
A taxa de homicídios no Brasil registrou queda de 2,3% entre 2022 e 2023, atingindo 21,2 mortes por 100 mil habitantes. O número representa o menor índice de violência letal no país desde 2012, de acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Ao todo, foram contabilizadas 45.747 vítimas de homicídio em 2023. O dado interrompe um período de estabilidade entre 2019 e 2022, quando a taxa se manteve em torno de 21,7. A trajetória de queda havia sido iniciada em 2018, ano que sucedeu o pico histórico de 30,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2017.
Apesar da redução nos homicídios e em diversos crimes contra o patrimônio, como roubos a residência, furtos em via pública e assaltos ao comércio, a criminalidade voltou a figurar entre os principais problemas percebidos pela população.
Segundo pesquisa da Genial/Quaest, realizada em março de 2024, 29% dos entrevistados apontaram a violência como a principal preocupação no país. Em dezembro de 2022, esse percentual era de 10%.
O levantamento indica crescimento de 19 pontos percentuais em pouco mais de um ano. A consultoria responsável pela pesquisa não apresentou correlação direta entre os dados objetivos de criminalidade e a percepção social de insegurança, mas destacou a influência de fatores como a exposição a notícias sobre crimes, o impacto de redes sociais e a sensação individual de vulnerabilidade.
Especialistas do FBSP apontam que “a prevalência de crimes e a percepção de segurança não caminham necessariamente juntas”, conforme registra o anuário.
O documento acrescenta que essa relação pode ser influenciada por “intensidade da cobertura midiática, localização geográfica dos conflitos e mudanças no padrão dos crimes registrados”.
Entre os crimes que apresentaram aumento está o estelionato, com 1,98 milhão de ocorrências registradas em 2023. O índice equivale a uma denúncia a cada 16 segundos, com crescimento concentrado em fraudes praticadas por meio digital.
A modalidade inclui golpes relacionados ao furto ou roubo de aparelhos celulares, que permitem acesso a contas bancárias e redes sociais das vítimas. De acordo com o anuário, essas práticas podem resultar em perdas financeiras superiores ao valor do item subtraído.
Por estado
A análise regional do anuário revela que sete unidades federativas registraram taxas de homicídio abaixo da média nacional.
O menor índice foi verificado em São Paulo, com 6,4 mortes por 100 mil habitantes. O mais elevado ocorreu no Amapá, com 57,4. A variação entre 2022 e 2023 aponta as maiores reduções no Rio Grande do Norte (-18,8%), Paraná (-15,2%) e Amazonas (-13,4%).
Em contrapartida, o Amapá (+41,7%), o Rio de Janeiro (+13,6%) e Pernambuco (+8,0%) apresentaram os maiores aumentos na taxa de homicídios no período.
O anuário também identificou que 11 unidades da federação reduziram de forma contínua seus índices de homicídio desde 2016 ou 2017.
São elas: Pará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraíba e São Paulo. A Bahia e o Amazonas, que historicamente registram altos índices de violência letal, apresentaram queda nos últimos dois anos.

Alagoas teve trajetória semelhante, mas foi excluída da lista devido ao aumento recente no indicador.
Segundo o documento, a “transformação digital da sociedade”, além de contribuir para o registro de ocorrências, também “potencializa o medo do crime”, ao expor novas formas de violência como o cyberbullying e os golpes digitais.
O relatório não faz projeções, mas enfatiza que a reconfiguração dos tipos de delito afeta a forma como a população interpreta a criminalidade cotidiana.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é elaborado anualmente com base em registros fornecidos pelas secretarias estaduais de segurança, polícias civis e militares e outros órgãos oficiais. Os dados utilizados na edição de 2024 abrangem o período entre janeiro e dezembro de 2023.