A inteligência artificial está transformando a maneira como imaginamos o passado, e uma de suas reconstruções mais fascinantes envolve uma das figuras mais conhecidas da história: Jesus Cristo. Recentemente, ferramentas de IA foram usadas para recriar uma possível representação realista de sua aparência, e o resultado gerou tanto curiosidade quanto discussões. Mas essa não é a primeira vez que a tecnologia causa polêmica ao tentar definir padrões humanos.
Plataformas de IA já foram desafiadas a criar retratos do “homem e da mulher perfeitos”, além de imagens que representariam o rosto médio dos habitantes de cada estado do Brasil. Esses experimentos, porém, nem sempre foram bem recebidos. Alguns criticaram os resultados por reforçarem estereótipos ou simplesmente por parecerem estranhos demais.
No caso de Jesus, a polêmica ganhou um novo capítulo quando o Daily Express, um site britânico, usou o Midjourney — um programa de inteligência artificial — para processar uma imagem baseada no Sudário de Turim, um dos artefatos religiosos mais estudados do mundo.
Imagens digitalmente processadas do Sudário de Turim revelam uma impressão do rosto mais nítida.
O Sudário de Turim é um tecido de linho que, segundo a tradição, teria envolvido o corpo de Jesus após sua crucificação, ocorrida em 3 de abril do ano 33 d.C. Guardado desde 1578 na Capela Real da Catedral de São João Batista, em Turim, na Itália, o tecido exibe marcas que lembram o contorno de um homem, incluindo uma face desfocada. Ao longo dos séculos, cientistas e teólogos debateram sua autenticidade, mas isso não impediu que a IA usasse essas impressões como base para gerar uma reconstrução moderna.
A imagem produzida pelo Midjourney mostra um homem de cabelos castanhos escuros, que chegam pouco abaixo dos ombros, com barba e bigode bem definidos. A representação coincide com as pinturas tradicionais de Jesus, difundidas principalmente pela arte europeia. Porém, detalhes como cortes no rosto e no corpo chamaram a atenção, sugerindo feridas associadas à crucificação. Apesar do realismo, historiadores apontam inconsistências.
A principal crítica está relacionada à tonalidade da pele. Para a Dra. Meredith Warren, especialista em estudos bíblicos da Universidade de Sheffield, a IA falhou em retratar a pigmentação mais escura, típica de alguém nascido no Oriente Médio há dois milênios. “Jesus teria a pele morena, olhos castanhos e características semelhantes às da população local da Judeia”, explica. Além disso, ela ressalta que, por ter vivido até pouco antes dos 40 anos e realizado atividades ao ar livre — como caminhadas longas e trabalho manual —, seu rosto provavelmente apresentaria marcas de expressão e exposição solar, enquanto suas mãos e pés teriam calos, algo ausente na imagem gerada por IA.
Imagem realista de Cristo criada pelo Midjourney com base no sudário (Daily Express/Midjourney)
Outro ponto questionado é a estrutura física. A dieta da época, baseada em grãos, legumes e pouca carne, combinada com um estilo de vida nômade, sugere que Jesus tinha uma constituição mais magra e musculatura definida, porém não exatamente robusta. Já a altura média dos homens na região, naquela época, girava em torno de 1,60 metro, segundo estudos arqueológicos — um detalhe que a reconstrução digital não explora.
Apesar das críticas, o experimento com o Sudário de Turim mostra como a tecnologia pode reacender debates históricos. Enquanto alguns veem na IA uma ferramenta para desvendar mistérios antigos, outros alertam para o risco de reproduzir visões estereotipadas, desconectadas de contextos culturais e científicos. A verdade é que, independentemente da precisão, essas reconstruções digitais continuam a fascinar por misturar fé, história e inovação de um modo que poucos temas conseguem.
Esse IA revela a face ‘real’ de Jesus Cristo com base no Sudário de Turim foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.
