Mickey 17 (Crítica Sem Spoiler): Promete TUDO e entrega NADA

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Se você estava contando os dias para assistir a uma ficção científica arrebatadora, talvez Mickey 17 não seja o espetáculo que esperava. Embora apresente uma ideia promissora — envolvendo um personagem cuja vida pode ser substituída sem grandes cerimônias — a execução deixa a desejar em vários aspectos. O roteiro parece querer disparar críticas sociais, fazer rir e ainda entregar cenas de tensão, mas se perde em um emaranhado de situações que não se conectam de forma convincente. A sensação é de que o diretor tinha muito a dizer, mas não conseguiu equilibrar humor e profundidade, resultando em um desfile de momentos soltos que, no fim, soam mais bagunçados do que impactantes.

A promessa e a realidade

A premissa de Mickey 17 sugere grandes possibilidades. Afinal, há muito o que explorar quando se fala em um protagonista que pode ser replicado, levantando questionamentos éticos e existenciais interessantes. O problema é que a narrativa gasta tanta energia tentando soar excêntrica que, quando chega a hora de desenvolver ideias, tudo se resolve de maneira apressada e sem o devido peso dramático. O filme até ensaia discussões sobre exploração e colonialismo, mas prefere interrompê-las com piadas fora de hora, que em nada contribuem para aprofundar os temas propostos.

Por mais que o material de base pareça consistente, o diretor demonstra dificuldade em trabalhar todos os elementos com coesão. A história vai e volta entre situações cômicas, diálogos expositivos e breves lampejos de crítica social, sem nunca encontrar um tom definido. Em vez de prender a atenção, acaba dispersando o público e desperdiçando a chance de transformar um conceito intrigante em algo realmente marcante.

Personagens e subtramas

Mickey 17

Outro ponto que causa desconforto é a forma como os personagens secundários são tratados. Enquanto o protagonista até consegue segurar a narrativa, os coadjuvantes se resumem a figuras rasas, servindo mais de escada para piadas do que para dar robustez ao enredo. Há momentos em que o filme parece estar a um passo de desenvolver tramas paralelas, mas logo abandona essas investidas. A ausência de aprofundamento faz com que certas relações e conflitos surjam sem impacto real, parecendo apenas um artifício para preencher tempo de tela.

Aproveitando-se da fama de nomes do elenco, a produção promete interpretações intensas, mas entrega papéis exagerados ou desperdiçados em cenas cujo único objetivo é reforçar uma comédia que raramente encontra o momento certo para acontecer. É frustrante ver atores talentosos tentando criar algo convincente em meio a um roteiro que oscila entre o politicamente satírico e o puramente caricaturesco.

Humor que atropela a narrativa

Mickey 17 se esforça tanto para entreter que, em muitos casos, deixa a coerência da história em segundo plano. O humor poderia servir como uma válvula de escape para lidar com as tensões de um futuro incerto, mas aqui ele surge em quantidades tão desproporcionais que chega a anular a seriedade de certas cenas. O resultado é um universo que tenta parecer subversivo e crítico, mas acaba preso em gags sem timing e em tiradas que mais parecem ter saído de paródias populares do que de uma ficção científica com pretensão de profundidade.

Para piorar, quando o filme finalmente ensaia uma abordagem mais densa, a narrativa logo se apressa em explicar tudo com diálogos didáticos ou narrações cansativas, como se o espectador não fosse capaz de deduzir nada por conta própria. Esse excesso de exposição revela não só a falta de confiança do roteiro na inteligência do público, mas também a dificuldade em transmitir ideias complexas de forma orgânica.

Crítica social e dispersão

É difícil deixar passar a forma como Mickey 17 tenta, a todo momento, cutucar sistemas de poder, manipulação religiosa e relações trabalhistas precárias. São assuntos relevantes, que poderiam dar ao filme um tom crítico e contundente. O problema é que o longa prefere girar em torno de piadas e estereótipos que não se sustentam por muito tempo. Em vez de tensionar de fato o espectador, o texto se contenta em apontar o dedo para situações que imitam a nossa realidade, mas sem aprofundar as implicações dessas comparações.

Esse tipo de abordagem faz com que as críticas pareçam superficiais, quase como se o diretor estivesse mais preocupado em distribuir indiretas do que em construir uma narrativa coesa. Há, sim, momentos em que se enxerga um lampejo de comentário social mais afinado, mas logo ele se perde em meio a trocas de farpas cômicas e reviravoltas que não chegam a lugar nenhum.

Vale a pena conferir?

No fim, achar ou não Mickey 17 um bom filme vai depender de quanta paciência o espectador tem para uma experiência que se propõe a ser ácida e reflexiva, mas acaba caindo em exageros. Não é que não haja diversão ou pontos interessantes — eles estão lá, apenas encobertos por um humor que nem sempre funciona e por uma linha narrativa que não sabe se quer ser crítica ou simplesmente espalhafatosa.

Algumas pessoas podem até se divertir com a mistura de caos, sátira e ficção científica, mas quem espera algo verdadeiramente marcante talvez saia frustrado. Apesar do grande potencial, o filme entrega mais promessas que realizações, tropeçando na hora de unir a carga dramática ao tom humorístico. É como se, diante de várias escolhas de rumo, Mickey 17 decidisse insistir nas piores saídas possíveis, resultando em um espetáculo que deixa o público mais cansado do que impactado.

Em suma, Mickey 17 não chega a ser um completo desastre, mas passa longe de honrar o entusiasmo que se construiu ao seu redor. Tem momentos interessantes? Tem. Só não espere sair da sala com a sensação de ter vivenciado algo realmente original. No lugar de uma ficção científica profunda e inovadora, o que se encontra é um caldeirão de ideias dispersas, humor sem amarras e críticas que se perdem no meio do caminho. Se a intenção era provocar e questionar o público, o filme faz isso de forma tão confusa que o resultado final é bem menos eletrizante do que se poderia imaginar.

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Mickey 17 (Crítica Sem Spoiler): Promete TUDO e entrega NADA

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