Hoje é o Dia do Jornalista, mas comemorar o quê?

Hoje, 07 de abril, o Brasil celebra o Dia do Jornalista, uma data que deveria ser de homenagem aos profissionais que dedicam suas vidas a desvendar os fatos, investigar, fiscalizar o poder e dar voz à sociedade. Mas será que há o que comemorar? Em um cenário marcado por ameaças, censura, assédio judicial, processos em cascata, agressões físicas e até assassinatos, os jornalistas que permanecem na linha de frente da apuração enfrentam um campo de batalha cada vez mais hostil.

São eles que, muitas vezes, pagam o preço por revelar verdades incômodas, enquanto a profissão, paradoxalmente, afunda em uma das piores crises de sua história.

O jornalismo, que já foi sinônimo de credibilidade e imparcialidade, hoje se vê contaminado por uma onda de distorções. Muitos profissionais, outrora guardiões da informação, transformaram-se em militantes partidários e ideológicos, colocando suas canetas a serviço de narrativas convenientes em vez de fatos. Empresas e governos, cientes dessa vulnerabilidade, encontram terreno fértil para cooptar esses “jornalistas chapa-branca”, que trocam a busca pela verdade por favores, cargos ou vantagens financeiras.

Opiniões travestidas de análises inundam redações e telas, enquanto a essência do ofício — ouvir todos os lados, checar informações e apresentar os acontecimentos com rigor — é relegada a segundo plano. Esses mercenários da informação, que vendem a alma ao diabo, desonram a profissão e dilapidam seu maior patrimônio: a confiança do público.

A crise não é apenas externa, com as agressões e os processos que tentam calar os jornalistas combativos. Ela é também interna, alimentada por aqueles que, dentro das próprias redações, escolhem o conforto da subserviência em vez do risco da independência.

Casos de repórteres assassinados, como os registrados nos últimos anos em regiões onde o crime organizado e o poder político se entrelaçam, contrastam com a postura de colegas que preferem bajular autoridades a confrontá-las. O resultado é uma profissão dividida entre mártires e vendidos, entre os que morrem pelo dever e os que lucram com a omissão.

Audácia para se reinventar

Mas nem tudo está perdido. Separar os bons dos maus jornalistas — e, sobretudo, dos mercenários da informação — exige um esforço conjunto e urgente. Primeiro, é preciso resgatar os princípios básicos do jornalismo: a apuração exaustiva, a imparcialidade na exposição dos fatos e o compromisso com a pluralidade de vozes.

Os profissionais sérios devem se distinguir pela transparência, rejeitando qualquer vínculo que comprometa sua autonomia, seja com governos, empresas ou ideologias. A sociedade, por sua vez, tem o papel de cobrar e valorizar aqueles que mantêm a ética acima de tudo, premiando a credibilidade com audiência e apoio.

As redações também precisam se reinventar. Investir na formação de jornalistas, com foco em técnicas de investigação e no uso ético das novas tecnologias, é essencial para fortalecer a profissão. Órgãos de classe, como sindicatos e associações, devem ser mais firmes na defesa dos que enfrentam ameaças e na denúncia dos que traem o ofício.

E, acima de tudo, é necessário um pacto coletivo para que o jornalismo volte a ser um farol de verdade, não um megafone de interesses escusos.

Neste Dia do Jornalista, o Brasil tem pouco a festejar, mas muito a refletir. A profissão está em um divisor de águas: ou se ergue, resgatando sua essência e isolando os oportunistas, ou sucumbe de vez à mediocridade e à irrelevância.

Aos que ainda resistem, arriscando a vida ou a carreira por amor à verdade, resta o reconhecimento silencioso de que são eles os verdadeiros heróis de um ofício em frangalhos. Que o futuro lhes dê razão — e que os vendidos sejam apenas uma nota de rodapé na história.

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