Ataques matam mais de cem em acampamentos no Sudão às vésperas de aniversário da guerra civil

Pelo terceiro dia consecutivo, ataques violentos atingiram acampamentos de deslocados internos na região de Darfur, no oeste do Sudão. Segundo moradores ouvidos pela rede BBC, a situação nos campos de Zamzam e Abu Shouk é “extremamente catastrófica”. Os bombardeios coincidem com a aproximação do segundo aniversário da guerra civil entre Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

Mais de cem civis morreram, incluindo ao menos 20 crianças e membros de uma equipe médica, segundo dados confirmados pela ONU. O ataque, descrito por testemunhas como o mais intenso desde a escalada dos combates em El-Fasher, atingiu também estruturas de saúde, cozinhas comunitárias e áreas residenciais dentro dos campos, que abrigam mais de 700 mil pessoas em situação de fome extrema.

A coordenadora humanitária da ONU para o Sudão, Clementine Nkweta-Salami, declarou estar “horrorizada e profundamente alarmada”. Em nota, afirmou: “Isso representa mais uma escalada mortal e inaceitável em uma série de ataques brutais contra pessoas deslocadas e trabalhadores humanitários”.

Durante protesto, cidadão segura a bandeira do Sudão (Foto: Salah Naser/ONU News)

A organização humanitária Relief International confirmou que nove de seus profissionais foram mortos “sem piedade” em Zamzam, incluindo médicos, motoristas de ambulância e um líder de equipe. “Estamos horrorizados que uma de nossas clínicas também tenha sido parte desse ataque – junto com outras instalações de saúde em El-Fasher”, informou a instituição, que era a última fornecedora de serviços médicos essenciais no local.

De dentro do campo, Mustafa, um morador de 34 anos que trabalhava em uma cozinha comunitária, relatou em mensagem de áudio como foi o ataque. “Aqueles que estavam trabalhando na cozinha comunitária foram mortos, e os médicos que participavam da iniciativa de reabrir o hospital também foram mortos. Meu tio e meu primo foram mortos. As pessoas estão feridas e não há remédio ou hospital para salvá-las – estão morrendo por hemorragia”, disse ele

Outro morador, Wasir, descreveu a desvatação. “Nada sobrou em Zamzam. Um grande número de civis fugiu, e ainda estamos tentando sair, mas não conseguimos. Todas as estradas estão bloqueadas e estamos com crianças. A morte está em toda parte. Enquanto falo com você de dentro de uma trincheira, há bombardeios acontecendo.”

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tinha originalmente entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan liderava um efetivo de cerca de 200 mil no início do conflito.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

A terrível situação gera uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.

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