Por que Fernanda Torres não chora em ‘Ainda estou aqui’ e como atuação contida virou trunfo do filme?


Críticos de cinema pontuaram atuação de atriz como ‘a maravilha sutil’ do filme. Relembre estrelas que foram premiadas por atuações sutilmente arrebatadoras. A sutileza na atuação de Fernanda Torres em “Ainda Estou Aqui”
O Brasil está em clima de Copa do Mundo com a indicação de Fernanda Torres ao Oscar de Melhor atriz por seu trabalho em “Ainda estou aqui”. A produção original Globoplay ainda recebeu indicações de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. (Veja lista completa de indicados ao Oscar 2025).
Mas mesmo com toda a torcida e a conquista do Globo de Ouro, ainda existiam dúvidas se o nome de Fernanda apareceria na lista. Isso porque alguns críticos disseram que a atuação de Fernanda foi, na palavra deles, sutil. E essa sutileza não é muito comum na conquista do Oscar de atuação.
A explosão de sentimentos, a fúria, o choro, ou até alguma grande transformação física ou de sotaque costumam atrair mais os olhos da Academia, o conjunto de profissionais que seleciona quem é indicado e premiado.
A sutileza de Fernanda Torres em “Ainda estou aqui”
Fernanda Torres em cena de ‘Ainda estou aqui’
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Existe uma frase bastante difundida nos cursos e livros de atuação que diz: “É triste assistir pessoas chorarem, mas é ainda mais triste assistir pessoas tentando não chorar”.
E é bem isso que Fernanda faz em “Ainda estou aqui”. A contenção de emoção de Eunice Paiva traz uma tensão e um questionamento sobre a “que horas essa mulher vai transbordar toda essa dor”. Mas esse momento não chega. A lágrima não cai. O nó na garganta é contínuo. E como disse a revista americana “Variety” em sua crítica sobre Fernanda, “ela nunca nos permite testemunhar seu colapso total”.
Quando foi explicar o motivo dessa escolha, Fernanda relembrou uma frase que ouviu de sua própria mãe, a também atriz Fernanda Montenegro: “Quando acontece uma tragédia, não há espaço para o melodrama”.
E no meio da tragédia familiar, onde Rubens Paiva, que era o pai daquela família, desaparece no meio da ditadura militar, não havia espaço para o drama de Eunice, uma mãe de 5 filhos em busca do marido e tentando retomar a vida.
Tanto que Walter Salles cortou todas as cenas em que Fernanda chorava. Para eles, não cabia cena de choro ali. E aqui vale destacar que em seu livro “Ainda estou aqui”, obra que dá origem ao filme, Marcelo Rubens Paiva descreve sua mãe como uma mulher que não era muito de demonstrar suas emoções e não chorava na frente deles.
“Quando se contém a emoção, ela explode de uma maneira muito honesta. E isso fez emergir sutilezas que eu nunca tinha experimentado na atuação”, diz Fernanda.
Walter Salles e Fernanda Torres nos bastidores de ‘Ainda estou aqui’
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Essa sutileza foi elogiada por uns, e criticada por outros. O jornal francês “Le Monde”, por exemplo, julgou a atuação de Fernanda como “passavelmente monocórdica”, ou seja, sem muitas variações.
Já o site americano Vulture definiu o trabalho da atriz como uma “performance maravilhosamente internalizada” e chamou a atriz de a “maravilha sutil” de “Ainda Estou Aqui”.
Atrizes já levaram o Oscar por atuações sutilmente arrebatadoras
Essa atuação mais internalizada, mais sutil, não costuma render tantos prêmios no Oscar. Apesar disso, a Academia já premiou ótimas estrelas com esse tipo de atuação sutilmente arrebatadora.
Holly Hunter fez isso em “O Piano”, filme no qual interpretou uma mulher que não falava desde os 6 anos. A atriz levou o Oscar em 1994 por esse trabalho sem precisar de palavras para expressar tanta emoção.
Jodie Foster em “O Silêncio dos Inocentes”
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Jodie Foster também foi premiada com atuação na mesma linha de sutileza por “Silêncio dos Inocentes”. A contenção proposital das emoções de sua personagem diante de um assassino canibal rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 1992.
Outra que merece ser citada por sua atuação minimalista, porém poderosa, é Frances McDormand.
Em 1997, ela foi premiada por “Fargo: uma comédia de erros”. Sem cenas dramáticas ou atuação exagerada, a atriz trouxe a sutileza ao filme policial, enquanto tentava desvendar uma série de assassinatos.
Vinte e três anos depois, Frances foi premiada por “Nomadland”. Ela estrelou e produziu o filme, levando os prêmios de Melhor Atriz e de Melhor Filme.
A interpretação de Frances segue no tom do filme, que tem um toque de documentário e não precisava de atuações mais intensas.
Frances McDormand em ‘Nomadland’
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