Rede Sustentabilidade realiza congresso para definir novos dirigentes

Ameaçado de desaparecer, por cláusula de barreira, partido está rachado em fratricida disputa de poder

Brasília – Não bastasse o obstáculo (cláusula de barreira) que lhe ameaça a própria existência, a briga fratricida entre as ex-senadoras Marina Silva, atual deputada federal licenciada eleita por São Paulo, após virar as costas ao domicílio eleitoral original, o Acre, exercendo o cargo de ministra do Meio Ambiente, e Heloísa Helena, do estado de Alagoas, duas das mais destacadas lideranças do Rede Sustentabilidade; tenta juntar os cacos neste final de semana em Congresso para definir seu futuro político.

O evento começou com uma disputa judicial travada entre Helena e Silva sobre a realização do congresso iniciado na sexta-feira (11) e que se encerra no domingo (13). Desde 2022, as duas lideranças se tornaram adversárias, desde então irreconciliáveis.

No domingo, a partir das 9h00, começa a eleição da direção da legenda. Quem dá as cartas atualmente é Heloísa Helena, que, junto com Wesley Diógenes, são os porta-vozes da sigla — equivalente ao cargo de presidente. O mandato dos dois está previsto para terminar em maio.

A ex-senadora alagoana apoia o coordenador de comunicação da Rede e secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac para sucedê-la. Marina, por sua vez, pretende retomar o comando do partido e defende que o próximo porta-voz seja o coordenador nacional da legenda Giovanni Mockus.

Fundadoras da Rede, Marina e Heloísa romperam na eleição de 2022 por divergências em relação ao apoio ao presidente da República, Luiz Inácio Lula Silva (PT), que na época tentava o terceiro mandato no Palácio do Planalto. Ambas já foram filiadas ao PT, mas deixaram o partido por discordâncias com a sigla petista e mantinham, até aquele ano, distância do mandatário.

A atual ministra do Meio Ambiente se reaproximou de Lula, ao endossar a recondução dele à Presidência. Heloísa apoiava o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que tinha João Santana como seu marqueteiro e atuou na mesma função para a então candidata Dilma Rousseff (PT)—, ele foi responsável por uma campanha de difamação contra Marina na corrida presidencial de 2014, que Marina chegou, a certa altura, a liderar nas pesquisas. Essa aliança do pedetista com o marqueteiro fez a ambientalista se afastar do palanque do até então aliado.

Desde essa eleição, a relação entre Heloísa e Marina nunca mais foi a mesma. O rompimento se intensificou com o aceite da ambientalista ao convite de Lula para que assumisse o Ministério do Meio Ambiente.

As rusgas entre as duas ficaram ainda mais claras com as acusações e ações judiciais no último mês, em torno da escolha dos novos porta-vozes da Rede. A ala de Marina acusou a de Heloísa de ter fraudado a escolha dos delegados estaduais do partido que vão participar da eleição deste fim de semana.

O congresso foi suspenso por uma liminar da Justiça. A decisão, porém, foi revertida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios na própria sexta-feira, permitindo a realização do evento.

Para contornar o ambiente beligerante entre Marina e Heloísa, integrantes da Rede cogitaram lançar o deputado federal Túlio Gadelha (PE), mais conhecido porque é namorado da jornalista Fátima Bernardes, como uma terceira via para o comando do partido. Mas a possibilidade foi descartada em seguida, e hoje, o parlamentar — o único da sigla com mandato no Congresso Nacional — tem atuado como uma espécie de bombeiro para apaziguar a “guerra” entre a ministra e a ex-senadora.

De acordo com fontes ligadas à sigla, a expectativa é que Heloísa Helena saia vitoriosa do encontro partidário e eleja Paulo Lamac para sua sucessão. Contudo, a ala ligada a Marina deve contestar o resultado na Justiça. Já existe um precedente para isso.

O desembargador Fábio Eduardo Marques, ao decidir pela realização do Congresso, determinou que os votos dos delegados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul sejam contados sub judice. Nos dois Estados foram feitas acusações de manipulação da eleição dos delegados por parte do grupo de Heloísa.

Nas redes sociais, a ex-senadora comemorou que a decisão da Justiça a favor do congresso acontecer e compartilhou fotos com os dizeres “não vai ter golpe”.

Em nota, a comissão eleitoral do Rede, ligada à Heloísa, disse que as “tentativas judiciais de ‘virada no tapetão’ foram desmanteladas uma a uma” e lamentou o “uso reiterado e desproporcional da judicialização como estratégia de tumulto e de contestação vazia das decisões democráticas tomadas no âmbito interno do partido”.

A assessoria da ministra Marina Silva disse que ela optou por não comparecer ao congresso do partido.

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