Usando dados de arquivo da missão InSight, aposentada pela NASA em 2022, cientistas acreditam ter encontrado pistas de um antigo oceano escondido sob a superfície de Marte. As novas evidências indicam a presença de água líquida presa entre cinco e oito quilômetros abaixo do solo, em uma camada porosa da crosta do planeta.
Em poucas palavras:
- Dados da missão InSight, da NASA, sugerem água líquida sob a crosta de Marte;
- A água estaria entre cinco e oito km abaixo da superfície;
- Pode ser parte da água que desapareceu do antigo oceano marciano;
- A infiltração ocorreu por rachaduras causadas por impactos de meteoritos;
- Além de ser um ambiente propício à vida, a água líquida pode ajudar futuras missões a Marte;
- Novas sondas e brocas são necessárias para confirmar a descoberta.
Durante anos, pesquisadores vêm tentando entender para onde foi a água que um dia cobriu Marte. Hoje seco e frio, o planeta já teve rios, lagos e até oceanos em sua superfície. Essa era aquática ocorreu há bilhões de anos, nos períodos Noachiano e Hesperiano.

Desaparecimento da água em Marte intriga cientistas
Com o tempo, o Planeta Vermelho perdeu seu campo magnético e parte da atmosfera. Sem proteção, grande parte da água superficial evaporou e escapou para o espaço. Outra parte ficou presa no gelo das calotas polares ou absorvida por rochas.
Mas essas explicações não são suficientes. Um estudo de 2021 aponta que falta ainda uma enorme quantidade de água – o bastante para cobrir todo o planeta com um oceano global entre 700 e 900 metros de profundidade.
Uma hipótese é que a água pode ter penetrado a crosta marciana. Durante o período de bombardeio intenso por meteoros, a superfície de Marte ficou cheia de rachaduras e canais. A água pode ter usado essas rotas para se infiltrar.
A grande diferença é que, no subsolo profundo, as temperaturas são mais altas. Isso impediria que a água congelasse, mantendo-a em estado líquido mesmo em um planeta tão gelado por fora quanto Marte.

Ondas sísmicas sugerem camada diferente sob a crosta marciana
Em 2018, a NASA pousou a sonda InSight no planeta para estudar seu interior. O equipamento principal era um sismômetro, que registra vibrações parecidas com terremotos, mas em Marte. Esses eventos ajudam a “ver” o que há abaixo da superfície.
Um novo estudo, publicado na revista National Science Review, analisou três desses eventos: dois impactos de meteoros em 2021 (denominados S1000a e S1094b) e um martemoto em 2022. Segundo a pesquisa, quando essas ondas sísmicas atravessaram a crosta, mostraram uma região em que o sinal diminuía a velocidade.
Isso indicava a presença de uma camada diferente das demais. Os cientistas interpretaram essa região como um tipo de rocha porosa, preenchida com água líquida – parecida com os aquíferos subterrâneos que existem na Terra.
Ao analisar os dados, os pesquisadores calcularam que essa camada poderia conter água suficiente para cobrir Marte com um oceano de 520 a 780 metros de profundidade. Isso se aproxima do valor da água “desaparecida” do planeta.
Essas conclusões foram obtidas usando uma técnica chamada função receptora, que analisa como as ondas sísmicas rebatem dentro do planeta. É como ouvir ecos em uma caverna e descobrir o formato das paredes.

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Por que esta descoberta é importante
“A água líquida é essencial para a vida como a conhecemos”, explicam os autores do estudo. “Na Terra, os micróbios prosperam em rochas profundas e cheias de água”. Isso, segundo eles, levanta a possibilidade de que algo semelhante exista ou tenha existido em Marte.
Além disso, água no subsolo pode ser um recurso valioso para futuras missões humanas. Se extraída e purificada, pode fornecer água potável, oxigênio e até combustível para foguetes. Seria uma ajuda enorme para colônias no planeta vermelho.
Perfurar oito quilômetros abaixo da superfície, evidentemente, é um grande desafio técnico. “No entanto, nossos dados, coletados perto do equador de Marte, também sugerem a possibilidade de outras zonas ricas em água – como o reservatório de lama gelada de Utopia Planitia”, dizem os pesquisadores.
Segundo a equipe, o próximo passo seria enviar novas sondas com sismômetros para outras partes do planeta. Isso ajudaria a mapear zonas com potencial de conter água. Também seriam necessárias missões com brocas, capazes de chegar até essas camadas profundas.
Se essas áreas forem exploradas, será importante protegê-las de contaminação com microrganismos da Terra. Afinal, se existe vida nativa em Marte, ela pode estar escondida exatamente nesses ambientes úmidos e escuros.
Por enquanto, a melhor forma de entender o interior do nosso cobiçado vizinho é continuar “ouvindo” seus sinais. Os batimentos sísmicos registrados pela sonda InSight podem ter revelado um segredo guardado por bilhões de anos: um oceano escondido nas entranhas do planeta.
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