O protesto solitário de Mei Shilin, de 27 anos, sacudiu Chengdu, no sudoeste da China, ao desafiar abertamente o regime com faixas que pediam reformas políticas e democracia. O jovem foi detido pela polícia poucos dias depois de pendurar as mensagens em um viaduto próximo à estação de ônibus Chadianzi, segundo fontes ouvidas pela rede Radio Free Asia (RFA).
As autoridades adotaram medidas de detenção criminal contra Mei, investigando se ele teria conexões no exterior. “Se nenhuma evidência substancial de conluio com forças estrangeiras for encontrada, ele será tratado pela polícia de Chengdu”, disse Qin, morador local que preferiu ser identificado apenas pelo primeiro nome. Em caso contrário, o jovem poderá ser entregue ao Departamento de Segurança do Estado.
As faixas exibidas no protesto de 15 de abril traziam mensagens diretas: “Sem reforma do sistema político, não haverá rejuvenescimento nacional”, “O povo não precisa de um partido político com poder irrestrito” e “A China não precisa de alguém apontando a direção, a democracia é a direção”. Desde então, Mei está desaparecido e pode enfrentar acusações de “provocar confusão e criar problemas”, uma prática comum usada para enquadrar dissidentes políticos no país.
O episódio remeteu à memória recente de Peng Lifa, o “Homem da Ponte” de Beiojing, que em 2022 pendurou faixas semelhantes na Sitong Bridge durante “Movimento do Livro Branco“, assim chamado simbolicamente porque os manifestantes seguravam folhas de papel em branco durante os protestos, uma forma de denunciar a censura imposta pelo regime e os duros bloqueios da pandemia de Covid-19.
“Nas últimas duas semanas, o Departamento de Segurança Doméstica e a polícia de trânsito de todo o sistema de segurança pública de Chengdu têm estado extremamente tensos”, relatou Qin.
Segundo Yang, outro morador de Chengdu que também falou sob anonimato, Mei trabalhou em uma empresa de tecnologia antes de seu protesto e já havia tentado recorrer ao governo para resolver uma disputa trabalhista, na qual julga ter sido “tratado de forma injusta”.
Du Wen, ex-funcionário do governo chinês e hoje dissidente no exterior, contou que recebeu de Mei um vídeo de 13 segundos, fotos dos banners e uma cópia de seu documento de identidade no dia do protesto. Em sua última mensagem, segundo a fonte, o jovem escreveu que havia preparado os slogans por mais de um ano e desejava que a mensagem fosse amplamente divulgada.
“Ele acreditava que, como um chinês, enfrentou injustiças e queria gritar, mesmo que fosse despedaçado”, relatou Du.
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