
Na vastidão de conteúdos que a Netflix oferece, Adolescência se destaca como uma das minisséries mais impactantes do ano. O enredo, à primeira vista, parece familiar: um adolescente de 13 anos é acusado de assassinato, e a polícia invade sua casa para detê-lo. Mas é na forma de narrar essa história que a produção surpreende. Cada um dos quatro episódios é filmado em um único plano-sequência, técnica que mantém a câmera ligada sem cortes por cerca de uma hora — um feito técnico raro e desafiador, que imerge o espectador na tensão crua da trama.
A técnica do plano-sequência não é novidade no cinema, mas sua aplicação em uma série exige precisão cirúrgica. Enquanto outras produções usam truques para disfarçar cortes, Adolescência não recua: a câmera segue ininterruptamente, capturando cada respiração, cada movimento dos personagens.
O diretor Philip Barantini, conhecido por El Chef (2021) — filme também rodado em plano-sequência —, lidera a equipe com maestria. Para garantir a fluidez, dois operadores de câmera alternavam o equipamento durante as cenas mais complexas, como no segundo episódio, em que a câmera atravessa uma janela em um movimento ágil. Cada capítulo exigiu duas semanas de ensaio e até dez gravações por episódio, realizadas ao longo de uma semana.
O primeiro episódio acompanha a detenção do adolescente, desde a invasão da casa até os primeiros momentos na delegacia. A câmera flui entre os cômodos, mostrando a confusão da família, o transporte no carro policial e a rotina burocrática da delegacia, enquanto os pais esperam respostas. A sensação é de desorientação: o público, assim como os personagens, não sabe detalhes do crime, mergulhando na mesma angústia que culmina em um clímax emocional.
No segundo episódio, a narrativa muda para a investigação policial na escola do acusado e da vítima. Dois detetives entrevistam colegas e professores, revelando aos poucos o contexto por trás do crime. A câmera os segue pelos corredores, capturando conversas espontâneas e detalhes que montam o quebra-cabeça.
Já o terceiro capítulo salta no tempo e adota a perspectiva de uma terapeuta (Erin Doherty) encarregada de avaliar o adolescente. O confronto entre os dois é tenso e emocionalmente carregado, explorando camadas psicológicas que desafiam a visão do espectador sobre culpa e responsabilidade.
O último episódio mostra a família meses após o crime, em um dia comum que esconde feridas ainda abertas. Stephen Graham, cocriador da série e intérprete do pai, traz uma atuação poderosa, enquanto Owen Cooper, em seu primeiro papel, impressiona pela intensidade. Erin Doherty, como a terapeuta, equilibra frieza profissional e humanidade, completando um elenco que eleva a série a outro patamar.
Além da técnica impecável, Adolescência choca ao abordar um tema delicado: a violência envolvendo crianças. A ausência de cortes amplifica a sensação de realidade, como se o espectador estivesse testemunhando os eventos ao vivo. A produção não busca respostas fáceis, mas expõe as complexidades morais e emocionais de cada personagem.
Com quatro episódios autônomos, porém interligados, a minissérie prova que a forma de contar uma história pode ser tão relevante quanto o conteúdo. Entre os destaques técnicos, o terceiro episódio se sobressai, com seu diálogo intenso e a coreografia precisa entre atores e câmera. Não à toa, Adolescência já é apontada como forte candidata a figurar nas listas das melhores produções do ano — um marco na TV contemporânea.
Esse Está na Netflix, estreou essa semana, e está sendo considerada a série do ano foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.