Por que todo mundo usa o Google? Estudo tem uma teoria

Um experimento conduzido por pesquisadores de Stanford, MIT e da Universidade da Pensilvânia sugere que o domínio da busca do Google não está ligado apenas à qualidade do serviço. A adesão massiva ao buscador pode ser explicada por fatores como inércia, falta de atenção e percepção equivocada sobre concorrentes. O estudo foi citado como base para argumentos apresentados por autoridades dos Estados Unidos em processos antitruste contra o Google.

Segundo os autores, muitos usuários simplesmente nunca testaram alternativas como o Bing, da Microsoft. Ao serem expostos a essa experiência por meio de um incentivo financeiro, parte significativa deles manteve o uso do novo buscador mesmo após o fim do pagamento.

Exposição ao Bing levou a mudança de percepção

O experimento envolveu mais de 2.300 participantes nos Estados Unidos, todos usuários de computadores com navegadores Chrome ou Edge. A maioria (96%) utilizava o Google como buscador padrão. Os participantes foram divididos em grupos, com diferentes estímulos para alterar temporariamente seu mecanismo de busca para o Bing.

Um grupo recebeu US$ 10 para utilizar o Bing por 14 dias. Durante o período, este grupo registrou um aumento significativo na participação de mercado do buscador da Microsoft. Passada a fase de incentivo, cerca de 22% dos usuários decidiram continuar usando o Bing — um número considerado expressivo pelos pesquisadores. Entre os que continuaram com o Bing, 64% afirmaram que o serviço foi “melhor do que esperavam” e 59% disseram ter se acostumado ao seu uso.

Pessoa segurando celular com Bing aberto
Pesquisa mostrou que uma porção significativa de usuários migraram definitivamente para o Bing quando houve incentivo financeiro por alguns dias (Imagem: Rokas Tenys/Shutterstock)

Mesmo pagamentos menores tiveram impacto. Com apenas US$ 1, a fatia de buscas feitas no Bing subiu para 32% durante o período de incentivo. Isso mostra que a resistência à mudança é mais fraca do que se supunha, e que muitos usuários não têm preferências fortes entre os buscadores — apenas não cogitam alternativas.

Fatores como inércia e falta de informação favorecem o Google

O estudo também mediu a influência de custos de mudança, telas de escolha ativa e troca do buscador padrão. Uma das conclusões mais relevantes é que a atenção limitada dos usuários é um dos principais fatores que sustentam a liderança da busca do Google. Cerca de 34% dos participantes eram considerados “permanentemente desatentos”, ou seja, não trocavam de buscador mesmo se preferissem outra opção.

Telas que ofereciam uma escolha ativa de mecanismo de busca tiveram pouco efeito prático: o grupo exposto a esse recurso apresentou um aumento de apenas 1,1 ponto percentual na participação do Bing. Em contrapartida, mudar o buscador padrão automaticamente gerou uma adesão inicial de 73% ao Bing, que caiu para 46% após dois meses, mas ainda assim representou um aumento considerável em relação à linha de base.

Acesso ao buscador não garante comparação justa

Um dos argumentos do Google em sua defesa é que “a concorrência está a um clique de distância”. No entanto, os pesquisadores indicam que essa facilidade não se traduz em escolha efetiva. O simples fato de o Google ser o padrão impede a experimentação com alternativas, o que distorce a percepção de qualidade.

Com base nos resultados, os autores estimam que, se as pessoas fossem incentivadas a testar outro buscador antes de decidir qual usar, a participação do Google cairia de 90% para cerca de 75%. Ainda dominante, mas com uma concorrência mais justa e informada.

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Estudo influencia propostas de mudanças regulatórias

As descobertas foram utilizadas por procuradores estaduais nos EUA para propor medidas corretivas no processo antitruste. Entre elas, está a exigência de que o Google financie campanhas de informação ao consumidor, incluindo pagamentos temporários para que usuários experimentem buscadores concorrentes. Também foram discutidas medidas mais radicais, como a proibição de o Google pagar para ser o buscador padrão em navegadores e sistemas operacionais.

google quebrado
Google enfrenta batalhas regulatórias por acusações de monopólio de busca e anúncios (Imagem: Sergei Elagin / Shutterstock.com)

A pesquisa conclui que os motores de busca devem ser tratados como “bens de experiência”, ou seja, só podem ser devidamente avaliados após o uso. Assim, políticas que estimulem esse tipo de aprendizado podem ser mais eficazes para reduzir a concentração de mercado do que as que apenas oferecem uma escolha genérica ao usuário.

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