Alinhamento planetário pode causar tsunamis e terremotos – verdade ou mentira?

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, nos últimos dias, um espetáculo raro tem enfeitado o céu: sete planetas aparecendo simultaneamente na paisagem celeste. Popularmente chamado de “alinhamento planetário”, o fenômeno acontece logo após o anoitecer e poderá ser observado em quase todo o mundo até a próxima semana, com a melhor data para visualização nesta sexta-feira (28).

Quatro desses planetas – Mercúrio, Vênus, Júpiter e Marte – são facilmente visíveis a olho nu. Saturno, por estar próximo demais do Sol, exige um pouco mais de atenção. Já Urano e Netuno, devido à grande distância da Terra, só podem ser observados através de binóculos ou telescópios. Saiba aqui como ver o fenômeno no céu da sua cidade.

Configuração do céu em 28 de fevereiro de 2025, com cinco planetas visíveis a olho nu no final da tarde. Com o cair da noite, Saturno e Mercúrio saem de cena, seguidos de Vênus. Júpiter desaparece de vista por volta das 22h, e Marte permanece observável até pouco antes das 2h da madrugada. Crédito: Stellarium Web

Mas, será que toda essa movimentação exerce alguma influência sobre a Terra? É possível que um alinhamento planetário provoque efeitos como tsunamis, terremotos e atividade vulcânica? Antes, vamos entender o que significa esse “alinhamento”.

De acordo com Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, esse não é o termo mais adequado para o que está acontecendo.

Segundo o especialista, os planetas compartilham um mesmo plano orbital e frequentemente aparecem próximos no céu ao longo da eclíptica, a linha imaginária por onde o Sol e os planetas parecem se mover. O verdadeiro alinhamento, no entanto, ocorre quando esses astros estão exatamente na mesma direção no espaço, o que não é o caso agora.

“Um termo que fica melhor aplicado é ‘desfile de planetas’, e o que merece destaque desta vez é que a diferença angular entre o primeiro e o último da ‘fila’ será a menor em milênios”, explica Zurita.

O guia de observação astronômica Starwalk Space explica claramente a diferença entre as designações:

  • Alinhamento planetário é um termo astronômico usado para descrever o evento em que vários planetas se reúnem, aparentemente próximos, em um lado do Sol ao mesmo tempo.
  • Desfile planetário é um termo coloquial que significa, no sentido mais amplo, que vários planetas estão presentes no céu em uma noite.

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  • O que é um alinhamento planetário?
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A Terra pode ser afetada por um alinhamento planetário?

Existem teorias que dizem que os alinhamentos planetários podem causar tsunamis, terremotos e outros desastres na Terra. No entanto, isso não passa de uma fake news, que já foi desmentida muitas vezes. 

O livro “O Efeito Júpiter” (1974), de John Gribbin e Stephen Plagemann, relata que um alinhamento em 10 de março de 1982 causaria catástrofes, incluindo um grande terremoto na falha de San Andreas – o que não aconteceu. Notou-se apenas alguma evidência de que naquele dia as marés globais podem ter sido 40 micrômetros (40 milésimos de milímetro) mais altas do que a média – algo praticamente imperceptível.

“Essa fake news foi desmentida por Isaac Newton mais de 300 anos antes desse estudo preocupar alguns desavisados”, disse Zurita. “Em sua obra ‘Philosophiae Naturalis Principia Mathematica’, publicada em 1687, que descreve a lei da gravitação universal, Newton concebeu a fórmula que descreve as forças que agem entre dois corpos com massa”.

Fórmula de Newton que descreve as forças que agem entre dois corpos com massa. Créditos: Buradaki – Shutterstock (fundo) / Wikimedia Commons (fórmula)

Aplicando esse cálculo, Zurita explica que a Lua no perigeu (ponto mais próximo da Terra) exerce uma força 12,07% maior do que quando está na distância média. Já no apogeu (ponto mais longe da Terra), ela exerce 10,22% menos força do que na distância média. “Então, essa força varia na ordem de 25% entre Lua no perigeu e Lua no apogeu”. Isso em se tratando do satélite natural da Terra, que é o corpo celeste mais próximo de nós.

No caso dos planetas, Júpiter, que é o mais massivo do Sistema Solar, tem uma atração gravitacional de menos de 1% da atração gravitacional da Lua, em sua distância média. Ou seja, é uma força extremamente pequena. “Se fosse possível todos os planetas ficarem alinhados em suas posições mais próximas da Terra, isso daria 1,7% apenas da força da atração gravitacional da Lua em sua distância média”, explica Zurita. 

Segundo o especialista, isso significa que “não existe qualquer situação, qualquer tipo de alinhamento planetário que possa interferir nas marés, em vulcanismo, alguma coisa assim, de maneira significativa, porque em nenhuma condição, nenhum desses planetas está próximo o suficiente para a sua gravidade ter força significativa aqui na superfície da Terra”.

Portanto, é MENTIRA. Um alinhamento planetário não causa tsunamis nem terremotos na Terra.

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