Em Israel, renovam-se as esperanças (e as preocupações)

Reféns foram liberadasReprodução/Mídia israelense

Os israelenses viveram, no último domingo, um dos momentos mais felizes desde o início da guerra, ao assistir a libertação de três dos reféns sequestrados pelo Hamas durante o ataque do grupo terrorista ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023. Doron Steinbrecher (31 anos), Emily Damari (28) e Romi Gonen (24) foram as primeiras a regressarem para casa seguindo o recente acordo de cessar-fogo assinado entre Israel e o Hamas, que prevê libertar, ao longo de 42 dias, 33 dos 94 reféns prisioneiros na Faixa de Gaza há mais de 15 meses.

Em todos os telejornais, ainda hoje as imagens das três moças estão sendo exibidas e comemoradas. Especialmente duas cenas: Romi dizendo aos prantos para o pai, em ligação telefônica por vídeo, “pai, eu sobrevivi!”, e Emily fazendo um sinal de vitória com a mão esquerda na qual restaram apenas três dedos – durante o sequestro, ela levou um tiro à queima-roupa.

O gesto de Emily já se transformou em um símbolo de resiliência no país. Em contrapartida, Israel libertou de suas prisões 90 palestinos presos por atentados terroristas e outros crimes.

Gesto de Emily já se transformou em um símbolo de resiliênciaDana Barley

Foi também um momento de enorme alívio para toda a população vê-las conscientes e em condições estáveis de saúde – mais do que isso, foi uma enorme surpresa. Não havia razões para esperar que assim fosse, uma vez que os relatos e a situação física dos reféns libertados depois do primeiro acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas foram terríveis e chocantes. Muitos haviam perdido, em 51 dias, 30% de seu peso corporal, relatando a falta de alimentos e de água, a falta de oxigenação e de luz natural nos túneis, estupros e situações recorrentes de abuso moral e físico etc.

A felicidade e o alívio destes dias, no entanto, misturam-se com outros sentimentos, como a frustração de constatar que talvez essa guerra acabe sem que o Hamas tenha sido eliminado mesmo custando a vida de mais de 820 soldados, e com a apreensão gerada pela libertação, em troca, de centenas de terroristas palestinos julgados e presos em Israel – cerca de 200 deles, condenados à prisão perpétua em função da gravidade de seus crimes.

Por fim, ver Doron, Emily e Romi de volta a Israel relembrou a urgência de trazer todos os demais 94 reféns de volta – inclusive os 61 que não estão incluídos nessa primeira fase do acordo, cujo destino ainda está por ser definido.

Uma desgastante gangorra emocional

A intensidade, a importância e a rapidez de todos os eventos que acontecem simultaneamente em Israel provocam, obviamente, enorme insegurança e ansiedade na população. Esta é uma guerra travada em sete diferentes frentes de batalha, além de ser a mais longa da história do país e, de longe, a mais traumática. As comparações dos eventos ocorridos no dia 7.10 com o Holocausto são frequentes, tamanha a violência e a sensação de vulnerabilidade geradas.

O israelense ainda não sente ter começado a processar o trauma da invasão, especialmente por ainda haver reféns, vivos e mortos, aprisionados em túneis pelo Hamas (e a poucos quilômetros de suas próprias casas). As investigações que deverão explicar não apenas a surpresa, como também a resposta pobre, desencontrada e tardia das forças armadas de Israel, ainda estão em andamento, aumentando a insegurança, a amargura e a revolta do israelense.

O acordo com o Hamas é visto como uma derrota política tanto para aqueles que apoiaram o cessar-fogo quanto por aqueles que são contra ele. Afinal, o israelense sabe, como poucos, o quanto a negociação com terroristas transmite não só uma imagem de fraqueza de Israel frente a seus inimigos árabes como, também, legitimiza o sequestro como arma de guerra, incentivando sua repetição.

Por outro lado – e talvez o mais importante de todos –, esse momento permite aos judeus lembrarem-se de quem são: um povo milenar que passou por terríveis provações ao longo de sua História, mas que está disposto a pagar qualquer preço para trazer seus filhos para casa.

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