IA: inteligência artificial ou insônia e ansiedade? Especialista faz alerta

No dia 18 de fevereiro, o evento Spotlight, em comemoração aos 20 anos do Olhar Digital, reuniu especialistas para discutir os impactos da Inteligência Artificial (IA) no mercado de criadores, editoras, plataformas e anunciantes. 

Um dos palestrantes foi Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, que destacou o crescimento acelerado da IA, a ansiedade que esse avanço tem gerado nas pessoas e empresas, as oportunidades ainda inexploradas de integração tecnológica e a responsabilidade sobre o conteúdo gerado.

Palestra sobre o crescimento acelerado da IA, apresentada por Arthur Igreja. Crédito: João Neto

Principais pontos abordados na palestra:

  • Adoção da IA e paralisia decisória: O rápido avanço da IA está causando um efeito paradoxal nas empresas, levando à hesitação na tomada de decisões, já que novas tecnologias surgem constantemente.
  • Ansiedade e impactos na saúde mental: O excesso de informações e mudanças tecnológicas tem aumentado problemas como insônia e burnout, com profissionais se sentindo pressionados pela necessidade de adaptação constante.
  • Integração tecnológica como diferencial: Muitas soluções tecnológicas básicas ainda não foram plenamente exploradas. Pequenas inovações, como a sincronização de pedidos no drive-thru e a integração de dispositivos pessoais com companhias aéreas, podem gerar impactos significativos.

IA: ansiedade e insônia

Durante a palestra, Igreja chamou a atenção para um fenômeno curioso: apesar do grande potencial da IA, muitas empresas estão hesitantes em adotá-la devido à velocidade com que novas versões surgem. “As coisas estão avançando tão rápido que nós estamos tendo um segundo efeito dentro das empresas, que é uma certa paralisia na tomada de decisão”. 

Ele comparou a situação com o mercado de smartphones, quando os consumidores não deixam de comprar um modelo só porque outro mais avançado será lançado no ano seguinte. No entanto, no ambiente corporativo, essa lógica tem levado a uma inércia estratégica.

Outro ponto abordado foi o impacto psicológico do avanço tecnológico. Igreja avaliou que a sigla AI (Artificial Intelligence) está virando um sinônimo de “ansiedade e insônia”. “Esse é um tema que todo mundo está acompanhando, mas ele tem se agravado. Temas relacionados a sono, qualidade de vida e burnout estão cada vez mais presentes”, alertou o especialista.

“As pessoas estão sofrendo muito com saúde mental, esse é um tema que todo mundo está acompanhando, mas ele tem se agravado”, diz Arthur Igreja sobre o impacto da IA na insônia e na ansiedade. Crédito: João Neto

Leia mais:

  • 20 anos do Olhar Digital: “IA tem sede”, diz especialista. Como lidamos com isso?
  • Uma “nova ordem mundial” da tecnologia está chegando, segundo neurocientista
  • 5 inteligências artificiais chinesas para você testar

Além de desenvolvimentos e avanços extraordinários, ‘IA’ também está se tornando sigla para a ansiedade e insônia. Então, as pessoas estão sofrendo muito com saúde mental, esse é um assunto que todo mundo está acompanhando, que tem se agravado. Temas relacionados a sono, qualidade de vida, burnout, enfim. Estamos atingindo um ponto, que eu já venho falando faz anos, nós cruzamos o ponto ótimo, faz muito tempo, da história de ‘mais tecnologia quer dizer mais benefícios’. Não sei se esse trade-off ainda é verdadeiro. 

Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação

“Inteligência Artificial não é a solução para tudo”

Além disso, o especialista ressaltou que a IA não é a única solução tecnológica com espaço para crescimento. Ele exemplificou como inovações simples podem fazer uma grande diferença, citando o caso do drive-thru da rede Chick-fil-A nos EUA, que integrou seus sistemas ao Apple CarPlay para otimizar pedidos. Outro exemplo foi a integração entre Apple Tags e companhias aéreas, permitindo que passageiros compartilhem temporariamente a localização de suas malas diretamente com as empresas. “Não precisou de IA para isso, não precisou de um LLM gigante. Precisou olhar o mundo e falar: ainda tem espaço para tecnologias menos charmosas”.

Para Igreja, o impacto da IA no mercado segue uma tendência similar à de outras revoluções tecnológicas, como a internet e os smartphones. No entanto, a velocidade de adoção da IA generativa está sendo muito maior. Segundo ele, 93% dos adultos nos EUA já estão familiarizados com a IA e 61% das pessoas economicamente ativas a utilizam de alguma forma. O ChatGPT, por exemplo, registrou 3,1 bilhões de acessos em setembro do ano passado, superando outras ferramentas concorrentes.

Especialista explica impopularidade do metaverso

Encerrando a palestra, o especialista fez uma reflexão sobre a natureza das tendências tecnológicas. Ele comparou o avanço da IA com o hype do metaverso e destacou a diferença entre uma inovação sustentável e uma moda passageira. “O porquê que a IA não é o metaverso de 2025? Porque tudo que você precisa de muito argumento para tentar sustentar não é uma tendência”. Segundo ele, tecnologias realmente transformadoras se consolidam por sua utilidade prática, sem a necessidade de um discurso artificial para justificar sua importância.

O evento Spotlight marcou um momento de reflexão sobre o papel da IA no mercado atual, apontando tanto os desafios quanto as oportunidades para empresas e profissionais. O recado de Arthur Igreja foi claro: a IA não pode ser ignorada, mas também não deve paralisar a inovação.

Por que que a IA não é o metaverso de 2025? Porque tudo que você precisa de muito argumento para tentar sustentar não é uma tendência. O que é um hype? É um momento em que as pessoas suspendem a capacidade crítica. Então, todo mundo está falando daquilo e ninguém fala mal. Hype é quando nós temos que sustentar com argumentos. Tendência é quando você sustenta com números. Essa é a grande diferença da coisa.

Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação

Responsabilidade sobre o que é gerado pela Inteligência Artificial

Igreja ainda levantou uma reflexão sobre um potencial risco do uso da IA generativa. Ele usou como exemplo a criação de uma imagem de Galileu usando um smartphone, ilustrando como a tecnologia pode realizar tarefas impensáveis para quem não possui habilidades específicas, como desenhar ou editar imagens absurdas. No entanto, esse poder levanta uma questão fundamental: a responsabilidade pelo que é gerado.

A IA não tem discernimento próprio, não questiona ordens nem alerta sobre erros históricos ou lógicos. Ela simplesmente obedece. Isso significa que a decisão final e as consequências do uso da ferramenta recaem sobre quem faz o pedido. Igreja ressalta que, embora no caso da imagem de Galileu o erro seja inofensivo, em outros contextos, como na criação de conteúdos falsos ou manipulação de informações, os impactos podem ser graves.

Criar uma imagem absurda como Galileu usando um smartphone mostra o poder da tecnologia, mas também levanta a questão: quem responde pelo conteúdo gerado? Crédito: João Neto

Além disso, o palestrante apontou para um fenômeno curioso: a automação excessiva pode acabar prejudicando a comunicação. O exemplo do “telefone sem fio com dois papagaios” mostra como textos gerados por IA podem perder autenticidade quando passam por múltiplos filtros automatizados. Essa dinâmica pode levar a um empobrecimento da troca de ideias, já que as mensagens se tornam genéricas, previsíveis e desconectadas da experiência humana genuína.

Uma importante mensagem da palestra de Igreja é que, embora a tecnologia ofereça avanços incríveis, seu uso indiscriminado pode distorcer informações e gerar mal-entendidos. Ele reforça que a Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa, mas cabe a nós utilizá-la de forma ética e consciente para evitar prejuízos na comunicação e no conhecimento.

O post IA: inteligência artificial ou insônia e ansiedade? Especialista faz alerta apareceu primeiro em Olhar Digital.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.