Homem que deixou ex-companheira paraplégica em tentativa de feminicídio é condenado a quase 19 anos de prisão

“O que eu posso dizer para as mulheres que estão em relacionamentos abusivos é: se protejam. Eu tinha medida protetiva contra ele, mas acabei tirando porque ele é o pai dos meus filhos e não queria que ele ficasse manchado com isso. No fim, eu quem fiquei”. O alerta para as mulheres que foram ou são vítimas de violência doméstica foi dado por Suelen Aparecida de Melo, após ver condenado a quase 19 anos de prisão o ex-companheiro que, em uma tentativa de feminicídio, a destinou a passar o resto da vida em uma cadeira de rodas.   

O crime foi registrado no município de Indaial há um ano e dois meses e o réu, um homem de 40 anos denunciado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), foi condenado pelo Tribunal do Júri de Indaial a 18 anos e 11 meses de reclusão, em regime inicial fechado, por tentativa de feminicídio. A sessão, realizada nesta terça-feira (15), no Fórum da Comarca de Indaial durou mais de 10 horas e contou com depoimento da vítima e presença de familiares.  

Suelen tinha 31 anos quando foi atacada brutalmente com golpes de faca pelo ex-companheiro, com quem manteve um relacionamento de 15 anos e teve 5 filhos. Segundo o Ministério Público, o réu não aceitava o fim do relacionamento e, motivado por ciúmes, desferiu, ao menos, quatro facadas, que deixaram Suelen paraplégica.  

“Tudo mudou depois daquele dia.  Estava em casa com meu filho mais velho de 15 anos, quando fui surpreendida por ele. Ele entrou na minha casa, me enforcou e me arrastou até a sala, quando pegou uma faca e me golpeou. Sangrei muito. Meu filho viu tudo e pedia o tempo todo para o pai dele parar com as agressões. Minha mãe, que é minha vizinha, tentou intervir, mas também foi agredida por ele”, relembra Suelen.   

Após ser esfaqueada pelo ex-companheiro, Suelen foi socorrida e encaminhada ao Hospital de Indaial, onde passou por cirurgias e ficou internada na UTI por 13 dias. Quando acordou do coma, ela percebeu que não sentia o movimento das pernas e exames de imagem comprovaram: ela ficou paraplégica. A violência extrema sofrida pela vítima lembra o emblemático caso de Maria da Penha, que também ficou paraplégica após sofrer um atentado do então companheiro e se tornou símbolo nacional na luta contra a violência doméstica. 

Como o caso ocorreu

O crime ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2024, por volta das 12h50 e chocou a comunidade local pela violência e frieza com que foi executado. O autor estava morando em São Paulo e chegou à casa da vítima de surpresa. Entrou sem dificuldades, porque a porta estava aberta. Mesmo após pedidos para não cometer o crime, ele prosseguiu com as agressões, que resultaram nos ferimentos que deixaram Suelen sobre uma cadeira de rodas.  O réu chegou a fugir, mas foi preso no mesmo dia. Desde então, cumpria prisão preventiva no Presídio Regional de Blumenau.  

A Promotoria de Justiça de Indaial aponta que o ataque teve motivação passional e caracteriza-se como tentativa de feminicídio – crime previsto no Código Penal para casos de homicídio praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino. “O Ministério Público atuou com firmeza para que esse crime não ficasse impune. Assim como no caso de Maria da Penha, a vítima teve sua vida transformada por completo em razão da brutalidade de um homem que não aceitava o fim da relação”, destaca a Promotora de Justiça, Patrícia Castellem Strebe, que conduziu a acusação.  

Para a mãe de Suelen, Rosângela de Melo, que também acompanhou o júri, a justiça foi feita e o Ministério Público cumpriu o seu papel. “Só agradecer pela condução da audiência de hoje. Sem o Ministério Público não conseguiríamos esse resultado. A saúde plena da minha filha, não teremos de volta, mas agradeço a Deus por ela estar viva e pelo ex-companheiro dela pagar pelo crime cometido”, finaliza a auxiliar de serviços gerais.  

Vida sobre rodas

“Não é fácil viver dessa forma. Em um dia eu estava super bem, de pé, cuidando dos meus filhos, trabalhando. Há um ano e dois meses, minha vida foi transformada por conta de ciúmes e pelo fato dele não aceitar que após o término do nosso relacionamento, eu estava com outra pessoa. Hoje vivo de pensão por invalidez e ainda tenho que criar meus cinco filhos sozinha. Conto com ajuda de familiares, porque tudo ficou mais limitado. Estou viva, mas só eu sei as marcas que carrego dentro de mim”, reflete Suelen.  

A vítima continua vivendo na mesma casa no bairro Warnow, em Indaial. O imóvel precisou passar por adaptações para a nova realidade de Suelen.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC

O post Homem que deixou ex-companheira paraplégica em tentativa de feminicídio é condenado a quase 19 anos de prisão apareceu primeiro em Alto Vale Agora.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.