‘Um inferno, uma tortura desde que saímos’, relata brasileira deportada dos Estados Unidos


Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno. Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno.
Reprodução/TV Globo
Os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos, depois da política implementada por Donald Trump após posse como presidente, pousaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na noite deste sábado (25). Entre eles, os relatos sobre a experiência da viagem de retorno são dramáticos, ambos relatam a agressividade dos agentes de imigração, as condições desumanas durante todo processo de deportação, e até mesmo problemas com o avião.
Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49 anos, e os dois filhos pequenos estavam entre os passageiros deportados, eles contaram que viveram momentos tensos, desde o tratamento que receberam até a falta de estrutura do avião.
“Um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana, deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”, contou.
Segundo Sandra, eles caíram em um tipo de armadilha, saíram de casa acreditando que iriam para uma reunião com a imigração, mas não retornaram. Levando apenas os pertences que tinham em mãos, nem ao menos tiveram tempo de pegar uma fralda para o filho.
Apesar de terem imigrado ilegalmente, o casal disse que cumpria com todas as obrigações com a imigração, há três anos e meio, desde que chegaram. Eles construíram uma empresa nos Estados Unidos e a deixaram para trás, além da casa e o carro que tinham.
O casal, natural da cidade de Itambacuri, na região do Vale do Rio Doce, interior de Minas Gerais, disse que não estava nos planos voltar para o Brasil, mas depois do que passaram só esperam reconstruir a vida por aqui.
Algemas, agressões e ameaças
Entre os 88 brasileiros, vários foram algemados pelos agentes de imigração dos Estados Unidos, algemados, por isso durante o voo de Manaus para Belo Horizonte, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada das algemas e solicitou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para eles pudessem completar a viagem com dignidade e segurança.
O brasileiro Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos, contou que ele e outros passageiros foram algemados, agredidos e ameaçados. “Foi terrível, vim preso nos braços, nas pernas e na cintura, eles não respeitaram a gente. Bateram em nós. Disseram que iam deixar derrubar o avião e que o nosso governo não era de nada”, relatou.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno
Reprodução/TV Globo
Carlos, natural de Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte, tentou imigrar ilegalmente pelo México, em 2023, foi pego durante a travessia e estava preso desde então. Ele teria gasto cerca de 30 mil dólares para imigrar, mas agora disse que está aliviado de estar no seu próprio país.
Vários homens brasileiros que estavam no voo relataram que foram agredidos durante todo percurso, com empurrões, tapas, murros e que também foram agredidos com as próprias algemas. Segundo eles, apenas mulheres, crianças e os pais que estavam com crianças foram poupados.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno
Arquivo pessoal
Condições do avião
Durante o trajeto dos Estados Unidos para o Brasil o avião precisou parar no Panamá, pois estaria com problemas técnicos. Apesar disso, a tripulação decidiu continuar a viagem sem trocar de aeronave.
“O avião estava em condições precárias, teve que viajar com o mecânico dentro do avião, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar.”, contou Kaleb Barbosa, de 28 anos, que migrou para os Estados Unidos há seis anos em busca de dar uma vida melhor aos filhos.
Depois de seis meses morando nos Estados Unidos, Kaleb retornou apenas com um saco com algumas roupas e objetos pessoais. Ele contou que nos últimos dias, durante a deportação, passou por momentos que nunca mais quer passar na vida.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno
Reprodução/TV Globo
“O momento mais difícil foi quando o ar condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”, disse.
Depois do pouso em Manaus, Kaleb contou que as turbinas do avião chegaram a sair fumaça enquanto tentavam seguir viagem para Belo Horizonte, mas queriam continuar. Por isso tomaram a atitude de abrir as saídas de emergência e pedir socorro. Ainda segundo ele, se não fosse a intervenção do governo e mudança para um avião da FAB, todos poderiam estar mortos.
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