Trump assume o comando dos EUA e manda sinais para o mundo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve começar a sua administração com grandes mudanças em relação às políticas de Joe Biden, segundo matéria do Estadão. O republicano prometeu uma operação massiva para deportar imigrantes ilegais, ameaçou países aliados e não aliados com tarifas e se mostrou confiante de que pode acabar com a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Trump também sinalizou que deseja que Washington retome o controle do Canal do Panamá, além de comprar a Groenlândia.

O republicano foi eleito para este novo mandato com a ajuda de Elon Musk, o empresário mais rico do mundo, que injetou milhões de dólares em sua campanha e virou cabo eleitoral da extrema direita. Não se sabe qual será o nível de proximidade entre Musk e Trump e por quanto tempo o empresário ficará na órbita do presidente.

Pelo menos até as eleições de meio de mandato, Trump terá uma maioria na Câmara dos Deputados e também no Senado. Ele deve conseguir aprovar sua agenda neste período, mas também terá que domar as divisões dentro de sua própria base eleitoral, que não está totalmente confortável com o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson.

Segundo ainda o Estadão, o republicano deve seguir a promessa de campanha de realizar uma deportação em massa de imigrantes ilegais. Segundo ele, será a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos. Este foi um tema bastante explorado por Trump durante o período eleitoral e citado como um dos mais importantes para os americanos, segundo pesquisas de opinião.

Trump escolheu o policial aposentado Thomas Homan, ex-diretor interino do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE), como responsável pela segurança das fronteiras dos Estados Unidos. Homan foi um dos responsáveis no primeiro mandato do republicano pelas políticas de “tolerância zero”, que causaram a separação de milhares de crianças de seus pais por estarem ilegalmente nos EUA. Os primeiros alvos seriam os imigrantes ilegais com antecedentes criminais e que representem “ameaças à segurança nacional”; depois, os imigrantes ilegais em geral, independente do tempo que estejam no país.

Tarifas

O presidente dos Estados Unidos já mostrou em seu primeiro mandato a sua crença na importância de tarifas, taxando aliados como a União Europeia e competidores como a China. Em seu segundo mandato, Trump irá manter a posição protecionista e já prometeu novas tarifas contra UE, China, México, Canadá e até a Dinamarca.

Para o republicano, tarifas tem o potencial de trazer empresas para os Estados Unidos e empregos perdidos para países como China e México, que tem mão de obra mais barata. O republicano também costuma usar a ameaça de tarifas como uma tática de negociação para tentar forçar concessões de parceiros comerciais em questões diversas.

Segundo economistas, como o custo da produção nos EUA é muito alto, as tarifas podem prejudicar o crescimento econômico e aumentar a inflação. Dificilmente compensará para quem produz fora dos EUA transferir as indústrias para o país. Assim, as tarifas serão pagas principalmente pelos importadores que trazem os produtos para os Estados Unidos e frequentemente repassam esses custos aos consumidores.

Relação com o Congresso

O presidente americano terá uma maioria republicana na Câmara e no Senado pelo menos até as eleições de meio de mandato, daqui dois anos. O cenário deve facilitar a aprovação de parte da agenda de Trump, que deve incluir corte de impostos e legislações relacionadas a imigração e energia.

Trump também terá que domar divisões dentro do Partido Republicano que foram exacerbadas na eleição para o cargo de líder republicano no Senado. O núcleo duro do movimento MAGA (Make America Great Again) queria que o senador Rick Scott ficasse com o cargo, mas o eleito foi John Thune.

As divisões dentro do Partido Republicano também ficaram a mostra na eleição para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. Trump apoiou seu aliado, Mike Johnson, mas congressistas republicanos contrários a Johnson quase sabotaram a eleição.

Elon Musk

A relação entre o presidente dos Estados Unidos e o empresário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, também estará nos holofotes no segundo mandato de Trump. Musk embarcou de vez na campanha do republicano após a primeira tentativa de assassinato contra Trump, em um comício na Pensilvânia, em julho do ano passado.

O dono do X e da Tesla injetou milhões de dólares na campanha de Trump e se tornou um conselheiro próximo do presidente americano, participando do processo de transição e se hospedando na mansão de Trump em Mar-a-Lago. Musk também fará parte da administração Trump, como um dos diretores do Departamento de Eficiência Comportamental (DOGE), iniciativa do governo do republicano para diminuir a burocracia federal, eliminar regulações e cortar gastos.

A crescente influência de Musk na órbita de Trump desagradou membros do núcleo duro de apoiadores do republicano e a maneira com que Musk liderou um movimento para acabar com um acordo sobre o orçamento americano no final do ano passado sinalizou o poder do homem mais rico do mundo.

As ambições políticas de Musk podem bater de frente com Trump ao longo do mandato, devido ao histórico de instabilidade do empresário e do presidente.

Guerra na Ucrânia

Depois de quase três anos de guerra na Ucrânia, a volta de Trump ao poder pode significar o fim do conflito no Leste Europeu. O republicano criticou a ajuda militar e econômica americana enviada a Kiev pelo governo Biden e chegou a afirmar que poderia negociar o fim do conflito em 24 horas depois de assumir a Casa Branca.

Desde então ele mudou o tom e abandonou sua promessa. Em uma entrevista coletiva no dia 7 de janeiro, o republicano afirmou que a guerra poderia acabar em até seis meses. O enviado de Trump para Rússia e Ucrânia, o general Keith Kellogg, apontou em entrevista à emissora americana Fox News que o conflito poderia acabar em 100 dias.

Em abril do ano passado, Kellogg publicou um relatório no site do America First Policy Institute, organização ligada ao presidente americano, em que ele dá detalhes sobre um possível plano para acabar com a guerra.

Segundo o relatório, o conflito seria congelado nas fronteiras do momento do acordo por um cessar-fogo e uma zona desmilitarizada seria imposta. Caso a Rússia concorde com os termos, Washington iria flexibilizar as sanções e poderia até retirar todas as sanções caso um tratado de paz seja assinado com Kiev. A Ucrânia não precisaria desistir dos territórios anexados pela Rússia formalmente, mas concordaria em reconquista-los apenas pela via diplomática.

Guerra em Gaza

Antes mesmo de retornar a presidência, Trump já contribuiu para uma mudança no status quo do Oriente Médio ao agilizar as negociações por um acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, trabalhou junto com a equipe de Biden e os mediadores de Catar e Egito para garantir o acordo.

O republicano já havia dito que gostaria que um acordo fosse atingido antes de sua posse. Mas a trégua vale apenas por seis semanas e a administração do republicano deverá enfrentar novos desafios para negociar a segunda e a terceira fase do acordo.

Responsável pelos chamados Acordos de Abraão em 2020, Trump quer ser o arquiteto da normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, acordo que estava próximo de ser anunciado antes dos ataques do Hamas, no dia 7 de outubro de 2023.

Steve Witkoff, o enviado especial de Trump para o Oriente Médio, contribuiu muito para a finalização do acordo de cessar-fogo antes da posse do presidente americano

China

A relação entre China e Estados Unidos tem o potencial de se tornar ainda mais tensa com a volta de Trump à Casa Branca. Em seu primeiro mandato, o republicano iniciou uma guerra comercial com Pequim, implementando tarifas em produtos chineses. A competição só se aprofundou desde então, inclusive no governo Biden, e novas tarifas foram prometidas por Trump durante toda a campanha eleitoral.

O republicano afirmou que desta vez as tarifas podem chegar a 60% para produtos chineses. As escolhas de gabinete de Trump também indicam uma postura de confronto contra a China. O novo secretário de Estado, Marco Rubio, tem posições duras em relação ao regime de Pequim, assim como Michael Waltz, o novo conselheiro de Segurança Nacional.

Em meio a competição comercial e tecnológica, Trump também deve exigir um comprometimento maior de aliados asiáticos, como Coreia do Sul e Japão, na disputa com a China. Os países também devem expandir suas divergências em relação a Taiwan, a ilha autônoma reivindicada por Pequim.

União Europeia

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas alavancou novamente um sentimento de incerteza no continente europeu. Em seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas pesadas sobre produtos como aço e alumínio e afirmou que a UE favorecia a indústria alemã. O presidente americano também chegou a classificar a Europa como um inimigo “pior que a China, só menor”.

Para o segundo mandato, é consenso que ele voltará a pressionar por acordos que deem maior abertura aos produtos e empresas americanas. Durante a campanha, o republicano ameaçou impor tarifas de 10% a 20% sobre as importações de outros países e expressou uma frustração especial com os desequilíbrios comerciais nos setores automotivo e agrícola.

Os europeus também estão apreensivos com as críticas de Elon Musk a diversos governos do continente e seu apoio a partidos de extrema direita. A UE teme uma retaliação de Trump se optar por regular o X de acordo com a lei do bloco que exige que as principais plataformas digitais removam postagens que contenham conteúdo ilegal e informações falsas.

Otan

A Otan também deve passar por um período de instabilidade com o retorno de Trump a presidência. O presidente americano já ameaçou retirar os Estados Unidos da aliança militar em diversas oportunidades em seu primeiro mandato. Após ser eleito novamente, Trump afirmou que consideraria retirar Washington da Otan se não obtiver um “acordo justo” e quer que os aliados da organização gastem mais com defesa.

Esta é uma demanda antiga de Trump. A meta da aliança militar é de que todos os 32 países da entidade gastem 2% de seu PIB com defesa. Até agora, 23 dos 32 países membros estão dentro deste limite.

Mesmo com as críticas, o presidente está seguindo os ritos institucionais. Ele anunciou o ex-procurador-geral interino dos Estados Unidos Matthew G. Whitaker como seu embaixador para a Otan e se encontrou com o novo secretário-geral da Otan, Mark Rutte, em Palm Beach. Rutte foi primeiro-ministro da Holanda por 14 anos e teve uma boa relação com o republicano durante o seu primeiro mandato.

Groenlândia e Canal do Panamá

Um dos temas mais comentados nas últimas semanas é uma possível compra da Groenlândia pelos Estados Unidos e o retorno do Canal do Panamá para domínio americano. Trump mencionou a possibilidade em dezembro e reforçou o desejo em uma entrevista coletiva em janeiro. Na ocasião, o republicano afirmou que não descarta o uso de força militar para tomar o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia.

“Não vou me comprometer com isso”, disse ele, quando perguntado se descartaria o uso de força militar nos dois locais. “Pode ser que você tenha que fazer algo. O Canal do Panamá é vital para o nosso país.” Ele acrescentou: “Precisamos da Groenlândia para fins de segurança nacional.”

A Dinamarca, país que administra a Groenlândia, um território autônomo, rejeitou a possibilidade de vender o território. O Panamá também negou que o Canal do Panamá possa voltar para as mãos de Washington.

Não se sabe se Trump de fato continuará com a ideia de adquirir os dois locais ou se suas ameaças tem a intenção de garantir acordos melhores para os EUA no quesito comercial e geopolítico. Com informações do jornal O Estado de São Paulo.

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