Panamá vai permitir militares dos EUA em áreas adjacentes ao Canal

(9 abr) O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, observa o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, assinar um acordo bilateral, na Cidade do PanamáFranco BRANA

Franco BRANA

O Panamá vai permitir a presença de tropas dos Estados Unidos em áreas de acesso e adjacentes ao canal interoceânico, segundo um acordo bilateral divulgado nesta quinta-feira pelo governo panamenho.

A presença de tropas americanas no Panamá é um tema sensível no país centro-americano, pois evoca a época em que os Estados Unidos possuíam um enclave com bases militares, antes de entregarem o Canal aos panamenhos, em dezembro de 1999.

Militares e contratistas dos Estados Unidos “poderão usar as instalações e áreas autorizadas para treinamento, exercícios” e outras atividades, indica o texto, assinado pelo chefe do Pentágono, Pete Hegseth, e o ministro da Segurança do Panamá, Frank Ábrego.

Desde que voltou ao poder, o presidente Donald Trump ameaça “recuperar” o Canal do Panamá, construído pelos Estados Unidos. O republicano alega que a via está sob a influência da China.

O acordo de segurança inclui fotografias dos locais autorizados, que incluem duas bases aeronavais e um aeroporto localizados em áreas onde estiveram antes os militares americanos, no chamado enclave da Zona do Canal.

O acordo terá uma duração de três anos prorrogáveis. Ele determina que as instalações serão de propriedade do Estado panamenho e de “uso conjunto” pelas forças de segurança dos dois países para enfrentar “os desafios de segurança compartilhados”.

– ‘Inaceitável’ –

Pete Hegseth havia dito ontem que os exercícios conjuntos de defesa conduzidos regularmente pelos dois países são “uma oportunidade de reviver” uma “base militar” onde operem “tropas americanas”, o que gerou mal-estar no país.

Em visita a Lima, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, disse hoje que negou um pedido de Hegseth para incluir termos como “bases militares” e “cessão de território” no acordo de cooperação: “Retiramos os conceitos de presença militar permanente, de bases militares, de cessão de território, porque isso sim é inaceitável.”

Em entrevista à rádio Arca-Media, o chanceler Javier Martínez-Acha afirmou hoje que o acordo é temporário. “É absolutamente falso que tenhamos cedido a soberania. O que o acordo busca é uma cooperação mais ampla em matéria de defesa para o Canal em caso de ameaças tangíveis.”

O Panamá proíbe por lei o estabelecimento de bases militares, e desmantelou o Exército após a invasão dos Estados Unidos, em 1989, para capturar o ex-ditador Manuel Antonio Noriega, acusado de tráfico de drogas.

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