Enquanto você briga, os políticos riem

Barack Obama e Donald Trump, figuras que em público se enfrentaram como rivais mortais, riram lado a lado no funeral de Jimmy Carter nesta quinta, 9. Obama, que no auge da campanha comparou Trump a Hitler, era alvo frequente das insinuações de Trump, que questionava se ele não tinha nascido no Quênia. Na última semana, lá estavam eles, trocando sorrisos enquanto suas bases eleitorais continuam em guerra.

Essa cena não é apenas desconcertante; é reveladora. Mostra como a polarização política, frequentemente alimentada por líderes para consolidar poder, desestabiliza a sociedade enquanto os políticos, livres das consequências diretas, assistem de camarote.

Segundo o Edelman Trust Barometer, 78% dos brasileiros consideram o país mais dividido ideologicamente do que nunca, e 80% percebem um aumento na falta de respeito mútuo entre cidadãos.

Essa divisão se traduz em números alarmantes: 43% dos eleitores de Lula e 28% dos de Bolsonaro afirmaram que não aceitariam que seus filhos se casassem com alguém do lado oposto. Além disso, 32% disseram que não reatariam amizades rompidas por questões políticas. Não é apenas um desacordo; é uma fragmentação do tecido social.

Jonathan Haidt, em The Righteous Mind, explica que somos biologicamente inclinados ao tribalismo, o que nos torna vulneráveis a líderes que exploram nossos instintos de pertencimento e rivalidade. Esse comportamento tribal é amplificado pelas redes sociais, onde 93,4% dos brasileiros na faixa de 16 a 64 anos estão conectados, criando bolhas ideológicas que alimentam conflitos e corroem a diversidade de pensamento.

Aristóteles dizia que a verdadeira convivência na pólis não se sustenta apenas nas instituições políticas, mas na capacidade dos cidadãos de formar laços cívicos e comunitários. Famílias, amizades e relações de trabalho são a base de uma sociedade saudável. Quando esses pilares se enfraquecem, como mostram os números, a democracia também enfraquece.

Enquanto isso, os líderes políticos usam a polarização como uma ferramenta estratégica. Dividem para conquistar, consolidando suas bases em torno do medo e da hostilidade ao outro. O foco na rivalidade ideológica desvia a atenção de questões concretas: corrupção, pobreza, má gestão pública. E enquanto discutimos nas redes sociais, eles riem.

A resposta para essa dinâmica não está em abandonar a política, mas em reposicionar o papel dela em nossas vidas. O eleitor precisa se recusar a ser manipulado, fortalecendo os laços que transcendem a ideologia. Reatar amizades, buscar pontos de concordância nas diferenças e resistir à tentação de ver o outro como inimigo são atos revolucionários em um ambiente que premia a divisão.

O sorriso de Obama e Trump deveria servir como um alerta: políticos sabem quando o espetáculo termina e as luzes se apagam. Cabe a nós decidir se continuaremos brigando em seu nome ou se retomaremos o controle sobre o que realmente importa – uma sociedade unida, construída sobre laços fortes e respeito mútuo. Afinal, quem ri por último deve ser o cidadão, não o político. Fonte: O Antagonista.

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