Resgate da essência: Summer All Day na Rocinha leva a música eletrônica de volta às origens e cumpre papel social importante

Nos últimos anos, temos presenciado um crescimento do mercado de música eletrônica globalmente. Segundo relatório do IMS Bussiness Report, em 2023 houve um aumento de 17% na indústria impulsionado pela geraçao Z, o que a deixa avaliada em R$60,3 bilhões. 

Consequentemente, há o crescimento do público que consome e frequenta os eventos. Entretanto, no Brasil, quando tiramos a lupa da nossa bolha e olhamos para a grande massa, percebemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o house, o techno, psytrance e suas vertentes estejam nas cabeças entre os gêneros e artistas mais ouvidos.

Ano passado, no Spotify, o funk foi o gênero mais ouvido desbancando uma hegemonia de anos do sertanejo e emplacando 3 MC’s no Top 5 artistas mais ouvidos do país. Uma matéria do site Veja aponta que além do funk e sertanejo, o forró e o gospel também dominaram as 10 músicas mais ouvidas de 2024 no YouTube. Já no Deezer, o sertanejo manteve sua hegemonia.

Por isso, eventos como o Summer All Day, do Victor Lou, que democratizam o acesso à música eletrônica, são de fundamental importância em nossa cena hoje. No Brasil, a música tem parcela grande de importância na vida de muitas pessoas, talvez seja este um dos motivos de haver muitos estilos únicos aqui como samba, pagode, forró, piseiro e axé, o que aumenta a concorrência.

Aliado a este fator, não há como deixar de falar sobre os valores praticados nos eventos de música eletrônica. O jeito em que está hoje o mercado brasileiro com grandes estruturas, artistas internacionais recebendo cachês em dólar e euro com o real desvalorizado, somado a custos de logística deixam a conta final muito cara, o que impacta diretamente no consumidor. O preço do ingresso e os custos de alimentação e bebida dentro do evento aumentam. 

Dentro desse sistema, a música eletrônica no Brasil tem sido consumida por uma parcela da sociedade com maior poder de compra, o que, convenhamos, é a minoria no país. Além disso, temos toda a discussão de ser um estilo ainda nichado e que enfrenta bastante preconceito.

É claro que também há eventos com ingressos e custos altos de outros gêneros que acabam segregando o público, porém há um maior acesso e divulgação deles para as classes mais baixas, seja tocando em bares, botecos, baladas mais acessíveis ou tocando em rádios. Movimento este que acontece pouco ainda no house e no techno. 

Quando Victor Lou idealiza um projeto como o Summer All Day, ele passa uma mensagem clara que traz de volta a essência de quando nossa cena nasceu nas periferias: o objetivo de união, solidariedade, apoio à comunidade e valorização dos nossos. Os eventos realizados são gratuitos, com a entrada validada mediante a doação de alimentos.

Na Rocinha em 2024, o evento para mais de 1500 pessoas arrecadou mais de 1,5 toneladas de alimentos e centenas de casacos. Este ano, no último dia 12, Victor Lou reuniu mais de 4000 pessoas no mesmo local, ou seja, a arrecadação mais que dobrou.

O line up diverso valoriza artistas e a música nacional. Além do host, Roddy Lima, Duarte, Bruna Strait, Black Keusen e To Be Honest representaram o house e o techno. O funk esteve nas mãos dos craques DJ GBR e Ramon Sucesso, além do projeto BMOB que trouxe o veterano WC no Beat para a apresentação. 

Sabemos que nas periferias e comunidades, o funk e o hip hop estão entre os gêneros mais consumidos entre os jovens. A proposta do Summer All Day de mesclar estes estilos com o house e o techno deixa mais atrativo e quebra aquela primeira barreira do preconceito. 

Ao longo de mais de 10 horas de evento flutuando entre vários tipos de música eletrônica, a Rocinha foi palco novamente para atrair mais pessoas para a cena, desmistificar muitos estigmas que pairam sobre esses eventos e o mais importante: reconectar a música eletrônica com suas raízes nos guetos de Chicago e Detroit.

Este projeto deve servir de exemplo para todos nós envolvidos com a cena como forma de fortalecer ainda mais a música eletrônica que tanto amamos.

E iniciativas assim tem o potencial de amplificar o público e furar novas bolhas. E toda a cena está precisando de renovação. 

Por Adriano Canestri

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