Surto ou ódio acumulado? Matou tio idoso e cachorro a facadas

Um crime brutal chocou ontem os moradores do bairro Padre Roma, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Um idoso de 61 anos e um cachorro foram encontrados mortos no quintal de uma residência na Rua Dois de Dezembro, em plena região central da cidade. O autor do duplo homicídio, segundo a Polícia Civil, seria o sobrinho do idoso, preso em flagrante logo após o ato.

O caso, que está sob investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), já ganhou contornos nas redes sociais, onde circula a versão de que o suspeito teria agido em um suposto surto psicótico, esfaqueando tanto o tio quanto o animal, que nada tinha a ver com a história. Mas será que essa explicação simplista realmente dá conta da barbárie?

Os corpos foram descobertos na manhã de quinta-feira, após o 25º Batalhão da Polícia Militar ser acionado para atender o que inicialmente foi reportado como uma tentativa de homicídio. Ao chegar ao local, os agentes se depararam com uma cena de horror: o idoso e o cachorro jaziam sem vida, com ferimentos evidentes causados por golpes de faca. O sobrinho, que não teve a identidade revelada, foi detido no local e autuado por homicídio consumado. O corpo do idoso foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, no Recife, onde perícias estão sendo realizadas para esclarecer os detalhes do crime.

A narrativa que rapidamente se espalhou – a do “surto psicótico” – levanta mais perguntas do que respostas. É cômodo, para não dizer simplista, atribuir um crime tão violento a um colapso mental repentino. Seria esse o caso de um ódio acumulado, talvez enraizado em anos de convivência tensa com o tio, que explodiu de forma devastadora?

E o cachorro, uma vítima inocente que pagou com a vida por estar no lugar errado na hora errada, seria apenas um dano colateral ou um símbolo de algo mais profundo na mente do agressor? A ausência de informações sobre o histórico da relação entre tio e sobrinho, bem como sobre a saúde mental do suspeito, deixa um vácuo que a polícia e a sociedade precisam preencher com fatos, não com especulações.

Saúde mental e rancores

O que chama atenção é como a hipótese do surto psicótico, tão recorrente em casos como esse, pode servir como uma muleta para evitar discussões mais incômodas. Quantas vezes não vimos a saúde mental ser usada como bode expiatório para mascarar dinâmicas familiares disfuncionais, rancores alimentados por anos ou até mesmo a falta de suporte social que poderia ter identificado sinais de alerta? Enquanto a investigação não avança, a comunidade de Padre Roma fica com o trauma e a dúvida: foi um ato impulsivo ou o desfecho de uma tragédia anunciada?

O cachorro, coitado, torna-se o retrato da insensatez humana. Sem voz ou culpa, ele engrossa a lista de vítimas que pagam o preço de conflitos que não lhes pertencem. Já o idoso, aos 61 anos, teve sua vida interrompida de forma brutal, num quintal que deveria ser um espaço de paz. A Polícia Civil tem agora o desafio de ir além da superfície, investigando não apenas o que aconteceu, mas o porquê.

Porque, no fim das contas, rotular o crime como um “surto” pode aliviar a consciência coletiva, mas não explica a raiz de tamanha violência – nem impede que ela se repita.

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