E-Music pelo mundo: a vibrante cena do Japão é um ato de constante resistência em meio a forte cultura local

O Japão é um dos países do mundo e principalmente quando se trata do oriente que possui uma das culturas mais únicas e antigas da civilização humana. São práticas e costumes milenares que vão de métodos de convivência, forma de se vestir, de enxergar o mundo e se relacionar com ele, táticas militares, culinária e vários outros, que regem uma parte da vida por lá até os dias atuais. Estes fatores são motivo de admiração do povo japonês e sua forma de viver para algumas pessoas. 

Uma cultura rica, antiga e presente até hoje, pode ser o que explica a sociedade japonesa ainda ser extremamente conservadora. Um exemplo disso é uma lei feita em 1948, a qual tratava espaços com música e dança como casas de entretenimento adulto e que deveriam operar em condições especiais estabelecidas, que só foi derrubada em 2015. Uma das ordens era que os pubs, e posteriormente os clubs, não poderiam ter pista de dança depois de meia noite até o amanhecer.

Esta lei, claro, buscava frear a busca dos jovens pela diversão, e para as autoridades da época tinha o objetivo de impedir a criação de uma atmosfera hedonista, combater a prostituição e a libertinagem. 

A música no Japão tem uma presença milenar na vida das pessoas, desde sonoridades e estilos até instrumentos próprios do país. Atualmente, tem um dos maiores mercados musicais do mundo impulsionado principalmente pelo J-Pop, J-Rock e Anison (Anime Songs), estilos característicos do país que fundem música e cultura local. A música eletrônica também tem um papel importante no país.

Por lá, a música eletrônica tem seus primeiros movimentos ligados à explosão do techno na década de 80. O início foi com a banda Yellow Magic Orchestra, formada por Haruomi Hosono,  Yukihiro Takahashi e Ryuichi Sakamoto. Os artistas utilizavam sintetizadores, baterias eletrônicas, sequenciadores, samplers e outras tecnologias para fazer suas músicas. Seu estilo ficou conhecido como technopop no Japão e por muito tempo foi o grupo mais popular do país, realizando turnês internacionais com frequência.

Este fenômeno fez com que muitos artistas migrassem da música acústica para a produção de techno, como por exemplo. Em 1990, o techno era o som do momento no Japão, com artistas como Denki Groove e Ken Ishii levando o som underground japonês para o mundo.

Nos dias de hoje, a cena segue ativa, principalmente no underground com clubs muito focados no house e no techno. O Womb é um dos mais importantes da capital Tokyo, celebrando 25 anos em 2025 recebeu nos últimos meses Sven Väth, Black Coffee e no fim de fevereiro Nina Kraviz desembarca na casa. Vent, Contact e AgeHa (fechado em 2022) são locais que oferecem uma variedade maior de sons dentro da música eletrônica e valorizam bastante artistas locais. 

O Japão tem DJs conhecidos internacionalmente como os pioneiros já citados e outros como DJ Nobu, Wata Igarashi, Licaxxx, Satoshi Tomiie, Soichi Terada, entre outros.

Um movimento particular do país e que tem ajudado a música eletrônica a se popularizar mais no país e principalmente entre os jovens é o J-Core, um estilo hardcore com bpms altos e que incorpora elementos culturais japoneses nas produções como animes e videogames. Além disso, o Ultra tem realizado edições no Japão desde 2014, com hiato apenas durante a pandemia. Um gigante como este atrai um público que vai além dos clubbers e ajuda na divulgação da música eletrônica.

Recentemente, um dos Boiler Room mais repercutidos no mundo foi o de ¥ØU$UK€ ¥UK1MAT$U, DJ underground japonês, gravado em Tóquio. O set mostra uma versatilidade e liberdade artística impressionante, ao passo que a cultura japonesa está constantemente sendo lembrada nas mixagens.

Para finalizar, o Japão tem uma cena antiga, vibrante, com artistas cientes do contexto histórico que estão inseridos e que por este motivo valorizam suas raízes culturais e musicais. A resistência clubber, presente em provavelmente todas as cenas de eletrônica ao redor do mundo, não poderia ser um fator ausente na terra em que o sol nasce primeiro.

Por Adriano Canestri

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