EXCLUSIVO – Incêndio em gabinete do comandante dos bombeiros do Pará “foi intencional”, diz laudo

Um incêndio, ocorrido na madrugada de 9 para 10 de dezembro de 2024, destruiu o gabinete do Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, em Belém, e expôs um cenário de irregularidades que agora está sob investigação. Segundo o laudo técnico da Polícia Científica obtido com exclusividade pelo Ver-o-Fato, o fogo foi “intencionalmente provocado”.

Em onze páginas assinadas, com três laudos técnicos e inúmeras fotografias, o documento aponta que o incêndio teve características de “ação externa deliberada”. Exames realizados no local indicaram a presença de “múltiplos focos de fogo, com vestígios de agentes acelerantes como álcool a 70%” – que, segundo a Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) da Prolink Química da J. Férres, pode gerar água quando em combustão.

Além disso, foram encontradas marcas de fluido escorrido e manchas que sugerem o uso de álcool etílico como catalisador, especialmente na almofada sob a mesa principal e no piso da sala. Apesar disso, os peritos descartaram hipóteses como descarga atmosférica, combustão espontânea ou falhas elétricas, classificando o incêndio como “provocado por ação humana intencional”.

Gastos incompatíveis

O anexo destruído pelo fogo, segundo fontes, abrigaria documentos que detalhavam despesas milionárias do Comando Geral, muitas delas incompatíveis com as funções do órgão. Entre os gastos estariam compras de joalheria e bebidas alcoólicas, que teriam sido usadas em ações de defesa civil, principalmente em operações humanitárias. Cópia do extrato dessa movimentação foi enviada ao Ver-o-Fato juntamente com os laudos do incêndio.

A queima desses registros, no entanto, impede uma auditoria detalhada, dificultando a comprovação de como o dinheiro público foi realmente utilizado.

A investigação também revelou que o ambiente do gabinete contribuía para a propagação do fogo. A sala continha materiais inflamáveis, como papéis e móveis de madeira, e não havia fontes externas de ignição que justificassem o início das chamas. A presença de vestígios de combustão sob a mesa principal e no piso reforça a tese de que o incêndio “foi planejado para atingir áreas específicas onde os documentos estavam armazenados”.

O caso expõe uma crise de transparência no Corpo de Bombeiros Militar do Pará e coloca o comando da corporação sob pressão. Enquanto as chamas consumiram papéis que poderiam esclarecer os gastos, elas também acenderam um debate urgente sobre a necessidade de maior rigor na fiscalização de recursos públicos.

As autoridades agora enfrentam o desafio de reconstruir o que foi perdido – não apenas em termos materiais, mas também na confiança da população. O laudo é claro: o incêndio não foi um acidente. Resta saber quem ateou o fogo e o que, de fato, se queria esconder nas cinzas.

Sindicância

O Comando-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Pará (CBMPA) e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil abriram uma sindicância para investigar o incêndio intencional relatado nos laudos. A medida, formalizada pela Portaria nº 451, de 13 de dezembro de 2024, assinada pelo próprio comandante-geral, coronel Jayme de Aviz Benjó, que também é o chefe da Defesa Civil no estado..

A portaria determina a instauração de uma sindicância para esclarecer os fatos, com base em legislações como a Constituição Federal de 1988, a Lei nº 5.251/1985 (Estatuto dos Militares do Pará), a Lei nº 5.731/1992 (Código Penal Militar), a Lei nº 9.161/2021 e o Decreto nº 2.131/2022.

A sindicância é conduzida pelo coronel Moisés Tavares, designado como encarregado, e terá um prazo de 15 dias para concluir os trabalhos, a contar da publicação da portaria no Boletim Gera.

O Ver-o-Fato entrou em contato com o comando dos bombeiros e enviou por e-mail algumas perguntas ao comandante, coronel Jayme de Aviz Benjó, sobre o laudo da Polícia Científica e a sindicância aberta para apurar o caso. A resposta foi curta: “Bom dia. O Corpo de Bombeiros Militar informa que o caso é apurado em segredo de justiça”. O espaço continua aberto aos esclarecimentos.

DOCUMENTOS E LAUDOS

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