Mãe é mãe: júri absolve filho por matar homem que puxou cabelo dela

Um julgamento em Colinas do Tocantins, presidido pelo juiz José Eustáquio de Melo Júnior, trouxe um desfecho inesperado e que gerou debate sobre a interpretação de justiça em casos de forte apelo emocional. Um diarista de 26 anos foi absolvido, na última quarta-feira (22), pelo Tribunal do Júri, apesar de os jurados reconhecerem que ele cometeu um homicídio ao desferir nove facadas em Cleylson Pereira da Silva, em abril de 2018.

O crime foi desencadeado por um ato aparentemente banal, mas carregado de tensão emocional: a vítima teria puxado os cabelos da mãe do réu durante uma festa no setor Santa Rosa. Segundo relatos, o agressor, após o incidente, deixou o local, buscou uma faca em sua residência e perseguiu a vítima até um imóvel abandonado, onde o assassinato ocorreu. A intensidade do ato foi confirmada pela violência das nove facadas desferidas.

No entanto, a absolvição do acusado surpreendeu, especialmente diante do fato de o júri admitir a violência do assassinato. Este resultado levanta um questionamento intrigante: o crime foi visto pelos jurados como uma reação desproporcional ou como uma defesa da honra e da integridade da mãe do acusado?

Mãe como símbolo sagrado?

O episódio toca em uma questão emocional universal: a sacralidade do papel materno. Cada jurado, ao deliberar, poderia ter se colocado no lugar do réu, imaginando como reagiria se visse sua própria mãe ser agredida. A lógica familiar, em diversas culturas, atribui à mãe um status quase intocável, uma figura cuja proteção é uma questão de honra.

Assim, não seria exagero levantar a hipótese de que essa visão pode ter influenciado a decisão dos jurados, ainda que de forma subconsciente.

Outras hipóteses também podem ser consideradas, como a proporcionalidade emocional versus legalidade. É possível que os jurados tenham reconhecido o crime, mas julgado que o contexto emocional atenuava a responsabilidade moral do acusado. Eles podem ter entendido que o ato, embora brutal, foi impulsionado por uma indignação visceral.

Haveria também falta de informações claras sobre o comportamento da vítima: o motivo pelo qual Cleylson teria agredido a mãe do réu não foi esclarecido. A ausência de contexto pode ter gerado dúvidas suficientes para que os jurados optassem por absolver o acusado.

Também não podem ser descartadas dúvidas quanto à premeditação: apesar de o réu ter ido buscar uma faca em casa, os jurados podem ter entendido que a ação não foi planejada com frieza, mas realizada no calor do momento, impulsionada pela raiva.

    Ministério Público recorre

    Após o anúncio da decisão, o Ministério Público declarou que pretende recorrer. O órgão questiona a legalidade do veredicto, argumentando que a intensidade do crime – que culminou em uma morte cruel e desproporcional – deveria ter resultado em uma condenação.

    O caso escancara uma tensão persistente no sistema de Justiça: a luta entre a letra fria da lei e as emoções humanas que influenciam os julgamentos. Será que, nesse caso, o júri deu mais peso ao contexto emocional do que ao rigor jurídico? E, se sim, até que ponto isso deve ser aceito como parte do processo democrático de julgamento por pares?

    A resposta não é simples, mas uma coisa é certa: esse julgamento será lembrado como um exemplo emblemático de como a Justiça é tão influenciada por sentimentos quanto pela razão. O recurso do Ministério Público promete reabrir o debate e oferecer novos desdobramentos sobre a decisão.

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