Oito cidades do Vale e região bragantina tiveram mais de três meses de calor extremo em 2024


Levantamento exclusivo feito a pedido do g1 mostra que cidades tiveram temperaturas extremas em pelo menos um trimestre no ano passado na região. Calor em Taubaté, SP
Lucas Tavares/g1
Um levantamento exclusivo a pedido do g1, feito pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), mostrou que diversas cidades do Brasil tiveram muitos dias de calor extremo em 2024.
No Vale do Paraíba e na região bragantina, a situação não foi diferente. Segundo o levantamento, das 46 cidades da região, oito tiveram pelo menos três meses com dias muito quentes.
Encabeça a lista a cidade de Vargem, na região bragantina, que teve, ao todo, 103 dias com temperaturas máximas extremas. A lista segue com as demais cidades da região bragantina:
Vargem: 103 dias
Nazaré Paulista: 101 dias
Bragança Paulista: 100 dias
Joanópolis: 99 dias
Atibaia: 98 dias
Piracaia: 98 dias
Bom Jesus dos Perdões: 97 dias
Queluz: 95 dias
Nas duas maiores cidades da região – São José dos Campos e Taubaté – foram quase dois meses de calor extremo. Em São José dos Campos, segundo o levantamento, foram 56 dias de temperaturas extremas, enquanto em Taubaté foram 52 dias.
Em São José, a temperatura máxima registrada em 2024 foi de 37,7°C. Já em Taubaté, a máxima foi de 37°C.
Por outro lado, as cidades da Serra da Mantiqueira foram as que tiveram o menor número de dias com calor extremo no ano passado, com destaque para São Bento do Sapucaí, com apenas dois dias, seguida de Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão, com quatro dias cada.
Pesquise a situação da sua cidade no mapa abaixo:

Metodologia do levantamento
A análise foi feita a pedido do g1 pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) com dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entenda abaixo como isso foi feito:
🔎 Para cada dia do ano foi calculado um valor limite de temperatura.
🔎 Para isso, foram analisados os dados diários da série histórica entre 2000 e 2024.
🔎 Como resultado, foi constatado o total de dias no ano de 2024 que superaram os valores mais altos vistos na série histórica, o que configura um extremo de calor.
🔎 O índice é o mesmo usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Por exemplo, segundo os dados, para o mês de novembro, a temperatura em Belém, capital do Pará, é considerada extrema quando é maior que 33,9°C. Neste mês, a cidade registrou temperaturas que superaram essa máxima e chegaram a 37,1°C.
O levantamento considerou informações de 5.571 municípios brasileiros. Pouco mais de 100 ficaram de fora, o que inclui as capitais João Pessoa e Recife. Segundo a pesquisadora do Cemaden Márcia Guedes, que fez parte do levantamento, isso ocorre porque ao coletar os dados do satélite, a resolução não conseguiu alcançar algumas cidades na faixa litorânea.
As altas temperaturas explicam o cenário do Brasil no ano passado:
O país viveu a pior seca da sua história, que afetou todo o território nacional, mas foi mais grave no Norte, deixando rios secos e populações isoladas, sem acesso a serviços básicos;
O Brasil viu queimar mais de 30 milhões de hectares, o que é quase o tamanho da Itália, em 2024. O fogo é reflexo de ação humana, mas a proporção é consequência da falta de umidade, resultado das altas temperaturas.
Houve recorde de dengue: foram mais de 6 milhões de casos da doença, que é favorecida pelo calor.
Pela primeira vez, especialistas identificaram uma região de clima árido no Brasil.
Os estados mais afetados foram Pará, Ceará, Tocantins, Minas Gerais, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Maranhão.
O ano de 2024 deixou um alerta para o país: temperaturas extremas não são um evento isolado, mas parte de uma tendência que exige atenção e ação para mitigar seus impactos (leia mais abaixo).
Mais de 6 milhões de pessoas enfrentaram calor extremo no Brasil
Calor é também uma questão de saúde
O calor não é apenas um problema para o meio ambiente, mas também para a sobrevivência humana. O corpo consegue se adaptar às altas temperaturas, mas não sem consequências, como náusea, tontura, dores de cabeça, entre outras.
O estresse térmico, índice que mede a exposição ao calor e os riscos potenciais à saúde humana, pode, no entanto, levar a consequências mais graves, como a morte. O limite varia de pessoa para pessoa, o que depende da exposição – o que reforça os fatores sociais relacionados ao calor.
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 14 anos, quase 60 pessoas morreram devido ao calor intenso no país.
Contudo, especialistas estimam que esse número seja subnotificado, já que não existe um protocolo para analisar a relação entre mortes e a exposição a altas temperaturas.
Sandra Hacon, pesquisadora da Fiocruz sobre os impactos do calor à saúde, explica que a situação já é de emergência e que precisa ser levado em quando nas políticas de saúde.
É impossível suportar esse período de tempo sob essas temperaturas sem consequências, o corpo não tem resiliência para suportar. O acompanhamento da temperatura tem que estar no programa de vigilância com prioridade máxima, se não estamos deixando milhões de pessoas expostas ao risco de vida.
Sandra reforça que as consequências do calor não são as mesmas para todos e as altas temperaturas expõem as desigualdades no Brasil. As cidades com menos infraestrutura não vão conseguir atender à demanda, que aumenta conforme o calor se amplia. Além disso, as pessoas em posições braçais, estão mais expostas.
Os 37°C de uma cidade são sentidos de forma diferente por quem trabalha em um escritório e quem trabalha na rua, como um gari e um policial. As pessoas mais vulneráveis são, justamente, as mais pobres, indígenas e quem mora em cidades com pouca infraestrutura de saúde. O calor deixa exposto ainda mais as diferenças sociais que dividem o Brasil.
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