Usuários de drogas se concentram em pontos de SP fora da Cracolândia; veja mapa


Ricardo Nunes afirmou nesta terça-feira (13) estar surpreso com a queda vertiginosa dos usuários na Rua dos Protestantes, onde os usuários estavam cercados por gradis e um muro. Usuários de drogas concentrados na Avenida Doutor Arnaldo.
Reprodução/TV Globo
Após o esvaziamento repentino do fluxo de usuários de drogas na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo, um mapeamento feito pela TV Globo flagrou a presença de usuários de drogas em outros pontos da capital.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou nesta terça-feira (13) estar surpreso com a queda vertiginosa dos usuários na Rua dos Protestantes, onde ficavam confinados por gradis e atrás de um muro construído pela própria prefeitura. Alvo de críticas, o espaço chegou a ser chamado de “curral humano” pela Defensoria Pública.
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Durante a madrugada desta terça, a Rua dos Protestantes, que já abrigou centenas de usuários, estava praticamente vazia. Na Rua Helvétia, outro ponto da Cracolândia, somente um pequeno grupo caminhava pela calçada.
Em contrapartida, uma equipe da TV Globo encontrou pontos de concentração de usuários em bairros fora da Cracolândia nas últimas semanas: Vila Campanela e Tatuapé, na Zona Leste, e Consolação, Bom Retiro, Brás e Vila Buarque, no Centro.
Depois, nesta terça-feira (13), o g1 localizou um grupo de cerca de 100 usuários de drogas e moradores de rua na Praça Marechal Deodoro.
Esses pontos mostram que, embora o fluxo tradicional da Cracolândia tenha diminuído nos últimos dias, a crise não foi solucionada — apenas redistribuída pela capital.
Pontos de uso de droga em São Paulo
Arte;g1
Em entrevista à imprensa, Nunes disse que o fluxo foi reduzindo de forma gradativa ao longo dos anos graças a atuação da assistência social, da saúde e das forças de segurança. Contudo, o prefeito reitera que o problema “não está resolvido, não vamos ter essa ilusão”.
Um dos principais motivos apontados para a dispersão na Rua dos Protestantes foi a operação conjunta do governo e da prefeitura na Favela do Moinho, região onde atuava um dos principais traficantes da área, conhecido como “Léo do Moinho”.
Com a prisão do criminoso e o desmonte de estruturas usadas pelo tráfico, a oferta de drogas teria sido significativamente afetada, forçando mudanças nos locais de permanência dos usuários.
A administração municipal, no entanto, ainda não informou oficialmente para onde foram os usuários que deixaram a região da Cracolândia.
Apesar da falta de dados oficiais sobre os novos pontos, o vice-prefeito Ricardo Matarazzo elogiou a atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e destacou a queda no fluxo como um avanço. “Parabéns à GCM. Fluxo está quase zerado”, afirmou em uma publicação nas redes sociais.
A ONG Craco Resiste afirma que houve truculência contra os usuários de drogas. “Os relatos colhidos indicam que houve uma orientação para que a Guarda Civil Metropolitana aumentasse a violência das abordagens”, diz a entidade.
Segundo a ONG, “as pessoas ouvidas afirmam categoricamente que os guardas passaram a bater mais no rosto e na cabeça das pessoas, para além das outras agressões já cotidianas na região, com uso de spray de pimenta e apropriação de pertences pessoais, como roupas e dinheiro”.
Dispersão de fluxo não é nova
A Cracolândia é um problema antigo da cidade que envolve questões de saúde, segurança pública e assistência social. Ao longo de 30 anos, houve diversas tentativas do poder público de ajudar os usuários e combater o tráfico, mas nenhuma de fato resolveu a situação.
A dispersão do fluxo de usuários de drogas para outras regiões de São Paulo não é um fenômeno inédito. Em 2012, durante a gestão do então prefeito Gilberto Kassab, a Operação Centro Legal resultou na pulverização do fluxo por diversos bairros como Barra Funda, Higienópolis, Luz, Campos Elíseos, Santa Cecília e República. Essas regiões passaram a ser conhecidas como “minicracolândias”
Mais recentemente, em março de 2022, uma nova dispersão ocorreu após operações policiais e ações da prefeitura, levando os usuários a se deslocarem para locais como o Largo do General Osório, Praça Júlio Mesquita e, posteriormente, para a Praça Princesa Isabel. Na época, essa movimentação foi atribuída a ordens do crime organizado e às frequentes intervenções da Guarda Civil Metropolitana.
Prefeito ficou surpreso com a queda do fluxo da Cracolândia
O que diz a Prefeitura
“Antes e agora: ações intensivas da Prefeitura reduzem número de dependentes químicos no centro da cidade
Desmantelamento de hotéis dominados pelo tráfico, instalação de câmeras de segurança e fim de barracas no “fluxo” colaboram para a diminuição do uso da droga na região central
A Prefeitura de São Paulo tem intensificado desde 2021 políticas públicas de atendimento aos usuários de crack, especialmente no centro da cidade. Este ano, o número de abordagens e acolhimentos bateu recorde no mês de abril, ao mesmo tempo em que se constatou, também neste mês, redução do número de dependentes químicos na chamada Cena Aberta de Uso.
O volume de abordagens nessa região em janeiro deste ano foi de 6.742. Já no mês passado, foram realizadas 11.037 ações desse tipo. Em relação aos atendimentos, a Prefeitura também intensificou os trabalhos, passando de 5.532 em janeiro para 10.061 no mês passado.
A intensidade das ações nas ruas tem feito com que aumentasse o atendimento a usuários nos serviços de assistência social e de saúde. Só nesta segunda-feira, o CAPs Redenção, que atua naquela região, registrou o atendimento direto de 45 pessoas, além de 15 encaminhamentos para o HUB – equipamento em que prefeitura e governo do estado trabalham conjuntamente.
O volume de acolhimento nesta segunda-feira no CAPs Redenção é o maior do ano. E acontece ao mesmo tempo em que prefeitura e governo do estado reforçam as ações de combate ao tráfico na região central. Também no mês passado uma grande operação foi iniciada pelo governo do estado em parceria com a prefeitura para retomada do espaço da favela do Moinho, onde, segundo investigações, funcionaria um bunker do tráfico de drogas que abastecia a área da cracolândia.
A Prefeitura, por sua vez, tem criado outros mecanismos para reduzir o número de usuários. Instalou câmeras do Smart Sampa que ajudaram em processos investigatórios, fechou hotéis dominados por traficantes, criou novos atendimentos de saúde (como Serviço de Cuidados Prolongados e ampliação de CAPs). Com essas e outras ações, a administração passou a reduzir a atuação de traficantes. Ao mesmo tempo, passou a tirar cada vez mais usuários da rua.
O painel de Monitoramento da Cena Aberta de Uso, com dados públicos, já vinha mostrando a redução sistemática de usuários naquela região. Dados do Dronepol (sistema capaz de contabilizar o número de pessoas na CAU) informavam em 6 de maio de 2024, por exemplo, uma média de 651 pessoas no período vespertino. Um ano depois, 6 de maio deste ano, o número de usuários no mesmo período caiu para 103.
“Temos ali uma equipe da GCM, da assistência social, da saúde, todos os dias convencendo essas pessoas a irem para tratamento. Com o abafamento realizado pelas operações contra o tráfico de drogas, evidentemente, sem a droga presente, você tem uma facilidade maior de convencer as pessoas a irem para tratamento”, explicou o prefeito Ricardo Nunes, ressaltando que o trabalho precisa continuar. “Eu não diria que hoje está resolvido. Mas nós estamos caminhando para poder resolver essa situação.”
O trabalho da prefeitura, por meio das secretarias de Assistência Social, Direitos Humanos, Saúde, Segurança e Subprefeituras, capitaneado pelo prefeito Ricardo Nunes, tem colocado na rua milhares de agentes públicos nos últimos quatro anos. Cerca de 1.600 agentes da Saúde e da Assistência Social realizam abordagens diárias em locais de ocupação momentânea de pessoas em situação de rua, oferecendo tratamento e acolhimento nas 4.450 vagas de 143 equipamentos municipais e estaduais – sendo 1.500 vagas e 71 equipamentos exclusivos para tratamento de dependência química.”
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