Traficantes do Equador cultuam Santa Morte e realizam sacrifícios humanos

Ex-integrante da quadrilha disse que crianças são os principais alvos para serem mortas diante de estátua cultuada por ‘fornecer proteção’

Uma recente operação policial contra o narcotráfico em Durán, no Equador, revelou que traficantes locais importaram uma tradição mexicana: a veneração à Santa Morte. A descoberta reforça a crescente influência do crime organizado mexicano na América do Sul, tanto em suas práticas criminosas quanto em suas crenças espirituais.

Altares e oferendas

Durante a ação das autoridades, foi encontrado um altar dedicado à Santa Morte, figura amplamente reverenciada no México. Santuários semelhantes, com estátuas esqueléticas cobertas por capas e segurando uma foice e um globo terrestre, tornaram-se comuns em esconderijos criminosos na região. Nos altares, traficantes fazem oferendas de dinheiro, tabaco, álcool e estatuetas, acreditando que a entidade lhes concederá proteção e sucesso em suas atividades ilícitas.

“A crença é que quando eles se entregam à Santa Morte, eles não serão pegos e atingem os seus objetivos porque Santa Morte cuida deles”, afirmou o coronel da polícia de Durán, Roberto Santamaria, à agência France Presse (AFP).

Sacrifícios humanos chocam a população

As práticas em torno do culto à Santa Morte vão além das oferendas simbólicas. Um ex-integrante de uma quadrilha revelou à AFP que alguns traficantes recorrem a sacrifícios humanos para obter favores da entidade.

“Eles sequestraram crianças de outras cidades e as sacrificaram na frente dela (Santa Morte) quando queriam fazer uma ação grande”, denunciou o ex-membro do cartel.

Além dos altares, membros do cartel tatuam a imagem da Santa Morte no corpo e usam amuletos com sua representação no pescoço, reforçando seu compromisso com a entidade. A presença dessa devoção no Equador remonta a cerca de seis anos, quando a facção local Los Choneros recebeu treinamento do cartel de Sinaloa, do México. Segundo o coronel Santamaria, além das técnicas do tráfico, os criminosos equatorianos também adotaram as crenças sobrenaturais dos mexicanos.

Expansão do culto e sua origem mexicana

A Santa Morte é considerada por muitos devotos como uma guardiã da cura e da proteção, sendo reverenciada por milhares de latino-americanos que buscam auxílio para uma passagem segura para a vida após a morte. Sua veneração no México remonta ao século XVIII, em um sincretismo entre tradições católicas e crenças mesoamericanas.

A cultura mexicana, desde a era pré-colombiana, mantém uma relação de reverência com a morte, evidenciada em celebrações como o Dia dos Mortos. Entre os elementos dessas comemorações, destacam-se figuras esqueléticas adornadas com terços e rosários, simbolizando a conexão entre a mortalidade e a espiritualidade cristã.

Entretanto, sacrifícios humanos não são incomuns dentro de alguns círculos de veneração. Em novembro de 2023, no México, duas mulheres e um menino foram mortos a tiros diante de um altar dedicado à Santa Morte, em um caso que chocou a população local.

Guerra contra o narcotráfico no Equador

A facção equatoriana Los Choneros, considerada uma das mais poderosas do país, foi classificada como grupo terrorista pelo presidente Daniel Noboa. Seu governo declarou guerra ao narcotráfico, apontado como responsável pelo aumento da violência no país. A estimativa da polícia de Durán é de que seis em cada dez esconderijos de traficantes inspecionados em 2024 possuíam altares para a Santa Morte.

Noboa, que busca a reeleição no próximo domingo, enfrenta o desafio de conter a escalada da criminalidade enquanto tenta desmantelar essas organizações. O avanço do narcotráfico e a incorporação de elementos religiosos em suas práticas indicam uma nova dimensão do crime organizado na América do Sul, tornando o combate às facções ainda mais complexo.

A relação entre o crime e o misticismo é um fenômeno crescente, que não apenas influencia o comportamento dos criminosos, mas também adiciona um componente ritualístico à violência extrema observada em algumas regiões do continente.

Do Ver-o-Fato, com informações do extra.globo

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