Astrônomos descobrem fenômeno espacial que não deveria existir

Quando o ciclo de vida de uma estrela chega ao fim, ela explode e dá origem a uma supernova. Já o núcleo delas dá origem às estrelas de nêutrons, fenômenos que emitem feixes de rádio extremamente rápidos e curtos diretamente de seus polos magnéticos. No entanto, astrônomos encontraram algo que não deveria existir: emissões que duram mais de 6 horas.

A pesquisa foi publicada na revista Nature Astronomy e expande os limites do que sabíamos sobre as estrelas de nêutrons.

Explosão de uma supernova que forma estrela de nêutrons
Explosão de uma supernova que forma uma estrela de nêutrons (Crédito: ManowKem/shutterstock.com)

Como funcionam as estrelas de nêutrons

Primeiro, vamos entender o funcionamento das estrelas de nêutrons. Como explicamos, quando uma estrela “morre”, explode em uma supernova. Já os núcleos densos deixados para trás viram as estrelas de nêutrons, que emitem feixes de rádio poderosos dos polos magnéticos.

Conforme as estrelas de nêutrons giram, os raios passam pela Terra e produzem pulsos de ondas de rádio periodicamente, levando ao apelido de “farol cósmico” e o nome pulsar. O Olhar Digital já explicou o que são os pulsares (você pode conferir aqui), mas, resumindo, são estrelas de nêutrons que possuem uma rotação elevada. Para se ter uma ideia, essa rotação é tão rápida que acontece em apenas alguns segundos (ou até menos).

No entanto, nos últimos anos, pesquisadores têm encontrado alguns fenômenos que desafiam isso. Segundo o ScienceAlert, eles identificaram objetos misteriosos que funcionam da mesma forma que os pulsares, mas em intervalos muito lentos.

Pulso de rádio detectado pelo MeerKAT (Imagem: Nature Astronomy/Reprodução)

Novo objeto desafia o que sabíamos sobre pulsares e estrelas de nêutrons

Um desses objetos misteriosos foi tema da pesquisa publicada na Nature. De acordo com a equipe de pesquisadores, em um artigo no site The Conversation, o farol cósmico encontrado é o mais lento até agora, girando uma única vez a cada 6 horas e meia.

Entenda como foi a descoberta:

  • O farol está alinhado com a Terra, nos permitindo observar os pulsos de rádio vindos dos polos magnéticos (assim como acontece com as estrelas de nêutrons);
  • A equipe descobriu o objeto, batizado de ASKAP J1839-0756, durante uma observação de rotina no radiotelescópio ASKAP do Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO), localizado na Austrália Ocidental;
  • Inicialmente, eles observaram uma emissão de rádio parecida com uma explosão, com o brilho diminuindo em 95% em apenas 15 minutos. Só que não foi uma única rajada: o objeto continuou emitindo os pulsos de rádio periodicamente;
  • O que chamou atenção foi a velocidade desses pulsos – ou melhor, a falta de velocidade;
  • Então, eles recorreram a dois outros equipamentos, o Australia Telescope Compact Array (também da CSIRO) e o radiotelescópio altamente sensível MeerKAT, na África do Sul.
Representação artística de um pulsar (Crédito: Jurik Peter – Shutterstock)

O que eles descobriram

A observação do fenômeno revelou que o objeto tem dois pulsos separados por 6h30, confirmando se tratar de uma emissão periódica. No entanto, isso é muito devagar para o que sabíamos sobre as estrelas de nêutrons e pulsares.

A equipe revelou que, de acordo com nosso conhecimento sobre esses fenômenos espaciais, o ASKAP J1839-0756 não deveria existir. Isso porque as estrelas de nêutrons emitem os pulsos de rádio ao converter sua própria energia de rotação em radiação. Porém, com o tempo, elas perdem essa energia e começam a desacelerar.

A teoria diz que, após um certo ponto, a estrela para de emitir pulsos de rádio completamente. Não é o que acontece com o ASKAP J1839-0756, que leva mais de 6 horas em apenas uma rotação.

Leia mais:

  • O que é uma estrela de nêutrons?
  • Astrônomos identificam a estrela de nêutrons mais rápida do Universo
  • Estrela de nêutrons mais pesada de todos os tempos é descoberta

O que muda com a nova estrela de nêutrons?

A ASKAP J1839-0756 é o primeiro fenômeno deste tipo a emitir pulsos tão lentamente, o que muda a compreensão do que sabemos sobre as estrelas de nêutrons e pulsares.

No artigo, os pesquisadores levantam questionamentos sobre se tratar de uma anomalia cósmica ou um magnetar (uma estrela de nêutrons com campo magnético mais poderosos, que tem um ritmo de pulsares diferente). Eles não apontaram uma conclusão, mas admitiram que o fenômeno vai além do que sabíamos ser possível.

O post Astrônomos descobrem fenômeno espacial que não deveria existir apareceu primeiro em Olhar Digital.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.