Tempestade solar recorde produz dois novos cinturões de radiação na Terra

Um artigo publicado nesta quinta-feira (6) no periódico científico Journal of Geophysical Research: Space Physics relata que uma intensa tempestade solar ocorrida em maio de 2024 gerou dois novos cinturões de radiação ao redor da Terra. O mais surpreendente é que um deles continha prótons energéticos, algo nunca antes observado nesse contexto.

Resultado de uma série de erupções no Sol, a tempestade solar lançou uma enorme quantidade de partículas carregadas em direção à Terra. Quando essas partículas atingem o campo magnético do planeta, elas normalmente geram auroras ao interagir com a atmosfera.

No entanto, os efeitos daquele evento em especial foram além do esperado. Cientistas descobriram que, nos meses seguintes, o planeta ficou envolto por dois cinturões adicionais de partículas de alta energia.

Novos cinturões de radiação da Terra surpreende cientistas

Os círculos de radiação da Terra, conhecidos como cinturões de Van Allen, são regiões onde partículas carregadas ficam presas pelo campo magnético do planeta. Normalmente, existem dois cinturões: um interno, mais próximo do globo, e um externo, que circunda ambos. Esses cinturões desempenham um papel essencial na proteção contra a radiação cósmica e as partículas solares.

No entanto, a tempestade de maio do ano passado adicionou dois cinturões temporários à estrutura existente. Um deles continha elétrons, algo já observado em tempestades geomagnéticas anteriores. O outro, porém, chamou a atenção dos cientistas por conter prótons energéticos, um fenômeno sem precedentes.

Diagrama dos cinturões de Van Hallen, que são permanentes ao redor da Terra. Crédito: Oleksandr Panasovskyi – Shutterstock

“Quando comparamos os dados de antes e depois da tempestade, eu disse: ‘Uau, isso é algo realmente novo’. Isso é realmente impressionante”, disse o principal autor do estudo, Xinlin Li, físico da Universidade do Colorado em Boulder, em um comunicado da NASA. A descoberta foi feita a partir dos dados coletados pelo satélite Colorado Inner Radiation Belt Experiment CubeSat, da agência. 

Ao analisar as informações, os pesquisadores constataram que os cinturões recém-formados persistiram por um período muito maior do que o normal. Enquanto formações semelhantes geradas por tempestades solares anteriores duravam algumas semanas, esses novos cinturões permaneceram por pelo menos três meses. Alguns indícios sugerem que o cinturão de prótons pode durar mais de um ano.

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Tempestades solares seguintes dispersou os cinturões

Eventos solares posteriores, como as tempestades ocorridas em junho e agosto,  dispersaram grande parte das partículas, reduzindo a densidade desses cinturões. Ainda assim, uma pequena quantidade permanece em órbita, acompanhando a Terra em sua trajetória pelo espaço.

A presença prolongada dessas partículas pode representar riscos para satélites e outras tecnologias espaciais. Quanto maior a quantidade de partículas energéticas em determinadas regiões da órbita terrestre, maior o impacto potencial sobre sistemas eletrônicos e equipamentos sensíveis. Por isso, compreender como essas partículas se comportam e quanto tempo permanecem na órbita terrestre é essencial para o desenvolvimento de estratégias que protejam nossos satélites.

David Sibeck, astrônomo do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, que não participou do estudo, destaca a importância do achado. “Estes são realmente elétrons e prótons de alta energia que encontraram seu caminho para o ambiente magnético interno da Terra. Alguns podem permanecer nesse local por um longo tempo”.

Como ainda não se sabe exatamente o nível de ameaça representado pelos novos cinturões de radiação, os cientistas pretendem monitorá-los continuamente para entender sua evolução e possíveis impactos. Pesquisas futuras poderão determinar se eventos semelhantes já ocorreram no passado e se devemos nos preparar para fenômenos desse tipo com mais frequência.

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