Manoel Alves da Silva – professor, sociólogo e doutor em Ciências Socioambientais *
Minha intenção com este artigo é abrir um diálogo reflexivo sobre as eleições que se aproximam, tendo como eixo um personagem que, desde a década de 1970 até os dias atuais, ocupa um lugar de protagonismo na história do Brasil. Sua trajetória pessoal e política se confunde com os grandes dilemas, avanços e contradições do país nas últimas cinco décadas. Entender seu papel no presente exige revisitar o passado, compreender as transformações sociais, econômicas e políticas que moldaram o Brasil, bem como os desafios que persistem.
É a partir desse olhar que proponho uma análise sobre como esse personagem continua a impactar diretamente o cenário eleitoral e os rumos da nação.
Importante destacar: estas considerações não são achismos ou opiniões desconectadas da realidade. Elas estão firmemente ancoradas em dados de pesquisas eleitorais qualitativas e quantitativas divulgadas pelos principais institutos do país.
O problema do governo Lula não é comunicação, marketing ou narrativa. É estrutural. O “produto político” perdeu contemporaneidade, atratividade e deixou de seduzir o eleitor, o centro político e os setores produtivos do país.
As evidências são claras. Pesquisas indicam uma alta reprovação do governo, especialmente nas regiões Centro-Sul, entre o eleitorado urbano, setores produtivos e o empresariado. O dado mais revelador é o comportamento do centro político e do eleitor moderado — aqueles que votaram em Lula em 2022 mais por rejeição ao adversário do que por encantamento com seu projeto. Hoje, esses eleitores manifestam crescente desapontamento e frustração, mostrando-se politicamente órfãos.
O eleitor de 2025 é pragmático. Julga pelo bolso, pela conta de luz, pelo preço do supermercado, pela insegurança nas ruas e pela ausência de perspectivas. Se o governo não entrega, por que deveria ser reeleito em 2026?
Além disso, os dados mostram um desgaste acentuado na percepção de competência do governo, especialmente na condução da economia, segurança pública e gestão geral do país. Institutos como Datafolha, Quaest, Ipec, AtlasIntel e Paraná Pesquisas confirmam que as avaliações negativas superam consistentemente as positivas, com uma tendência consolidada ao longo dos meses.
O erro não está apenas aí. O governo trava um conflito aberto com os principais pilares produtivos do país. Adota uma postura ideológica contra o agronegócio — setor que representa mais de 25% do PIB, sustenta o superávit da balança comercial e gera milhões de empregos. Demonizar esse setor é suicídio estratégico.
A mesma lógica atinge a elite produtiva urbana — empresários da indústria, comércio, tecnologia e serviços —, tratados como inimigos, como se gerar riqueza fosse crime.
A contradição fica ainda mais evidente quando, de um lado, o governo exige respeito institucional, estabilidade jurídica e segurança para atrair investimentos e, de outro, incentiva movimentos como o MST a invadir propriedades rurais, violando a Constituição, os direitos de propriedade e ferindo a democracia.
Isso não é apenas um erro político. É uma agressão matricial à ordem constitucional, à democracia e ao Estado de Direito. Sem segurança jurídica e respeito à propriedade, não há desenvolvimento, investimento ou geração de empregos.
O centro político — formado por políticos profissionais, pragmáticos e sensíveis às dinâmicas do mercado eleitoral — percebe que o governo atual não tem atratividade. Não há sedução. Nem cargos, nem verbas, nem espaço no governo bastam quando não há um projeto de poder estável nem perspectiva de futuro.
Se o eleitor rejeita, o centro abandona e a elite produtiva é hostilizada, o que sobra? Como esse produto político poderia ser comprado novamente em 2026?
A única certeza no Brasil atual é a incerteza. Vivemos um tempo em que a incerteza tornou-se certeza. As dinâmicas sociais, econômicas e políticas são fluidas, instáveis e profundamente sensíveis às mudanças de humor da sociedade.
Nesse cenário, a política exige mais que velhos slogans e narrativas recicladas. Exige reinvenção. Exige ruptura com a lógica da guerra de classes e a construção de uma aliança sólida entre quem produz, trabalha e governa.
O Brasil não cresce demonizando quem gera riqueza. Não prospera atacando os setores que sustentam sua economia. E não se sustenta institucionalmente quando agride a Constituição e o Estado de Direito.
Conclusão
O relógio da história não para. Ele não espera por quem insiste em olhar para trás, nem perdoa quem não percebe a velocidade com que os ventos da sociedade mudam. No mercado eleitoral, como no mercado de consumo, quem não se reinventa, desaparece.
Lula, como candidato e projeto político, chega a uma encruzilhada: ou rompe com o passado, abandona a lógica da guerra ideológica contra quem produz, reconstrói pontes com a sociedade real — aquela que trabalha, empreende, paga impostos e gera riqueza — ou será tragado pela dinâmica que destrói qualquer produto que perde sua capacidade de seduzir o consumidor.
No mundo da incerteza, a única certeza é que quem não se adapta, não sobrevive. Na política, como no mercado, o eleitor não compra promessas velhas embaladas em discursos gastos.
*Manoel Alves da Silva – Professor, sociólogo e doutor em Ciências Socioambientais. Atua como pesquisador, consultor nas áreas socioambientais e analista de cenários sociopolítico-eleitorais.
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