Operação em 7 estados iniciou após adolescente transmitir incêndio a morador de rua na plataforma Discord
Uma mobilização nacional para desarticular uma das maiores organizações criminosas do país voltadas à prática de crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes resultou na prisão de um homem e na apreensão de um menor de idade em Criciúma, no Litoral Sul de Santa Catarina. A Operação Adolescência Segura foi deflagrada nessa terça-feira (16) pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ).
Ao todo, foram dois homens presos e sete adolescentes apreendidos no cumprimento dos mandados nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul. Também houve o cumprimento de 20 mandados de busca e apreensão.
A ação é resultado de uma investigação acerca de uma rede criminosa altamente estruturada, responsável por diversos crimes de ódio em fóruns da internet e redes sociais como Discord e Telegram, entre eles:
- Tentativa de homicídio
- Induzimento e instigação ao suicídio
- Incentivo à automutilação
- Armazenamento e divulgação de pornografia infantil
- Maus-tratos a animais
- Apologia ao nazismo
Morador de rua incendiado
De acordo com a PCERJ, as investigações iniciaram no último dia 18 de fevereiro, quando um adolescente de 17 anos foi detido na Zona Oeste do Rio por arremessar dois coquetéis molotov contra um morador de rua, que teve 70% do corpo queimado. O crime bárbaro foi filmado e transmitido ao vivo no Discord por um segundo homem.
O adolescente foi denunciado pela própria família, após a família o reconhecer ao ver as imagens. O jovem teve o celular apreendido e, durante perícia, policiais encontraram arquivos de abuso sexual infantil.
Caso não é isolado, afirma Polícia
Após o caso, a Polícia Civil do Rio aprofundou as investigações com trabalhos de inteligência, monitoramento e cruzamento de dados. Policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) descobriram que o crime não se tratava de um fato isolado. Os administradores do servidor do Discord utilizado no crime compunham uma verdadeira organização criminosa altamente especializada em diversos crimes cibernéticos, tendo como principais alvos, crianças e adolescentes.
“A atuação do grupo é tão significativa no cenário virtual que mereceu a atenção de duas agências independentes dos Estados Unidos, que emitiram relatórios sobre os fatos, contribuindo com o trabalho dos policiais civis envolvidos no caso”, explica a PCERJ. A Operação Adolescência Segura contou com o apoio de policiais civis dos sete estados envolvidos e do CyberLab da Secretaria Nacional de Segurança.
As investigações revelaram uma atuação criminosa que se espalhava por diferentes plataformas digitais, utilizando mecanismos de manipulação psicológica e aliciamento de vítimas em idade escolar, em um cenário de extremo risco à integridade física e mental de crianças e adolescentes.
O que é o Discord
O Discord é uma plataforma de comunicação bastante popular entre adolescentes, especialmente no universo dos games. No entanto, por permitir a criação de servidores privados, anonimato e pouca moderação em alguns espaços, ele tem sido utilizado por grupos de jovens para planejar e executar crimes virtuais e até atos violentos no mundo real.
Diversos casos recentes mostram que adolescentes têm usado o Discord para compartilhar conteúdos ilegais, como apologia à violência, discursos de ódio, e até o planejamento de ataques a escolas. A plataforma também tem sido espaço para a formação de comunidades extremistas, nas quais adolescentes são cooptados por ideologias violentas, neonazistas ou misóginas.
A facilidade de acesso, a linguagem informal e a sensação de impunidade favorecem o uso do Discord como ambiente para a radicalização e a prática de crimes digitais por menores de idade, levantando alertas para pais, escolas e autoridades.
Adolescentes são internados em operação do GAECO contra grupos extremistas na internet
Investigados utilizam fóruns e redes sociais para atrair menores e radicalizá-los por meio da exposição a conteúdos extremos
Dois menores de idade foram alvo de internação provisória a pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que deflagrou no último sábado (12) uma operação para desarticular um grupo investigado por promover discursos de ódio, exposição a conteúdos extremos e incentivo ao extremismo e à violência na internet. As medidas cautelares foram requeridas pela Promotoria de Justiça da Infância da Comarca do Vale do Itajaí.
