Empresário procurado pela Europol vive há cinco anos em Belarus sob proteção do governo

Um dos maiores escândalos de corrupção da história recente da Finlândia teve um desfecho inusitado: um dos principais suspeitos, Arto Kalevi Autio, vive há pelo menos cinco anos tranquilamente em Minsk, capital de Belarus. Foragido da Justiça europeia, ele é alvo de mandado da Europol e de alerta vermelho da Interpol. Mesmo assim, fundou empresa, casou-se e mantém residência fixa no país comandado por Alexander Lukashenko, de acordo com o site Belarusian Investigative Center (BIC).

Autio foi membro do conselho da Brave Capital, empresa envolvida em negócios suspeitos com a Nuorisosäätiö, organização finlandesa que fornece moradias acessíveis para jovens. A fundação, que recebe apoio estatal, passou a investir em imóveis de luxo no exterior em 2015. “Muito dinheiro foi retirado da Nuorisosäätiö. E a maior parte foi para a Estônia”, afirmou Jyri Hänninen, jornalista da emissora pública finlandesa Yle.

Com empréstimos garantidos por imóveis da própria fundação, a Nuorisosäätiö financiou compras superfaturadas e emprestou mais de 12 milhões de euros a empresas ligadas a Autio. Somente 1,5 milhão de euros retornou. Em 2018, os novos gestores descobriram a entidade à beira da falência.

Presidente de Belarus, Alexander Lukashenko (Foto: Departamento de Estado dos EUA/Reprodução)

“É difícil descrever com palavras o caos em que a fundação se encontrava naquele momento”, declarou Jari Laine, atual presidente da instituição. “As contas não estavam sendo pagas. Na época, havia 4,2 mil apartamentos. O aquecimento e a eletricidade estavam sendo cortados, e só restavam alguns milhões de euros na conta. As dívidas e outras obrigações financeiras somavam quase 300 milhões de euros.”

Enquanto outros investigados foram condenados, Autio escapou do julgamento e se instalou em Belarus, país que não tem tratado de extradição com a Finlândia. Ele cruzou a fronteira mais de 80 vezes antes de fixar residência em Minsk. Em 2020, casou-se com Krystsina Bazyleva, com quem mora em um apartamento de 74 metros quadrados. Juntos, fundaram a empresa Amplion Trust, que acumula prejuízos e dívidas tributárias no país.

A filha de Autio, Emma Olivia, também aparece como titular de bens herdados após o envolvimento do pai com a Justiça. Segundo a jornalista Sanita Jemberga, da Re:Baltica, ele costumava adquirir imóveis e esvaziá-los rapidamente. “Então, basicamente, você torna o prédio inabitável, seja de propósito ou por uma coincidência muito conveniente. Você tira as pessoas, espera um tempo e reconstrói. Como têm licença para construir, é provável que se tornem imóveis residenciais e os preços subam.”

Além das denúncias de corrupção, Autio foi condenado em 2023 por evasão fiscal e posse ilegal de uma pistola com silenciador na Estônia. O total devido em impostos superava 2 milhões de euros. Ele fez um acordo judicial, declarou-se culpado e teve a dívida reduzida em cerca de 90%. Foi condenado a 32 meses de prisão, mas a pena foi suspensa. Autio participou do julgamento por videoconferência. Disse que não pôde comparecer porque “vive em Belarus há bastante tempo”.

As autoridades belarussas sabem de sua presença, segundo Uladzimir Zhyhar, da organização BelPol, formada por ex-agentes de segurança do país. “O passaporte dele é marcado ao chegar na fronteira, e a partir daí seus movimentos são monitorados; eventualmente, pessoas em trajes civis se aproximam dele e o convidam para uma conversa.” Ele afirma que há uma troca: o governo permite sua estadia e, em troca, Autio coopera com investimentos ou orientações para burlar sanções.

A trajetória de Autio segue um padrão comum no país de Lukashenko. Belarus já acolheu o ex-presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev, policiais suspeitos de crimes na Ucrânia e até combatentes do Wagner Group, após a rebelião contra o governo russo em 2023. No caso de Autio, ele pode estar prestes a escapar em definitivo: em dezembro de 2025 prescrevem os crimes investigados na Finlândia.

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