Siemens, Schneider Electric, Rockwell Automation e Intel e acabou nas mãos de firmas ligadas ao governo russo. Os componentes são aplicados em setores essenciais da economia russa, que ajudam a sustentar as Forças Armadas do país no conflito com a Ucrânia.
A KLC Group SIA, com sede em Jūrmala e fundada pelo cidadão letão Roberts Kalve, aparece como responsável pelas remessas. Entre os itens enviados estavam painéis de controle industrial, conectores, dispositivos de comutação, cabos, sistemas de proteção elétrica e sensores de medição.

Tais sistemas são fundamentais para o funcionamento da indústria pesada russa, aplicados em equipamentos que monitoram e controlam variáveis como temperatura, pressão e fluxo de gás em fábricas de setores críticos, como o químico e o energético. Apesar de tentativas de substituição por produtos chineses, a preferência russa por tecnologia ocidental persiste devido à confiabilidade superior dos equipamentos.
Documentos de transporte obtidos pelo The Insider revelam que o material foi despachado por rotas que incluíam o Cazaquistão e o Quirguistão, usando como intermediárias empresas locais identificadas como Tradeexpert, Company Electronics e Protorg.
Essas firmas atuavam como canais formais, mas as instruções vinham de duas empresas russas: ITC e ITC-Project, citadas em ações judiciais na Rússia e vinculadas ao setor de defesa. A papelada aponta ainda para destinos como Vilnius, Dresden e Istambul, embora os verdadeiros recebedores estivessem dentro do território russo.
Esse tipo de movimentação se insere em uma estratégia mais ampla adotada pelo Kremlin desde o início da guerra na Ucrânia: a chamada importação paralela. Com a saída de mais de mil empresas ocidentais do mercado russo, Moscou autorizou, por decreto, a entrada de produtos estrangeiros mesmo sem a anuência dos fabricantes.
A medida permitiu que bens de consumo, como roupas, eletroeletrônicos e carros de luxo, voltassem às prateleiras por meio de intermediários baseados em países aliados, casos de Cazaquistão e Quirguistão. A prática envolve uma rede de revendedores, geralmente dentro da União Econômica Eurasiática (UEE), que adquire os itens legalmente e os reexporta para a Rússia, muitas vezes com preços mais altos, mas sem restrições oficiais.
Aproveitando-se de tal estratégia, Moscou faz com que os equipamentos ocidentais provenientes da Letônia cheguem a empresas estratégicas russas como a fábrica de rádio Polet, que recebeu equipamentos “em cumprimento de uma ordem estatal de defesa”, e a JSC Zaslon, que obteve microchips Intel posteriormente identificados em tribunal como sendo de segunda mão.
A documentação dos processos arbitrais em solo russo reforça o envolvimento direto da KLC Group com os repasses. Já o Serviço Estadual de Receita da Letônia afirmou à agência de notícias Leta que o trânsito de bens sancionados pelo país rumo à Rússia é proibido, mesmo que o destino declarado seja um terceiro país.
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