Ministro diz ser ‘mais ambientalista’ do que quem critica adesão do Brasil a fórum da Opep+


Decisão foi tomada nesta terça pelo ministro e anunciada por Alexandre Silveira (Minas e Energia). Para especialistas, governo deve priorizar transição energética em vez de petróleo. Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, em imagem de 2024
Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Entidades da área ambiental criticaram nesta terça-feira (18) o anúncio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de aderir a um fórum de debates da OPEP+, grupo que reúne países aliados da Organização de Países Exportadores de Petróleo.
O anúncio foi feito nesta terça em Brasília pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, após reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Silveira também confirmou a entrada do Brasil na Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena).
Em linhas gerais, o governo entende que participar do fórum da OPEP+ permitirá ao Brasil pautar, em nível internacional, as discussões sobre a chamada transição energética, assim como seu financiamento, a exemplo do que aconteceu no G20.
Integrantes do governo, como Alexandre Silveira, dizem não ver contradição entre o país sediar neste ano a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) e o anúncio sobre a OPEP+, acrescentando que o país não pretende utilizar o organismo para aumentar a produção de petróleo.
Questionado sobre críticas de entidades ambientalistas que dizem ver contradição, Silveira respondeu:
“Os ambientalistas […] têm todo o meu respeito, eu também sou ambientalista, também defendo a preservação do meio ambiente. Trabalho vigorosamente para avançar na transição energética, talvez eu me considere até mais ambientalistas que ele. Agora, eu quero saber: o que está por trás disso? Chamar de contradição um país, que é o líder da transição energética global, aderir a um fórum de discussão para discutir estratégia? Qual a contradição. É quem não conhece geopolítica.”
‘Negacionismo’ e ‘contradição’
Para Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, o anúncio desta terça “expõe o negacionismo da emergência climática” e “consolida” a opção do Brasil de expandir “intensamente” a produção de combustíveis fósseis.
“Onde queremos chegar? Petróleo gera dinheiro, mas para quem e com quais consequências? Produzimos petróleo suficiente para nossa demanda interna. O financiamento da transição energética não justifica essa expansão irresponsável, que só piora o problema que se pretende resolver”, afirmou em nota.
Ricardo Fujii, especialista em Conservaçao do WWF-Brasil, por sua vez, o anúncio desta terça-feira é “contraditório” porque, além de o Brasil sediar a COP neste ano, entrar em um fórum ligado à OPEP não gera “ganho nenhum” para o Brasil, somente “muitas perdas” porque o grupo tem perdido poder de influenciar os preços do petróleo ao redor do mundo nas últimas décadas.
“À medida em que a transição energética ocorre, o consumo de combustíveis fósseis vai cair nos próximos anos e décadas, e a influência da OPEP vai ser cada vez menor. Participar de um grupo com baixa influência e que, de certa forma, se opõe à transição energética, é algo muito desfavorável ao Brasil, que tem vantagens competitivas […] em energias renováveis”, afirmou.
Em nota, o especialista em Transição Energética do Greenpeace Brasil, Pablo Nava, afirmou que o Brasil poderia “aprofundar” as relações com alguns países da OPEP em outros fóruns multilaterais, buscando ampliar a transição energética, a transição produtiva, e a chamada economia de baixo carbono.
“O mundo precisa de novas estratégias, e não de olhar para velhos esquemas que insistem em persistir”, acrescentou.
Extração na Foz do Amazonas
O anúncio do governo sobre a OPEP+ também acontece num momento em que o presidente Lula tem defendido as pesquisas de exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Segundo as estimativas, se aprovada, a extração pode render 14 bilhões de barris.
A eventual extração opõe setores do governo. O Ministério de Minas e Energia e a Petrobras, por exemplo, defendem a extração, alegando que pode representar a segurança energética do país e gerar recursos para a transição na matriz de energia.
Órgãos como Ministério do Meio Ambiente e Ibama por outro lado, dizem que a região é sensível, tem áreas de preservação ambiental e comunidades indígenas e, por isso, devem ser mais “rigorosos”.
Nesse contexto, o presidente Lula tem que criticado o que chama de “lenga lenga” e afirmado que o Ibama parece agir contra o governo.
Questionado sobre o assunto nesta terça-feira, Alexandre Silveira disse que o Ibama não pode “enrolar”.
“Ninguém está dizendo que nós queremos que o Ibama transija um milímetro sequer no cumprimento das obrigações de quem for fazer pesquisas. Só não pode ter decisão ideológica. […] É um absurdo sentar à mesa com o Ibama e ele não informar o que falta. […] Queremos que nos diga: ‘falta helicóptero, falta navio, falta hospital, prevenção. Agora, não pode falar que não vai fazer, não pode enrolar, tem que dar resposta”, disse.
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