
A confiança é um elemento invisível, mas fundamental, que sustenta todas as interações humanas. Seja na escolha de um amigo, na relação com um colega de trabalho ou na construção de um romance, a capacidade de confiar no outro determina a qualidade e a profundidade dos laços. No entanto, nem sempre é fácil discernir em quem depositar essa confiança. Algumas pessoas transmitem segurança de imediato, enquanto outras despertam suspeitas quase intuitivas. Mas o que está por trás dessa sensação? E como reconhecer os sinais de que alguém pode não ser digno de confiança?
A Ciência Por Trás da Confiança
A confiança não é apenas uma escolha emocional; ela está enraizada em processos biológicos e evolutivos. Segundo Lilian Corrado, psicóloga da Fundação Aiglé, quando confiamos em alguém, nosso cérebro libera oxitocina, conhecida como “hormônio do apego”. Essa substância está associada a sensações de prazer, segurança e conexão. Em contrapartida, a desconfiança ativa mecanismos de defesa primitivos, como o sistema de alerta, que nos prepara para situações de perigo.
Do ponto de vista evolutivo, os humanos desenvolveram uma habilidade aguçada para detectar incongruências. Gestos hesitantes, expressões faciais inconsistentes ou palavras que não correspondem às ações são processados rapidamente pelo cérebro, gerando um “alarme interno”. Essa capacidade, chamada de “olfato social”, é um legado de nossos ancestrais, que dependiam da cooperação para sobreviver.
Por Que Algumas Pessoas Despertam Desconfiança?
A resposta está na combinação entre intuição e experiência. Viviana Wapñarsky, psicóloga do Hospital de Clínicas, explica que a confiança se constrói com base em três pilares: honestidade, integridade e consistência. Quando alguém falha repetidamente nesses aspectos, mesmo que de forma sutil, nosso sistema de alerta é acionado. Mas quais comportamentos específicos indicam que uma pessoa pode não ser confiável?
1. Incoerência Entre Palavras e Ações
Um dos sinais mais evidentes é a falta de alinhamento entre o que a pessoa diz e o que faz. Promessas não cumpridas, compromissos cancelados sem explicação sólida ou justificativas vagas para atrasos são exemplos clássicos. Por exemplo, alguém que sempre se oferece para ajudar em projetos, mas nunca aparece no dia combinado, demonstra inconsistência. Esse padrão gera dúvidas sobre sua integridade.
2. Egocentrismo nas Interações
Relacionamentos saudáveis são baseados em troca mútua. Se um amigo ou colega só fala sobre si mesmo, sem demonstrar interesse pela sua vida, é um sinal de alerta. Imagine uma situação em que você compartilha uma dificuldade pessoal, e a pessoa rapidamente desvia o assunto para falar de suas próprias conquistas. Esse comportamento revela falta de empatia e pode indicar que o indivíduo prioriza apenas seus interesses.
3. Relacionamentos Secretos ou Ambíguos
Em contextos românticos, o sigilo excessivo é um indicativo de problemas. Se após meses de namoro seu parceiro evita apresentá-lo a familiares ou amigos, ou insiste em encontros sempre em locais privados, é válido questionar as motivações. A transparência é essencial para a confiança, e a ausência dela pode esconder inseguranças ou até mesmo duplicidade de intenções.
4. Excesso de Reserva ou Seletividade
Embora a privacidade seja um direito de todos, pessoas que agem com extremo cautela ao compartilhar detalhes básicos de suas vidas podem estar ocultando informações. Por exemplo, um colega de trabalho que se recusa a falar sobre seu passado profissional ou que dá respostas evasivas a perguntas simples. Essa atitude, principalmente se combinada com outras bandeiras vermelhas, sugere falta de transparência.
5. Incapacidade de Manter Confidências
Se alguém revela segredos alheios com facilidade, é provável que faça o mesmo com os seus. Um exemplo cotidiano: você conta a um colega que está pensando em mudar de emprego e, dias depois, descobre que outros membros da equipe já sabem do assunto. Essa quebra de confidencialidade não apenas mina a confiança, mas também expõe a falta de respeito pelos limites alheios.
6. Falta de Responsabilidade Sobre Erros
Pessoas confiáveis reconhecem quando cometem equívocos e buscam repará-los. Já aquelas que culpam terceiros por seus fracassos, ou minimizam a gravidade de seus erros, demonstram imaturidade emocional. Imagine um líder que atribui o fracasso de um projeto exclusivamente à equipe, sem considerar suas próprias falhas na gestão. Essa postura revela uma tendência à manipulação e à irresponsabilidade.
7. Comportamento Superficial ou Manipulador
Conversas que nunca ultrapassam temas triviais, elogios excessivos sem motivo aparente ou tentativas de culpar os outros por problemas são táticas comuns de indivíduos manipuladores. Por exemplo, alguém que constantemente faz comentários como “você é a única pessoa em quem posso confiar”, enquanto espalha fofocas pelas costas. Esse jogo de aparências visa criar laços falsos para benefício próprio.
Os Riscos da Desconfiança Excessiva
Embora identificar pessoas não confiáveis seja crucial, viver em estado de alerta constante também tem consequências. A desconfiança crônica eleva os níveis de cortisol (hormônio do estresse), contribuindo para ansiedade, insônia e até problemas cardiovasculares. Além disso, ela prejudica a formação de vínculos profundos, já que a pessoa desconfiada tende a se isolar ou a adotar uma postura defensiva.
Segundo Wapñarsky, traumas passados — como traições em relacionamentos ou experiências familiares conturbadas — podem distorcer nossa capacidade de confiar. Nesses casos, a terapia é uma ferramenta valiosa para ressignificar experiências e desenvolver critérios mais saudáveis na escolha de parceiros sociais.
Estratégias Para Lidar Com Pessoas Não Confiáveis
Nem sempre é possível cortar relações com alguém que desperta desconfiança, especialmente se é um familiar ou colega de trabalho. Para essas situações, os especialistas sugerem abordagens práticas:
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Controle a Exposição Emocional: Mantenha interações superficiais e evite compartilhar informações pessoais sensíveis. Se um colega já demonstrou fofocar, por exemplo, converse sobre temas neutros, como hobbies ou assuntos profissionais genéricos.
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Estabeleça Limites Claros: Defina o que é aceitável e comunique isso de forma assertiva. Se um amigo frequentemente cancela planos na última hora, diga: “Entendo que imprevistos acontecem, mas preciso de aviso prévio para me organizar.”
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Observe Padrões Comportamentais: Analise se a pessoa tem histórico de ações contraditórias. Um parceiro que promete mudar após uma discussão, mas repete os mesmos erros, está demonstrando um padrão de incoerência.
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Busque Redes de Apoio: Converse com pessoas de confiança sobre suas percepções. Um amigo ou mentor pode oferecer uma perspectiva externa, ajudando a discernir se suas suspeitas são fundamentadas.
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Pratique a Autoproteção Sem Paranóia: Confie na sua intuição, mas a valide com fatos. Se alguém insiste em fazer promessas grandiosas sem evidências concretas, questione: “Como você planeja colocar isso em prática?”
O Equilíbrio Entre Confiar e Proteger-se
A confiança não precisa ser absoluta nem inexistente. Trata-se de um processo gradativo, onde avaliamos o comportamento do outro ao longo do tempo. Como destacou Rhee Kun Hoo em seu livro, uma sociedade onde a confiança é cultivada tende a ser mais colaborativa e menos desgastante. No nível individual, isso significa escolher relações que reforcem nossa segurança emocional, enquanto mantemos a prudência necessária para evitar decepções.
Ao reconhecer os sinais de alerta e adotar estratégias de proteção, é possível navegar pelos relacionamentos com mais clareza e menos ansiedade. A chave está em equilibrar abertura e discernimento, lembrando que a confiança — quando bem direcionada — é a base para conexões verdadeiramente significativas.
Esse Quais são os 7 sinais de que uma pessoa não é confiável, segundo os especialistas foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.