Escândalo no INSS revela rede milionária de fraudes e viagens a paraísos fiscais

Corrupção volta ao topo das preocupações da elite brasileira

Casos de corrupção sempre rendem histórias inacreditáveis. O caso da ladroagem desbragada praticada contra os idosos do INSS é mais um triste capítulo que explica por que, segundo levantamento realizado em 2024 com dois mil entrevistados em todo o país pela empresa Quaest, as classes baixa e média temem a violência e o desemprego, enquanto a classe alta teme a corrupção.

Ladrão que rouba ladrão

Principal motivo que acabou resultando na independência do Brasil, a corrupção é um traço marcante que se entrelaçou à vida nacional desde o descobrimento e o processo de colonização do país pela família imperial portuguesa. Vários representantes nomeados desde Lisboa pela Coroa roubavam parte dos lucros que deveriam ser enviados à sede do império, em Portugal. Para encobrir os prejuízos, os nobres e notáveis ladrões que administravam as capitanias hereditárias aumentavam impostos locais, enriqueciam rapidamente — até que isso se tornasse insuportável. Resultado: a mais rentável colônia portuguesa um dia declarou sua independência. Embora a resistência tenha sido violenta e devastadora para alguns, para outros, tudo resultou em grandes fortunas.

Fac-símile do relatório “Índice de Percepção da Corrupção 2024”, da ONG Transparência Internacional. Print/Editoria de Artes Ver-o-Fato

Corrupção no Brasil avança, segundo ONG

De lá para cá, a corrupção é um “atributo” de vários políticos ao longo da história — e caso endêmico quando se trata do Partido dos Trabalhadores em sua passagem pelo mais alto cargo do país, com alguns dos maiores escândalos de corrupção da história mundial.

Segundo o último relatório da ONG Transparência Internacional, que mede os níveis de percepção da corrupção no setor público de 180 países/territórios em todo o mundo, no documento chamado Índice de Percepção da Corrupção 2024, ao qual o Ver-o-Fato teve acesso, o Brasil está posicionado com 34 pontos em uma escala que vai de 0 a 100.

  • Países com pontuação entre 80 e 100 são considerados altamente íntegros:
    • Dinamarca (90)
    • Finlândia (88)
    • Cingapura (84)
    • Nova Zelândia (83)
    • Luxemburgo, Noruega, Suíça (81)
    • Suécia (80)
  • Já países entre 0 e 50 são considerados altamente corruptos. Na mesma posição que o Brasil (34 pontos) estão: Malauí, Nepal, Níger, Tailândia e Turquia. Nas últimas posições estão:
    • Iêmen (13)
    • Síria (12)
    • Venezuela (10)
    • Somália (9)
    • Sudão do Sul (8)
Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”. Foto: Reprodução/Redes sociais

Companhia da pesada

Além do indivíduo Antonio Carlos Camilo Antunes, citado pela PF como “Careca do INSS”, suspeito de ser um dos maiores beneficiários dos desvios de recursos dos contracheques de milhões de aposentados, surge agora outro personagem cotado para figurar nos anais da corrupção no Brasil.

Lembrando a história

Os não tão velhos certamente se lembram da advogada carioca Jorgina de Freitas, responsável pela então maior fraude ocorrida no Brasil contra a Previdência Social. Condenada em 1992, organizou um esquema de desvio de verbas de aposentadorias estimado em US$ 500 milhões, segundo a Procuradoria-Geral do INSS. Posteriormente, a Advocacia-Geral da União afirmou que o montante desviado foi de aproximadamente R$ 2 bilhões. O esquema ficou conhecido como o “escândalo da Previdência”.

Cecília Rodrigues Mota é investigada na Operação Sem Desconto. Foto: Reprodução/CRM Advogados

A história se repete?

A Polícia Federal suspeita e busca provas que podem complicar a situação de outra advogada, também suspeita de ter recebido grandes somas de dinheiro. Trata-se da Dra. Cecília Rodrigues Mota, um dos principais alvos da Operação Sem Desconto, que apura o novo escândalo no INSS.

Paraísos fiscais

A PF suspeita que os operadores do esquema enviavam o dinheiro desviado ao exterior, incluindo paraísos fiscais como Miami e Panamá. O relatório aponta que os investigados faziam viagens frequentes, de curta duração e sempre em grupos — para garantir que mais malas pudessem ser levadas com dinheiro.

Destinos

Entre os destinos preferidos de Cecília Rodrigues Mota estão: Dubai, Lisboa e Paris. Em uma das idas para Dubai, com mais três pessoas, foram despachadas 31 malas — isso mesmo, 31 malas — o que, segundo a PF, é algo incomum para uma viagem internacional de sete dias. As viagens da advogada e de outros integrantes do esquema se intensificaram a partir de 2024, exatamente no período em que houve uma explosão de descontos irregulares na folha de pagamento dos aposentados.

Cadê o raio-x?

Um fato que chama atenção: quem já viajou de avião, seja em voos domésticos ou internacionais, sabe que as bagagens despachadas passam por detectores de raio-x que poderiam facilmente identificar o conteúdo interno. A não ser que, após despachadas, nada disso tenha ocorrido — o que compromete a própria PF, responsável pelo controle alfandegário do país.

Outro suspeito

Outro investigado pela PF é Domingos Sávio de Castro, que mantinha relações com algumas entidades e intensificou suas viagens desde novembro de 2023, tanto nacionais quanto internacionais. Seus destinos preferidos também eram o Panamá e Miami — paraísos fiscais. De acordo com a PF, o padrão de viagens é compatível com operações de transporte de valores.

Alta frequência

A alta frequência, os intervalos curtos e o número elevado de passageiros e malas despachadas sugerem uma logística para movimentação de dinheiro. Mas o relatório da PF ainda não explica como os suspeitos conseguiam embarcar com os supostos valores, numa audaciosa operação de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

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