Alunos que tiveram dedo furado com agulha compartilhada em escola do ES repetem exames 30 dias depois


Mais de 30 alunos realizaram testes rápidos para HIV, sífilis e hepatite B e C. Caso aconteceu durante aula de química em escola estadual de Laranja da Terra, Região Serrana do Espírito Santo. Alunos que tiveram dedo furado por mesmo objeto pontiagudo realizam novos testes
Um mês depois, os mais de 40 alunos que tiveram o dedo furado pelo professor com o mesmo objeto pontiagudo em uma escola estadual de Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, repetiram exames na manhã desta quarta-feira (16). Os testes para HIV, sífilis e hepatite B e C foram realizados dentro da própria escola e todos os resultados deram negativo.
Uma mãe fez um vídeo (veja no início da reportagem) que mostra quatro testes em cima da mesa.
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O professor de química que realizou a aula foi demitido. Mas os pais dos estudantes pedem responsabilização também de toda a equipe pedagógica que permitiu o experimento.
A Secretaria Estadual de Educação (Sedu) informou que 37 dos 44 alunos realizaram os procedimentos. Os demais não estavam acompanhados dos responsáveis e não puderam ser testados. Os estudantes foram orientados a procurar o serviço de saúde para testagem.
Professor usa mesma agulha para furar dedos de mais de 40 alunos em escola
A Polícia Civil, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), a Secretaria Estadual e Municipal de Saúde e de Educação acompanham o caso.
A prefeitura do município disse que aguarda um posicionamento oficial da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) para aplicar a vacina contra hepatite B nesses alunos.
O nome do professor não está sendo divulgado para preservar a identidade dos alunos, que são menores de idade, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O g1 procurou a defesa do docente para um novo posicionamento, mas não teve nenhum retorno até a última atualização desta reportagem. Na ocasião, o advogado do professor disse que o cliente havia se cercado de todos os cuidados necessários para evitar riscos.
Testados no início do dia
Alunos que tiveram dedo furado por mesmo objeto pontiagudo durante aula em Laranja da Terra, no Espírito Santo, fizeram novos exames
Reprodução/TV Gazeta
Os pais dos alunos que têm entre 16 e 17 anos e estudam nas turmas de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio receberam um bilhete uma semana antes pedindo a autorização para que os filhos realizassem a testagem e uma consulta médica.
O papel informava a necessidade de acompanhar o estudante durante a realização do procedimento.
Nesta quarta-feira (16), uma mãe, que preferiu não ser identificada, reclamou da falta de apoio psicológico para os jovens envolvidos.
“Pra mim um teste que é válido é o teste da análise do sangue em laboratório. Pra mim, esse é um teste considerado seguro. A gente espera receber esse tipo de exame para os nossos filhos, e também que eles deem assistência psicológica. Porque eu conheço famílias, pais, que entraram em depressão. A gente sabe que mesmo uma pessoa pode estar infectada há 30 dias e o imunológico da pessoa pode não demonstrar isso em exame. Isso causa uma angústia muito grande. Qual é a certeza que eu tenho sobre o estado de saúde do meu filho?” contou.
Após o caso na aula de química, os pais questionaram a falta de acompanhamento do corpo estudantil com as atividades que são realizadas na sala de aula.
“Ficou bem claro que eles não acompanham o planejamento de aula, sequência didática. Se não, isso não teria acontecido”, pontuou a mãe.
Bilhete enviado por escola em Laranja da Terra, Espírito Santo, avisava sobre novos testes que seriam realizados na unidade
Reprodução/TV Gazeta
Acompanhamentos
A Secretaria de Educação Estadual (Sedu) reforçou que vem adotando várias medidas de acompanhamento aos estudantes, entre elas estão reuniões com pais e alunos, atendimentos individualizados às famílias, análise das cadernetas de vacinação, atividades de escuta e acolhimento psicológico, palestras educativas e visitas institucionais.
Sobre o professor, a Sedu esclareceu que o contrato foi encerrado e o caso encaminhado à corregedoria da secretaria, para apuração dos fatos conforme os procedimentos legais e administrativos cabíveis.
O processo segue em andamento e tramita sob sigilo, conforme determina a legislação vigente.
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) informou que enviou, ao município de Laranja da Terra, os testes rápidos para o diagnóstico de infecções por HIV, Sífilis, Hepatite B e Hepatite C. Além de orientar as equipes de saúde do município sobre os protocolos do Ministério da Saúde.
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A Sesa relatou que monitora e acompanha o caso, em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde, visando ao atendimento adequado aos adolescentes.
A Prefeitura de Laranja da Terra informou que acompanha o caso de perto e vai tomar todas as medidas necessárias, dentro dos protocolos estabelecidos, para garantir a proteção e o cuidado das crianças e adolescentes envolvidos.
A administração disse ainda que possui das vacinas contra hepatite B nas salas de vacina da cidade, mas que aguarda um posicionamento oficial da Secretaria Estadual de Saúde.
O órgão deverá emitir uma justificativa técnica formal para a aplicação da vacina por ser uma situação atípica que exige respaldo específico dos órgãos de controle e vigilância epidemiológica.
A Polícia Civil disse que o caso segue sob investigação da Delegacia de Polícia (DP) de Laranja da Terra. Um inquérito policial foi aberto e a unidade está realizando oitivas de todos os envolvidos no caso. Outros detalhes da investigação não serão divulgados, no momento.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça de Laranja da Terra, informa que segue acompanhando o caso junto às investigações da Polícia Civil e aguarda a conclusão do inquérito policial para análise e adoção das providências necessárias. Mais informações não podem ser divulgadas no momento, pois o caso está sob sigilo.
Relembre o caso
Entre os dias 7 e 14 de março, 44 alunos de quatro turmas passaram por uma atividade durante uma aula de química em que o professor furou o dedo dos jovens com o mesmo objeto pontiagudo.
Um vídeo feito por um dos alunos mostra uma estudante segurando as mãos e o dedo indicador separado para ser furado.
A Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu) informou que o objeto utilizado era uma lanceta, uma lâmina ou agulha fina estéril e de uso único, normalmente inserida em uma caneta para perfurar a pele e obter uma amostra de sangue.
A advogado de defesa do professor, Enoc Joaquim da Silva, disse que a aula prática era para a visualização de células em microscópio e que o professor tinha se cercado de todos os cuidados necessários (de acordo com os materiais que tinha a sua disposição) para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos.
Uma aluna de 16 anos que participou de uma das aulas disse que os estudantes aceitaram participar do experimento porque confiavam no professor.
“A gente pensou: ‘ele é professor, ele sabe o que está fazendo’. Mas depois uma outra professora começou a explicar a situação falando que ele tinha errado e ela foi dando as orientações. Todo mundo ficou assim, bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, foi difícil controlar todo mundo”, contou.
Logo após o caso, os alunos passaram por uma série de exames. Infectologistas destacaram que esses procedimentos precisam ser repetidos em 30, 60 e até 90 dias para observar se alguma doença vai se manifestar.
De acordo com a médica infectologista Ana Carolina D’Ettores, o compartilhamento de agulhas é um comportamento de alto risco que pode expor os pacientes a doenças potencialmente graves como a Aids/HIV, hepatite C, hepatite B, além de infecções bacterianas.
“O recomendado é sempre que não se reutilize nem no próprio paciente a mesma agulha. Toda agulha que é utilizada por qualquer pessoa deve ser descartada após o uso. E claro, antes de utilizar a área que terá o contato com a agulha precisa ser higienizada e descartada de forma coleta, para o tip de lixo específico apenas para material biológico”, destacou a médica.
Mais de 40 alunos tiveram dedos furados por professor com objeto pontiagudo não descartável durante aula de química no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
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